segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Observatório

Domingo, 28 de setembro de 2008
Destaques dos jornais de domingo. O que merece ser lido. Se você não tem paciência ou não teve tempo para ler as notícias nos principais jornais de hoje, clique nos links logo abaixo das matérias para lê-las no clipping do Ministério do Planejamento, sem que seja necessário que se cadastre. Publicaremos esta seleção todos os dias entre 19h00 e 21h00. Nos finais de semana os links com as matérias completas serão da Radiobras, que exige cadastro.
O analfabetismo vai à escola
Azuete Fogaça
O Globo
Dados recentes do IBGE mostram mais uma das múltiplas faces da crise do sistema educacional brasileiro. Até a década de 1980, o analfabetismo brasileiro era explicado basicamente pela escassez de vagas nas redes públicas de ensino, o que diminuía as oportunidades educacionais da maioria da população brasileira em idade escolar. Hoje, o que se comprova é que os analfabetos estão dentro da escola, que se mostra incapaz de cumprir uma de suas tarefas mais tradicionais e básicas, mesmo quando os alunos nela permanecem por até oito anos, tempo suficiente para que completassem o Ensino Fundamental. Certamente várias justificativas "oficiais" serão dadas para esse triste fato. A precariedade das escolas, a escassez de recursos financeiros para equipar a rede escolar, a formação insuficiente dos professores são fatores explicativos largamente utilizados nessas situações que evidenciam o fraco desempenho do sistema educacional brasileiro. Entretanto, se dermos uma olhada mais atenta nas análises e nos diagnósticos da crise educacional nas três últimas décadas, poderemos observar o predomínio das interpretações que, ao fim e ao cabo, depositavam nos ombros dos alunos e de suas famílias a responsabilidade maior sobre o fracasso escolar.
O analfabetismo vai à escola :: Azuete Fogaça

Merval Pereira
Sabor de derrota
O Globo

NOVA YORK. Barack Obama é um político do tipo do lutador de boxe, que dá gosto de ver pela elegância dos movimentos e golpes curtos e certeiros que aplica. Mas chega um momento em que é preciso decidir a luta, e aí falta a ele aquela garra que marca os demolidores. Ele pode ter ganhado o primeiro debate da disputa presidencial dos Estados Unidos por pontos - mais possivelmente houve um empate - mas fiquei com a sensação de que foi um empate com sabor de derrota para Obama. Possivelmente não haverá até as eleições momento mais favorável para ele em um debate político, e McCain temia isso quando tentou adiar o encontro. Depois de uma semana em que a política econômica do governo Bush, que já vinha há um ano dando sinais de falência múltipla, entrou em colapso explícito, não havia momento mais propício para um candidato democrata mostrar à nação o que fará a diferença, a partir de janeiro, na Casa Branca. Os dois candidatos não se mostraram, até o momento, à altura da crise que o mundo vive.
Merval Pereira


