Amorim quer minimizar comentário sobre nazista na OMC
da Folha Online
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O Brasil tentou minimizar os comentários do ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) na OMC (Organização Mundial do Comércio) que comparou a negociação dos países ricos sobre a rodada Doha com a propaganda nazista.
Neste sábado (19), o ministro citou o chefe de propaganda da Alemanha nazista, Joseph Goebbels, que dizia que uma mentira contada muitas vezes acaba sendo aceita como verdade.
A chefe de comércio dos Estados Unidos, Susan Schwab --descendente de sobreviventes do holocausto--, rebateu as afirmações do brasileiro. "Estamos todos aqui para negociar de forma efetiva e esse tipo de comentário maldoso não tem lugar nessas negociações", disse o porta-voz Sean Spicer neste domingo (20).
Neste domingo, o próprio Amorim pediu desculpas pela declaração, mas ressaltou sua idéia ao citar o nazista. "Se ofendi alguém, eu lamento, não foi minha intenção. Mas mantenho: repetir uma distorção faz com que as pessoas acreditem que ela é a verdade", disse.
Rodada Doha
Amorim falou ontem, ao fim de uma série de reuniões preparatórias para o encontro que começa hoje na OMC e é considerado a última cartada para salvar a Rodada Doha.
A partir desta segunda, ministros de mais de 30 países tentarão finalizar as bases para um acordo da Rodada Doha, que já dura sete anos e tem o objetivo de estabelecer trocas livres entre os países.
Segundo o porta-voz de Amorim, Ricardo Neiva, citado pela Reuters, o ministro lamenta que Schwab ou qualquer outra pessoa tenha se ofendido com os seus comentários.
Neiva ressaltou que o Brasil contesta os argumentos dos EUA e da União Européia, que afirmam ter feito ofertas generosas no comércio de produtos agrícolas, enquanto os países em desenvolvimento fizeram muito pouco para abrir seus mercados para produtos manufaturados.
"O ministro Amorim foi suficientemente cuidadoso para desqualificar o autor da frase. Sua única intenção era destacar que, algumas vezes, falsas versões repetidas com frequência podem sobrepor-se aos fatos, e a propaganda pode suplantar a verdade", afirmou Neiva.
Agricultura
Após a declaração, no sábado, Amorim afirmou que líderes desses países se baseiam em fórmulas diferentes de redução de alíquotas ao se referir às negociações, o que daria a entender que as concessões que poderão fazer em agricultura são muito maiores que as que os países em desenvolvimento estão dispostos a aceitar no capítulo industrial.
"Essa é uma afirmação sob medida para aqueles que não querem fazer sua parte em agricultura", disse, às vésperas de uma reunião entre os ministros da Organização Mundial do Comércio (OMC) considerada decisiva para a rodada.
O chefe da diplomacia brasileira classificou de "mito" a crença de que a questão agrícola já está fechada e que a OMC só está à espera de que os países do Sul demonstrem sua boa vontade em relação aos produtos industrializados para que se alcance o acordo esperado. "Ainda resta muito a fazer na agricultura", ressaltou.
Segundo Amorim, a proposta para agricultura acabou incorporando todo tipo de exceção e privilégio para acomodar as alegadas dificuldades dos países desenvolvidos. "O texto sobre agricultura foi escrito com a idéia de obter mais flexibilidades para os países ricos (protegerem seu mercado). Já o sobre indústria foi escrito com a idéia de obter acesso máximo ao mercado dos países em desenvolvimento."
Amorim destacou que a proposta atual limita os subsídios para os agricultores dos Estados Unidos a US$ 13 bilhões, o dobro dos US$ 7 bilhões que o país concede atualmente.
Já o Brasil cortaria em 30% as tarifas mais altas que hoje incidem sobre a importação de bens industriais, mesmo se o país decidisse proteger alguns produtos (com as flexibilidades que permitem aos países em desenvolvimento limitar os recortes).
Com agências internacionais
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