Por Rui Nogueira
Governantes das diferentes instâncias, com filiações em partidos diversos, contraem empréstimos em dólares, divulgando para a população que isto é vantagem. Insinuam mesmo que é sinal de prestígio o fato do Brasil “ter crédito”.
Uma advertência: tudo nestas obras é pago com a moeda brasileira — o real. Alguém consegue contestar que, se o dólar tem que ser pedido no exterior e o real existe aqui disponível — tanto que com ele são feitos todos os pagamentos das obras —, o empréstimo em dólar é desnecessário?
Que consequências trazem os empréstimos em dólar?
São dispensáveis, inúteis. Ocasionam aumento da nossa dívida externa. Se, por exemplo, há um financiamento de 100 milhões, ele será contado no volume de investimento externo (propaganda para alimentar o sistema). Os 100 milhões vão abater ao menos os juros da dívida externa e serão somados ao valor da dívida — devidamente acrescidos de juros, taxas, comissões e tudo o mais que puderem. O único resultado final é o aumento da nossa conta com o exterior: mais dependência. Prefeitura, estado ou mesmo governo federal assumem o compromisso (responsabilidade fiscal) de, antes de qualquer coisa, pagar o serviço da dívida. Parcelas cada vez maiores do orçamento são comprometidas para seu pagamento. A renda nacional (conjunto de tudo o que o governo apura em impostos, taxas e recebimentos) — que deveria ser usada apenas para os gastos do governo (funcionários, serviços, manutenção) e investimentos (construção de escolas, estradas, portos) — tem acrescida uma parcela enorme e ininterrupta, que é a dos juros.
Pelo andar do título...
Toda a propaganda das transnacionais, ou seja, dos meios de comunicação comprometidos com os interesses do sistema financeiro internacional, volta-se para induzir o governo a cortar gastos, não conceder aumento para os funcionários, cortar investimentos; tudo que afeta pesadamente a qualidade de vida do brasileiro. Para o sistema financeiro e as organizações transnacionais isto é ótimo. Colocam o país numa gigantesca ciranda.
Supondo que um título vai vencer em poucos dias, e que chegaria ao valor da dívida, com os juros e acréscimos acordados, a 120 milhões. Para pagá-lo, o governo emite um novo título de 200 milhões de valor de face, vendido por 120 com o deságio do “mercado”. Quanto o governo vai pagar? Coisas do “Risco Brasil”. Isto vem acontecendo no sistema financeiro. Quando o governo vai pagar pelo título vencendo, compra novo título de valor de face muito mais alto e que, garantido pelo próprio governo, será pago ao vencimento vinculado a juros igualmente mais altos ou ao câmbio que, de repente, pode transformar um valor de 10 em 30: dólar a 1 real para dólar a 3 reais.
Daí decorre a criação de uma dívida desnecessária, porque envolve circulação de valores virtuais não relacionados com real produção de riquezas, benfeitorias ou melhorias da qualidade de vida dos brasileiros. Mesmo porque tudo está assentado no dólar, hoje apenas papel pintado sem lastro de ouro ou de riqueza; o aumento astronômico da dívida externa em rodadas sucessivas de juros sobre juros, cujos valores envolvidos não são efetivamente direcionados para a produção de riquezas; o aumento da dívida coloca-a nos níveis de risco de insolvência; governos comprometidos não podem manter um nível salarial digno para os trabalhadores, incluindo o dos funcionários públicos, nem conseguem fazer os investimentos necessários ao crescimento do país.
Continue a ler o excelente texto do médio Rui Nogueira, clicando no link a seguir:
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