João Ubaldo Ribeiro
Não somos todos burros
O Globo

Às vezes fico meio sem jeito para tratar de certos assuntos aqui, achando que vou chover no molhado ou repetir coisas que todo mundo sabe. Mas, em outras ocasiões, me bate sensação oposta, a de que a maioria não sabe. Hoje, por exemplo. Fico lendo os jornais, ouvindo comentários e sendo alvejado por declarações pomposas não contestadas por ninguém e penso que de fato conseguiram fazer um Brasil virtual, distinto do real. Aí corro o risco de provocar tédio nos que de fato já sabem como somos tapeados, e pouca serventia virá a ter a coluna de hoje. Mas faz parte, vamos lá. Fala-se muito mal da Estatística. De um lado, constitui grande injustiça para com uma ciência sem a qual hoje talvez nem sobrevivêssemos direito. De outro, trata-se da compreensível reação contra a maneira pela qual a Estatística é usada e abusada para "provar" o duvidoso e manipular a chamada realidade objetiva. Compreendo o sujeito que disse, como já lembrei aqui antes, que a Estatística é a arte de mentir com precisão, porque de fato o seu uso inescrupuloso e falsário equivale a isso. Começo lembrando a famosa média. Em grande parte dos casos em que ela é empregada em indicadores sociais e econômicos, não quer dizer nada, ou melhor, quer dizer muito pouco. Se Bill Gates passasse a ser residente da cidade de Itaparica, teríamos talvez a renda per capita mais alta do planeta ou com certeza uma das mais altas, sem que um itaparicano sequer passasse a ganhar mais um centavo. Isto porque a renda per capita é uma média aritmética e, por conseguinte, sensível em excesso aos valores extremos. Então, numa população em que um ganha por mês um milhão de borodongas e os outros cinco borodongas cada, falar em renda per capita é ridículo. Precisamos, portanto, saber da mediana. Talvez por às vezes revelar-se incomodativa, não é muito mencionada, notadamente em estatísticas oficiais. A mediana dá mais peso e significado à média. É o valor que se encontra exatamente no meio dessa coletividade. Ou seja, não é bastante saber que a renda média é 1.000. É preciso saber também (estou simplificando e peço desculpas a estatísticos e matemáticos em geral) o valor que divide esses indivíduos pela metade, ou seja, o ponto em relação ao qual exatamente a metade ganha menos e a metade ganha mais. Quando a média é próxima da mediana, isso significa que a distribuição é mais ou menos simétrica. Quando não, a distribuição é tortinha. Logo, a mediana pode, por exemplo, desmoralizar a renda per capita, se demonstrar que metade da população ganha muito abaixo desta e a outra metade muito acima. Mas ninguém fala na mediana.

Ancelmo Gois
O Globo

Antes do Natal Lula deve fazer algumas mudanças no Ministério depois das eleições. Voltou-se a falar, dentro do governo, na substituição do ministro Temporão. Toma que o filho é... A CBF, por achar que não deve usar dinheiro público, resolveu depositar em nome do COB a quantia de R$271.172,69. Seria o que o Comitê gastou de recursos da União com parte das passagens das seleções masculina e feminina de futebol em Pequim. Será que o Tesouro vai ver este dinheiro de volta? Tombo de R$100 bi A Vale teve seu valor de mercado reduzido em quase R$100 bi desde que as bolsas começaram a derreter. O valor de mercado da mineradora chegou a R$299,3 bi em maio. Sexta, a empresa valia R$197,6 bi. Uma queda de 34%. Construção civil A crise, que começou no setor imobiliário dos EUA, tem aniquilado o valor das ações das construtoras brasileiras que fizeram IPOs (oferta inicial de ações, na sigla em inglês). Os papéis da Camargo Corrêa Imobiliária, por exemplo, despencaram 68%. Os da InPar, também grande da construção civil, quase viraram pó: caíram 92%.
Regime A ministra Dilma Rousseff está de regime.
Ancelmo Gois
Panorama Político
Ilimar Franco
O Globo

Itaipu O Brasil quer chegar a um acordo com o Paraguai sobre o preço da energia de Itaipu, em reunião amanhã. Os paraguaios costumam excluir de suas contas a receita de royalties, o gasto com pessoal e a parte deles no pagamento do financiamento para a construção da usina. "Eles ganharam a eleição, mas agora chegou a hora da verdade", diz o presidente de Itaipu, Jorge Samek.
Política externa e eleições O presidente Rafael Correa foi para cima da Odebrecht às vésperas de referendo para aprovar a nova Constituição do Equador. O presidente Evo Morales ocupou a Petrobras pensando nas eleições para a Assembléia Constituinte na Bolívia. O presidente Hugo Chávez sempre ataca os Estados Unidos buscando fortalecer-se na política interna. Na Argentina, o Brasil também já virou a bola da vez nas eleições. Essa postura não é uma inovação sul-americana. Eles repetem a fórmula adotada por alguns presidentes americanos que, no passado, às vésperas das eleições, bombardeavam o Iraque ou o Afeganistão. Lula e Fernando Lugo em Nova York Os dois presidentes se cruzaram na Assembléia Geral da ONU. Lula aconselhou Lugo a enviar um ministro para a reunião de amanhã sobre Itaipu. "Não adianta mandar só técnico", advertiu. Lugo emendou: "Se é assim, quem sabe os dois presidentes também vão". Pelo lado brasileiro, vai o ministro interino Márcio Zimmermann (Minas e Energia). O titular, Edison Lobão, tirou uma semana para participar da campanha eleitoral. A divisão desfigura a imagem do PSDB e o convívio ficou muito difícil. As feridas não são superficiais" - Edson Aparecido, deputado (SP) e coordenador da campanha de Geraldo Alckmin O AUSENTE. O candidato do PT à prefeitura do Rio, Alessandro Molon, exibiu gravações de apoio feitas por cinco ministros, mas deixou de fora da propaganda eleitoral Edson Santos (Igualdade Racial), um dos líderes do partido no estado. Molon não o perdoa por ter defendido uma aliança com Jandira Feghali (PCdoB), em vez da candidatura própria. Santos gravou para mais de 70 candidatos a prefeito em todo o país. Saúde! Comentário do deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), autor da polêmica proposta de um terceiro mandato para o presidente Lula, para um integrante do governo federal: "Depois da emenda da reeleição, o que me pagam de cerveja..."
Aposta Na reta final da campanha, o DEM está colocando todas as suas fichas na Justiça Eleitoral. Como seus candidatos não emplacam, quer levar nos tribunais a impugnação de Eduardo Paes (PMDB), no Rio, e João da Costa (PT), em Recife.

Clóvis Rossi
Palpites, apenas palpites
Folha de S. Paulo

Quando começou a se armar o cenário de empate técnico para o segundo turno paulistano, entre Marta Suplicy e Gilberto Kassab ou Geraldo Alckmin, meu primeiro palpite foi no sentido de que Marta acabaria ganhando.Ganharia porque Lula lhe daria o empurrão decisivo, agora que, pela primeira vez, sua aprovação (em São Paulo) supera a rejeição.Aí, um amigo (petista, candidato e da ala sadia do partido, que ainda existe) me advertiu em papo informal (razão pela qual omito o nome): no segundo turno, o nome do jogo seria Marta, não Lula. Ou seja, o resultado dependerá de a candidata do PT vencer a rejeição a ela, independentemente do apoio que Lula vier a dar.Não me convenceu de todo, mas é um palpite a levar em conta.
Clóvis Rossi

Eliane Cantanhêde
Para Alckmin, tudo ou nada
Folha de S. Paulo

A eleição municipal chegou à sua última semana com algumas surpresas (Gabeira crescendo no Rio...), indefinições emocionantes (Salvador embolada...) e uma certeza: Geraldo Alckmin tem de rezar aos céus para chegar ao segundo turno com Marta Suplicy.Do contrário, não estará só perdendo uma eleição, mas jogando fora seu capital acumulado e dificultando suas condições de disputar o governo ou mesmo o Senado.Alckmin bateu pé e conseguiu a sigla do PSDB para concorrer em 2006, contra todas as pesquisas e as evidências de que José Serra era mais competitivo. O mar estava mais para Lula do que para tucanos, e Serra igualmente poderia ter perdido. Mas a derrota de Alckmin teve peso maior, porque sua responsabilidade também era maior.Alckmin voltou a bater pé e conseguiu a sigla do PSDB nas eleições municipais, contra a estratégia de Serra de, simultaneamente, fortalecer o aliado DEM e manter a prefeitura. Ou alguém tem dúvida de que a prefeitura é dos tucanos?
Eliane Cantanhêde

Baixos salários e prevaricação
Rogério Gentile
Folha de S. Paulo

Tem razão o advogado Alberto Toron, do Conselho Federal da OAB, quando afirma que os salários pagos pelo governo José Serra (PSDB) aos policiais civis de São Paulo são "aviltantes". Serra paga um dos piores salários do país, apesar da capacidade de arrecadação do Estado. Um delegado em início de carreira em São Paulo, por exemplo, recebe R$ 3.708,18. No Piauí, R$ 7.141,50. Em Roraima, R$ 8.500. No Paraná, o salário inicial é de R$ 9.599,63. O governo paulista alega que são poucos os delegados em começo de carreira no Estado que recebem a faixa salarial mais baixa -seriam apenas 15. Diz que o salário médio da categoria é de R$ 7.085,85. Ok, vá lá, mas o fato é que esse tal salário médio é mais baixo do que o piso pago aos delegados no Distrito Federal e em 11 Estados do país (dados oficiais de agosto), incluindo Maranhão, Alagoas e Sergipe. O salário-base dos investigadores também não é grande coisa: R$ 1.757,82 em cidades com menos de 200 mil habitantes (ou seja, o 15º na comparação com os demais Estados), R$ 1.975,82 em cidades paulistas médias (o 10º no ranking) e R$ 2.324,82 nos municípios com mais de 500 mil habitantes (o 6º). Mas, se os salários são baixos, é evidente que a população não pode ser punida por isso. Greve de policial não é ajuste de contas com o Estado. É salvo-conduto para criminosos e desforra contra o cidadão. E, pior, contra o cidadão fragilizado pela violência. Ao não atendê-lo, o policial civil o torna vítima pela segunda vez.
Rogério Gentile

Os ventos que chegam
Folha de S. Paulo
Janio de Freitas

Se esses ventos são mesmo de consciência, variadas formas de turbulência vão proliferar na América hispânica
A ÚNICA RESPOSTA cabível do governo às pressões para que se ponha em defesa da empreiteira Odebrecht, acossada por várias acusações e ameaças do governo do Equador, é a neutralidade serena e nada mais do que o acompanhamento informativo dos fatos.O Estado brasileiro não foi parte nas transações entre a empreiteira e os governantes equatorianos anteriores; não tem responsabilidade nem mesmo parcial nas causas do desentendimento e, portanto, não lhe cabe representar interesses financeiros particulares contra invocados direitos nacionais e leis de outro Estado.A intromissão do governo brasileiro na controvérsia tem correspondência histórica com a política dos Estados Unidos para a América Latina e de países europeus para África e Ásia. No Brasil ficaram os exemplos, entre tantos, da cobertura dada a empresas relapsas e exploradoras como a ITT, a American Foreign Power (Amforp), a Bond and Share pelos governos Kennedy e Johnson, proteção que foi uma das causas nunca citadas do golpe de 64.Na América Central, a proteção da Casa Branca à United Fruit, à Chiquita Banana e mais empreendimentos fez fama mundial, com a conseqüente redução de vários países à denominação comum de "Repúblicas Bananeras". Não mudou de natureza essa intervenção de um Estado em favor de interesses privados contra outro Estado: é o colonialismo com a fantasia que costurou ao longo do século 20.O governo Lula não tem informado com clareza sobre o que já fez ou pretende fazer em relação ao problema da Odebrecht. As declarações equatorianas são contraditórias e as notícias sobre o entrevero são confusas. Lula, no pouco que falou a respeito, foi apenas dúbio. O ministro Celso Amorim concedeu um pouco mais. Para pior. "Estamos dando toda a proteção adequada a uma empresa brasileira de grande renome e com grandes realizações em todos os países", e falou de obras por aí afora.
Janio de Freitas

Mercado Aberto
GUILHERME BARROS - guilherme.barros@uol.com.br
Folha de S. Paulo

Bolsa não está uma pechincha, diz estudo
Os preços das ações nos Estados Unidos nunca estiveram tão baixos nesta década, enquanto no Brasil ainda não se pode dizer o mesmo. As ações na Bolsa brasileira ainda estão acima da média dos últimos dez anos.A conclusão consta de um estudo elaborado pela Economática com a comparação do desempenho médio das 50 principais ações nas Bolsas dos Estados Unidos e do Brasil. "Não se pode dizer que as ações no Brasil estejam uma pechincha", diz Fernando Excel, presidente da Economática.O trabalho foi feito com base no índice preço/lucro (P/L) da ação, um indicador que mede se o preço da ação está alto ou não. O índice é calculado tendo como numerador o preço de mercado da ação e como denominador o lucro líquido da empresa no período de um ano dividido pelo número de ações.Pelos cálculos da Economática, o P/L médio do Brasil nos últimos dez anos ficou perto de 10 e hoje está em 11,9, o que significa que ainda tem fôlego para cair, apesar de já ter baixado significativamente. Em 2007, o P/L das 50 principais ações da Bolsa brasileira chegou a atingir a marca de 15,2.Já em relação à Bolsa americana, a queda é mais gritante. O P/L médio das 50 principais ações nos Estados Unidos ficou perto de 20 nos últimos dez anos e agora está em 16,7. Os preços das ações na Bolsa americana vêm em queda livre deste o início da década.Esse comportamento das ações nos Estados Unidos significa, segundo Fernando Excel, que caiu bastante o lucro das companhias americanas devido à crise.O fato de as ações estarem com P/L abaixo da média histórica não significa necessariamente uma excelente oportunidade de compra, já que o papel pode cair ainda mais. Excel diz que esse indicador reflete apenas as expectativas do mercado naquele momento.
Mercado Aberto

