Requião diz que “verdade não será cerceada por chantagem judicial”
Multado pela Justiça por fazer referência a uma matéria publicada na imprensa local, em sua participação semanal na TV Educativa, o governador do Paraná questiona: “A que servem? A serviço de quem estão?”
Após ser multado pela Justiça em mais R$200 mil, no dia 24 de junho, por ter feito referência a uma matéria publicada na Gazeta do Povo em uma de suas participações no programa Escola de Governo, da TV Educativa, o governador do Paraná, Roberto Requião, disse que “a verdade não será cerceada por chantagem judicial”. “O que querem com essas medidas? A que servem, a serviço de quem estão?”, questionou o governador. “Temos aqui um conluio das chamadas elites que dominam imprensa e a política para deixar tudo no mais absoluto silêncio”, disse. “Uso uma televisão pública para defender o interesse público. Que outro tipo de interesse eles querem que a televisão pública defenda? A Paraná Educativa não pode dizer a verdade ou defender o interesse público? Só a estrutura privada da mídia pode me atacar, dizer livremente o que quer?”, argumentou. “Acabem de uma vez com a liberdade de expressão no país, instituam um governo a partir de um serviço público (o Ministério Público) que se considera um Poder da República”, afirmou o governador, que também sofreu pedido de sequestro de suas contas bancárias pelo MP, que foi negado pela justiça.
PRESSÃO
“Não é possível que se imagine que o governador do Paraná vai se dobrar e se colocar no silêncio subserviente diante da pressão de uma procuradora do Ministério Público Federal e de alguns juízes. Os princípios da democracia e da liberdade no Brasil valem muito para que o governador ceda. Porque, se ele ceder, cederá em nome de todo o Paraná, aviltando o voto dos meus eleitores, desmoralizando a instituição do governo e a liberdade de expressão. Multem à vontade, mas o silêncio do governador não vão conseguir. Não vamos ver esse Governo se dobrando. Eu tenho um mandato a cumprir, um programa de governo em defesa do interesse público”, afirmou. Afirmando ter certeza que em algum momento o Supremo Tribunal Federal vai se manifestar, Requião disse que “o Brasil é um País, não uma republiqueta de brinquedo”. Para ele, “uma arbitrariedade como essa censura absurda não poderá prevalecer”. “É uma coação, uma ameaça continuada, uma chantagem exigindo o silêncio do governador, o que não vai ocorrer em hipótese alguma”, declarou. “Pois que se acumulem as multas, 200 mil reais, 400 mil, 600 mil, 10 milhões de reais, 20 milhões de reais. Que seqüestrem as minhas contas, onde não vão encontrar dinheiro algum”, completou Requião. A multa, de R$ 200 mil, pode ser aplicada devido à determinação do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que censura previamente o governador ao proibi-lo de fazer referência a instituições ou adversários políticos no programa veiculado pela TV pública paranaense.
CONSTITUIÇÃO
Roberto Requião já havia sido censurado e multado no início desse ano, pelo juiz Edgar Lippmann, e ficou impedido de falar na TV Educativa. A censura foi indeferida e, agora, valem as multas, ao bel prazer da Justiça, num total desrespeito à Constituição e as regras democráticas do país. Requião destacou que a censura à qual vem sendo vítima tem, na verdade, o interesse de acobertar as denúncias que faz. “Se pudessem, já tinham me posto na cadeia, não por desvio do dinheiro público, mas por denunciar o desvio do dinheiro público. Isso é uma loucura”, declarou. O governador lembrou a denuncia que fez contra o uso da Copel (Companhia Paranaense de Energia), em um processo de roubo de patrimônio público, através do recebimento de títulos frios. “Não estou falando de adversário, estou falando de roubo de 104 milhões de reais do patrimônio público”, explicou o governador. Requião chamou os diversos setores da sociedade a se manifestarem contra a censura prévia da qual é vítima desde o início do ano. “O silêncio das instituições me preocupa, porque é uma inversão dos princípios da ética e da moralidade que vivemos no país”. “Querem me calar, mas isso não é possível. Não aprendi a silenciar. Não foi essa a educação que recebi de meu pai. Não foi por isso que entrei no processo político. Entrei para dizer o que penso e brigar pelos meus ideais”, afirmou. “Uma multa de 200 mil reais, por ter feito referência a um periódico, é um absurdo total. Vão estabelecer a ditadura do silêncio no Paraná? Não tenho o direito de me calar, de me sentir ameaçado por lesão ao patrimônio. O meu patrimônio é insignificante diante do dano à democracia que essas pessoas estão proporcionando com essas medidas”, completou. Advogados contratados por Requião impetraram argüição de descumprimento de preceito fundamental no Superior Tribunal Federal (STF). O processo, distribuído à ministra Carmen Lúcia, deverá entrar na pauta nas próximas semanas.
Matéria no "HORA DO POVO"
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