quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Na Mira do Belmiro

Manaus – nos limites do escárnio
Belmiro Vianez Filho (*)

Por razões óbvias, pessoais e passionais incluídas, estamos retomando a questão urbana, vital e crucial – portanto inadiável – do Centro da cidade de Manaus. Escolhi uma, entre as diversas manifestações dos leitores, para ilustrar a relevância do tema. Vem de Brasília, de mais um amante suburbano que torce pela causa nobre e cada vez mais distante da recuperação e revitalização do Centro da nossa Manaus. “...depois de alguns anos sem visitar o centro fiquei assustado. Sempre houve camelô no Centro, mas agora a situação está fora de controle. Talvez você que está aí todo dia nem perceba, pois a coisa vai mudando aos poucos. Mas quem está fora, como eu, percebe que aconteceu uma explosão, que considero de difícil solução sem uma verdadeira batalha, guerra mesmo, no Centro. Como tirar esse povo? E o complicador maior é que se algum candidato prometer retirá-los do Centro, perde esses votos e por essa razão não vão prometer isso.Por outro lado, se disser que não vai mexer incentiva, ainda, mais a ocupação.”

Recebi, também, um pequeno relatório, chamado inadvertidamente de Projeto Centro Vivo, da Implurb, Instituto Municipal de Planejamento Urbano, com duas laudas que comentam uma pesquisa e a ela agregam um amontoado de boas intenções. O “projeto”, com algumas agressões ao vernáculo, reconhece alguns problemas, destaca as orientações do prefeito Serafim Correa para enfrentar o problema e menciona a disposição de criar os CPCs, centros de compras para agasalhar os camelôs, sem dizer quando, onde e em que dimensões serão implantados. Sem indícios de planejamento e de cronogramas são mencionadas outras intenções – todas muito vagas - como a de criar um posto de Saúde e outras ações que não conferem necessariamente com os problemas mais urgentes listados na tal pesquisa.

Ora, considerando que estamos a quatro meses do fim do mandato, se o prefeito Serafim Correa não for reeleito podemos dizer que ele foi mais um gestor que virou as costas para o caos e os escombros arquitetônicos, gerenciais e morais que tomaram conta deste depauperado resquício de nossa memória – o Centro de Manaus. A tal pesquisa sem explicitação de metodologia, alcance e abrangência, não ouviu – com absoluta certeza - as entidades do comércio, serviços e da própria indústria que ali ainda se estabelecem, nem os lojistas, os que conseguem resistir no lugar apesar das ameaças da violência, da imundície e todas as outras formas de abandono. E o saudável gesto de ouvir esses interlocutores seria a garantia de um compromisso de compartilhar o desafio, não tenho a menor dúvida.

O enfrentamento da questão do Centro não se dará por um passe de mágica, com a mudança de terminologia das repartições, mesmo que em sua nomenclatura as proposições de planejamento estratégico sugiram ao cidadão comum um toque de profissionalismo e modernidade de conduta e atitudes. Recuperar Manaus, seu glamour e história, é um desafio coletivo que exige autoridade política e determinação cívica para envolver todos os atores sociais. Iniciativas isoladas, movidas por vaidades políticas e auto-suficiência gerencial, vão chover no molhado da improvisação e do amadorismo inócuo. É preciso mobilizar os poderes constituídos, as entidades de classe - esvaziadas provavelmente pela ausência de provocações dessa natureza – os empresários e organizações não-governamentais, incluindo a Igreja Católica, guardiã privilegiada da memória, e denominações evangélicas coerentes e comprometidas com a questão. Eis uma bandeira, com certeza uma das mais importantes e emergenciais, para pautar qualquer discussão eleitoral e pós-eleitoral, e que poderá, de quebra, contribuir com o resgate da credibilidade da classe política, não é verdade?

Zoom-zoom

· Biblioteca Pública – Além da assessoria do prefeito Serafim, que enviou o “Projeto Centro Vivo”, o candidato Omar Aziz enviou, através da própria assessoria, uma nota de esclarecimento sobre o acervo da Biblioteca Pública da Rua Barroso, cujo prédio começa a ser restaurado ainda este ano. O acervo com suas preciosidades foi transferido para o Centro Cultural Povos da Amazônia, onde existe uma estrutura climatizada de conservação de peças históricas.

· Imagem dos políticos – Algo precisa ser feito pela classe política para responder aos resultados da pesquisa encomendada pela Associação dos Magistrados do Brasil, segundo a qual 85% dos políticos trabalham em beneficio próprio. E coerente com essa percepção, 78% dos eleitores escolhem seus candidatos em troca de algum beneficio. Uma reviravolta nos fundamentos filosóficos e éticos do conceito de Democracia. E um motivo de desassossego geral.

· COSAMA – Vale tudo no jogo político eleitoral, inclusive criar uma CPI para retomar com seis anos de atraso o nebuloso episódio da privatização da Companhia de Saneamento do Amazonas, que desencadeou o desastre urbano no cumprimento dessas atribuições do município. A Câmara Municipal já tentou sacudir as ervas daninhas dessa tramóia e o resultado foi nenhum. Nada sugere que uma investigação na Assembléia Estadual resulte em outra coisa.

· Centro de Biotecnologia da Amazônia – CBA Nessa sexta-feira, na sede da Suframa, mais de duzentas representantes da indústria nacional, pesquisadores, setor público e demais interessados vão reunir sob a coordenação da autarquia e do Centro e Federação das Indústrias vão debater alternativas para transformar o CBA numa grande oportunidades de bons negócios a partir da biodiversidade amazônica. Uma tentativa, mais uma, louvável e oportuna pra fazer dessa promessa uma saída de prosperidade geral.
(*) Belmiro é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.
belmirofilho@belmiros.com.br

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