Reflexões crepusculares
Rubens Ricupero
Folha de S. Paulo

Qual será o limite para que os custos de erros evitáveis do governo norte-americano provoquem processo irreversível de declínio dos Estados Unidos?Três trilhões de dólares seriam o custo real da Guerra do Iraque, estima um livro de Joseph Stiglitz e Linda Birnes. O prejuízo ocasionado pela crise financeira pode chegar a mais de 30% do PIB (Produto Interno Bruto), entre US$ 3 trilhões e US$ 4 trilhões, segundo julgam certos analistas. Será possível que isso não passe de um piscar de olhos na alegre irresponsabilidade do país?Pode-se discutir se essas são as cifras verdadeiras ou se parte do que se vai gastar para salvar o sistema financeiro não será recuperado. De qualquer forma, os números serão gigantescos e não representam mais do que uma pálida indicação das perdas humanas e morais: vidas sacrificadas, seres mutilados, esperanças desenganadas.Para alguns, não há dúvida: este é o fim ou, ao menos, o começo do fim do império americano. Não tenho tanta certeza, pois vivi de perto episódio anterior, por alguns aspectos até mais grave do que o atual.
(...)
Comentei com meu chefe, o sempre pranteado embaixador Araujo Castro, que tudo aquilo me parecia um estrago irreparável no prestígio e no poderio dos Estados Unidos, a começar pela Ásia, onde tanto se temia o "efeito dominó" que se seguiria à derrota. "Engano seu", disse-me o embaixador, "não se passará muito tempo antes que o Vietnã implore aos americanos a oportunidade de comerciar com eles." Foi o que se deu. Os vietnamitas, que se converteram no mais recente e agressivo dos tigres asiáticos, assinaram com Washington um acordo duríssimo, no qual aceitaram tudo e algo mais, inclusive cláusulas ambientais e trabalhistas.Explicou-me então sua teoria do "overdraft" ou "saque a descoberto". "Como os indivíduos, os países têm limites diferentes para o que podem sacar a descoberto no banco da história. Para o Brasil, a margem em que pode errar sem conseqüências irreversíveis é estreita. O limite dos Estados Unidos é incomensurável." Conto a conversa porque a imagem do "overdraft" se adapta às mil maravilhas a um colapso financeiro em que todo o mundo sacou o que não tinha. Daquela vez, deu certo: a crise levou ao poder Reagan, e todos conhecem o resto da história da recuperação do moral e do poder dos Estados Unidos. E agora, até quando os chineses, na euforia da Olimpíada, do saldo comercial e de sua estação espacial, deixarão que os americanos continuem a sacar das reservas deles para viver muito além dos próprios meios?
Rubens Ricupero

