Quebra de monopólio
Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa
As 10 da manhã de 22 de setembro, o maior cruzador do mundo, Pedro, o Grande (Pyotr Velikiy), de propulsão nuclear, acompanhado da fragata Almirante Chabanenko e de vários navios auxiliares, saiu de Severomorsk, na gélida península de Kola, com destino ao Caribe. Em novembro, essa esquadra participará de manobras conjuntas com a Marinha da Venezuela. A primeira manobra da Marinha russa no Hemisfério Ocidental desde o fim da URSS não servirá só para proporcionar um pouco de sol tropical a marinheiros cansados de icebergs e do frio do Oceano Ártico. Do ponto de vista de Moscou, é uma resposta à presença dos navios da VI Frota estadunidense no Mar Negro e nas costas da Geórgia, onde destróieres e a própria capitânia, o navio de comando USS Mount Whitney, levaram “ajuda humanitária”. Assim como a visita de dois bombardeiros TU-160 à base aérea venezuelana Libertador, estado de Aragua, em setembro, foi uma resposta ao anúncio da instalação de uma base de antimísseis na Polônia. Cada um desses bombardeiros é capaz de voar a 2.220 quilômetros por hora, o suficiente para ir de Caracas a Washington em hora e meia – não que seja necessário, pois cada avião pode carregar seis mísseis nucleares de cruzeiro com alcance de 3 mil quilômetros, ou doze com alcance de 300 quilômetros. Pedro, o Grande, cruzador de propulsão nuclear de 28 mil toneladas, carrega 14 mísseis nucleares com alcance de 600 quilômetros e mais de 400 mísseis antiaéreos e anti-submarinos de menor alcance, além de torpedos e canhões. Claro que os EUA também têm bombardeiros supersônicos e que qualquer dos seus onze superporta-aviões tem poder de fogo maior que o supercruzador russo. Mesmo no auge do poder soviético, que a Rússia do primeiro-ministro Vladimir Putin ainda está longe de igualar, sua frota de superfície era inferior à estadunidense. Bombardeiros e cruzadores são apenas armas vistosas, adequadas para “mostrar a bandeira”. Os mísseis ocultos em silos subterrâneos ou submarinos nucleares são discretos demais para serem usados dessa maneira, mas são muito mais terríveis – e tanto os EUA quanto a Rússia têm milhares prontos para disparar em quinze minutos, o suficiente para se destruírem mutuamente várias vezes antes que aviões e navios tenham tempo de entrar em ação. O importante não é o poder de fogo, mas a mensagem que esses aviões e navios conduzem: “Se vocês não saem do nosso quintal, entramos no de vocês”. Nem na Guerra Fria a Doutrina Monroe – a América para os (norte-) americanos – foi tão frontalmente desafiada. Depois de quase chegar à guerra total por causa dos mísseis na Turquia e em Cuba em 1962, EUA e URSS chegaram a um entendimento tácito sobre as respectivas esferas de influência. Moscou não enviou navios de guerra ao Chile de Salvador Allende nem à Nicarágua sandinista, assim como o Pentágono cruzou os braços ante a repressão da Primavera de Praga. Quando muito, davam discreto apoio moral e financeiro aos rebeldes do quintal do rival, sem se comprometer militarmente.
Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa
As 10 da manhã de 22 de setembro, o maior cruzador do mundo, Pedro, o Grande (Pyotr Velikiy), de propulsão nuclear, acompanhado da fragata Almirante Chabanenko e de vários navios auxiliares, saiu de Severomorsk, na gélida península de Kola, com destino ao Caribe. Em novembro, essa esquadra participará de manobras conjuntas com a Marinha da Venezuela. A primeira manobra da Marinha russa no Hemisfério Ocidental desde o fim da URSS não servirá só para proporcionar um pouco de sol tropical a marinheiros cansados de icebergs e do frio do Oceano Ártico. Do ponto de vista de Moscou, é uma resposta à presença dos navios da VI Frota estadunidense no Mar Negro e nas costas da Geórgia, onde destróieres e a própria capitânia, o navio de comando USS Mount Whitney, levaram “ajuda humanitária”. Assim como a visita de dois bombardeiros TU-160 à base aérea venezuelana Libertador, estado de Aragua, em setembro, foi uma resposta ao anúncio da instalação de uma base de antimísseis na Polônia. Cada um desses bombardeiros é capaz de voar a 2.220 quilômetros por hora, o suficiente para ir de Caracas a Washington em hora e meia – não que seja necessário, pois cada avião pode carregar seis mísseis nucleares de cruzeiro com alcance de 3 mil quilômetros, ou doze com alcance de 300 quilômetros. Pedro, o Grande, cruzador de propulsão nuclear de 28 mil toneladas, carrega 14 mísseis nucleares com alcance de 600 quilômetros e mais de 400 mísseis antiaéreos e anti-submarinos de menor alcance, além de torpedos e canhões. Claro que os EUA também têm bombardeiros supersônicos e que qualquer dos seus onze superporta-aviões tem poder de fogo maior que o supercruzador russo. Mesmo no auge do poder soviético, que a Rússia do primeiro-ministro Vladimir Putin ainda está longe de igualar, sua frota de superfície era inferior à estadunidense. Bombardeiros e cruzadores são apenas armas vistosas, adequadas para “mostrar a bandeira”. Os mísseis ocultos em silos subterrâneos ou submarinos nucleares são discretos demais para serem usados dessa maneira, mas são muito mais terríveis – e tanto os EUA quanto a Rússia têm milhares prontos para disparar em quinze minutos, o suficiente para se destruírem mutuamente várias vezes antes que aviões e navios tenham tempo de entrar em ação. O importante não é o poder de fogo, mas a mensagem que esses aviões e navios conduzem: “Se vocês não saem do nosso quintal, entramos no de vocês”. Nem na Guerra Fria a Doutrina Monroe – a América para os (norte-) americanos – foi tão frontalmente desafiada. Depois de quase chegar à guerra total por causa dos mísseis na Turquia e em Cuba em 1962, EUA e URSS chegaram a um entendimento tácito sobre as respectivas esferas de influência. Moscou não enviou navios de guerra ao Chile de Salvador Allende nem à Nicarágua sandinista, assim como o Pentágono cruzou os braços ante a repressão da Primavera de Praga. Quando muito, davam discreto apoio moral e financeiro aos rebeldes do quintal do rival, sem se comprometer militarmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário