sexta-feira, 11 de julho de 2008

Na Mira do Belmiro

Educação versus barbárie

Dois fatos desta semana chamam a atenção para os dramas que atormentam o cotidiano do país e representam seu maior desafio: a escalada da violência em todos os níveis e quadrantes da vida nacional e o reconhecimento do baixo nível da educação nas escolas brasileiras por seu respectivo ministro. Fatos intrisincamente relacionados cuja solução deve ser analisada e promovida de imediato e simultaneamente, caso almejemos integrar o mundo das nações civilizadas. O primeiro foi o assassinato frio e medonho de uma criança de três anos pela Policia Militar do Rio de Janeiro, mais um, ocorrido no último domingo à noite, cercado de horror e dramaticidade. O outro foi a entrevista do ministro Fernando Haddad a uma emissora de rádio, em que ele reconhece a precariedade do ensino no Brasil e revela algumas providências em andamento.
Numa confirmação do despreparo e da absoluta falta de respeito à vida humana, policiais metralharam e mataram João Roberto Amorim Soares, uma criança de três anos que passava com sua mãe e um irmão menor numa via pública e foram confundidos com assaltantes que acabavam de roubar um carro no bairro da Tijuca. A mãe disse à imprensa que os policiais atiraram no carro que ela dirigia, mesmo depois que encostou o veiculo na calçada. Um verdadeiro crime com dolo, sem chance de defesa. O governador tratou de responsabilizar os autores, chamou-os de débeis mentais, mas não assumiu que seus comandantes aboliram o treinamento dos soldados – por uma questão operacional - antes que estes saíssem às ruas. E determinou as medidas de praxe, depois que o leite da vida humana se espalha pelo chão da negligência pública.
Nos Estados brasileiros o investimento em educação é escandalosamente menor do que é gasto no sistema penitenciário. O Estado de Minas, por exemplo, gasta em média, R$ 1.700,00 por presidiário e, pouco mais de R$ 149,00, com cada aluno da rede básica de ensino. Um presidiário custa 11 vezes mais do que um aluno da rede pública, uma proporção muito parecida com que gasta o Amazonas e o Paraná, entre outros. Por isso, apesar de termos 94,5% dos alunos de 7 a 14 anos na rede pública de educação, o Brasil está atrás de Bolívia, Paraguai e Equador na qualidade do ensino. Com essa política educacional vamos – com absoluta certeza - gastar cada vez mais com presídios, muito mais do que hoje, quando o Estado financia o sustento do presidiário a um custo equivalente ao aluguel mensal de um flat de luxo no Hotel Tropical Business na Praia da Ponta Negra.
Na entrevista citada, o ministro Haddad, da Educação reconheceu o baixíssimo nível da Escola Pública no Brasil e exaltou o fim da DRU, a Desvinculação das Receitas da União, ocorrida no início do mês, que desviou nos últimos anos para outras finalidades aproximadamente R$ 100 bilhões destinados à Educação. Acredite se quiser! Comemorou a aprovação do piso nacional do magistério para R$ 950 e aprovação da expansão da rede federal de educação superior, dobrando o número de vagas nas universidades federais e nas escolas técnicas. Onde estavam nossos governantes que demoraram uma eternidade para começar a enfrentar tão grave dilema? O que fazia a classe política que não priorizou essa obviedade nas agendas de suas ações de primeira grandeza e urgência? Quantas vidas ainda deverão ser ceifadas para a percepção de que o assassino, ladrão ou traficante de hoje é aquele menino que não achou vaga na rede pública e se achou freqüentou a precariedade e o descaso como principal ferramenta pedagógica em sala de aula. Não dá mais para dourar a pílula deste desafio nacional. Ou a prioridade é a Educação ou iremos banalizar a barbárie. É isso que revelam os fatos...

Zoom-zoom

Santa Casa - É estarrecedora a revelação do número real de mortes de recém-nascidos na Santa Casa de Belém do Pará. Morreram 63 bebês na instituição desde junho, 54 no mês passado e nove até o último dia 7. A governadora Ana Júlia Carepa, do PT, disse em nota que morreram 253 dos 1.710 bebês internados na Santa Casa de janeiro a junho deste ano. Em 2007, segundo o governo, o número foi 20% maior.
Caos na saúde – Com um quadro grave como este na capital, dá para imaginar a tragédia nos municípios interioranos do Estado vizinho, onde 30 municípios simplesmente não têm médicos e apenas uma, em três mulheres, faz o pré-natal pelo Sistema Único de Saúde. No Amazonas o quadro não era muito diferente mas os investimentos cada vez mais substantivos alteraram significativamente o cenário.
Modelo indiano – Deu certo na Índia, onde os índices de violência reduziram significativamente, e tem tudo para dar certo no Brasil. A idéia é simples e consiste em aproximar polícia e comunidade, por meio de Conselhos Comunitários. Este é o ponto de partida do curso que vai reunir policiais e comunitários para participar do Curso Nacional de Promotor de Polícia Comunitária, que iniciou esta semana na sede da Academia de Policia Civil do Amazonas (Acadepol), na Cidade Nova, Zona Norte de Manaus.
Bogotá paz e amor – Iniciativa semelhante foi levada a efeito em Bogotá, capital da Colômbia, que dispunha da periferia mais violenta do mundo. Lá, com decisivo e prioritário empenho da comunidade, que praticamente assumiu a direção do sistema de segurança, lazer, recreação e ensino, as taxas de violência baixaram para próximo de zero. A fórmula é simples e a vontade política, também... Eis um tema de debate essencial para os candidatos a prefeito de Manaus. Durante a temporada eleitoral estaremos pontuando algumas das emergências urbanas de nossa querida e sofrida Manaus.

(*) Belmiro Vianez Filho é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.

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