Palmas para Lula
Ferreira Gullar
Folha de S. Paulo

Nunca os pobres se sentiram tão protegidos e nunca os banqueiros lucraram tanto no Brasil
O ALTO índice de popularidade do presidente Lula tem suscitado a reflexão dos comentaristas que se sentem desafiados a explicá-la. A tarefa não é das mais fáceis e, por isso mesmo, as explicações nem sempre coincidem, muito embora sejam, na sua maioria, pertinentes. E porque o assunto envolve numerosos fatores e causas, resta sempre algum ponto que ainda não foi explicitado.Vou tentar examinar alguns deles e, para isso, terei que tocar em aspecto já argüidos mas que não se podem excluir na apreciação do tema. Um deles é, sem dúvida, a estabilidade econômica de que o país goza hoje e de que não gozaria se as teses de Lula, contra o Plano Real, tivessem prevalecido. Não faço tal observação com outro propósito senão o de tentar definir a natureza dessa popularidade e suas possíveis conseqüências para o processo político.O fato de Lula, eleito presidente, ter adotado a política econômica que combatera ferozmente, revela-se uma louvável sensatez, revela também, ao mesmo tempo, por ele não reconhecer o débito de hoje e o equívoco do passado, certa carência de escrúpulos, o que explica muita coisa da popularidade de que desfruta hoje.Certamente, essa popularidade se deve também aos programas sociais de amparo às camadas desfavorecidas da sociedade, antes aplicados em Campinas (SP) e Brasília, depois adotados por Fernando Henrique em âmbito nacional e que Lula manteve e ampliou. Mas também aqui, mais uma vez, procurou turvar a água e apresentar-se como o criador do programa, fundindo os dois programas existentes e mudando-lhes o nome. Com isso, prejudicou-lhes a eficiência, por dificultar a avaliação precisa dos resultados. Como era de se esperar, aumentou a ajuda a cada família e a dotação global para abranger o maior número possível de famílias, que hoje somam cerca de 11 milhões, o que equivale a mais de 40 milhões de indivíduos. Bastaria, portanto, o Bolsa Família para lhe garantir uma ampla aprovação das camadas pobres do povo. Isso é do conhecimento de todos.
Ferreira Gullar

A crise e a reação
Marcos Lisboa
Folha de S. Paulo

Nos bons tempos, erros custam pouco e podem passar despercebidos; em tempos ruins, podem ser implacáveis
GRAVES CRISES econômicas costumam ser generosas com os historiadores, porém não muito com os gestores de política econômica. Com o tempo, o desenvolvimento de técnicas de análise e o acesso a novos dados permitem conhecer melhor suas causas e desdobramentos. Inevitavelmente, reavaliam-se as políticas adotadas como reação à crise, que, muitas vezes, resultaram em conseqüências inversas às pretendidas, prolongando e agravando as dificuldades que procuravam superar.A explicação clássica sobre a crise de 1929, por exemplo, sugere que escolhas de política econômica foram responsáveis pela transformação de conjuntura difícil em depressão. A deflação em regime de câmbio fixo teria agravado a crise do sistema financeiro e, em seqüência, aprofundado a retração dos demais setores.Recentemente, novas pesquisas têm reduzido a importância da condução da política monetária e da crise financeira na recessão inicial, explicada, em boa medida, por uma queda da produtividade. O prolongamento da crise, porém, pode ter sido uma infeliz conseqüência do New Deal. A intervenção pública teria impedido o ajuste dos preços relativos e, contrariamente ao desejado, prolongado a crise até o fim da década. Boas intenções nem sempre garantem bons resultados.
Marcos Lisboa

Painel
RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br
Folha de S. Paulo

Ressaca
Embora muito se especule em contrário, Geraldo Alckmin sustenta que não deixará o PSDB mesmo se ficar fora do segundo turno. Porém, pelo tom de suas queixas mais reservadas, tudo indica que ele pretende apresentar ao partido -e a José Serra, evidentemente- a conta da eventual derrota.Alguns tucanos, em especial os não-paulistas, repetem que, nesse cenário, será preciso "cuidar do Geraldo". Mas também há quem diga que o PSDB "fez a sua parte" e que é do interesse do ex-governador permanecer na sigla. "Ele já embarcou em duas aventuras", diz um dirigente, referindo-se às candidaturas em 2006 e neste ano. "Vai embarcar na terceira?". Optei.
Publicamente, petistas ainda enumeram vantagens e desvantagens de Marta Suplicy enfrentar Kassab ou Alckmin no segundo turno. Em privado, porém, a preferência pelo tucano virou quase consensual no partido.Casual. A jaqueta que Alckmin passou a vestir na nova fase de seu programa de televisão foi idéia do marqueteiro. O propósito do figurino é transmitir uma imagem mais "relax", que dilua a tensão do enfrentamento com Kassab.Voto útil. Em pé de guerra com a atual bancada de vereadores do PSDB, quase toda engajada na campanha de Kassab, alguns alckmistas passaram a recomendar voto na legenda 14 para a Câmara Municipal. É o número do PTB, sigla de Campos Machado, vice na chapa tucana.Ele pode? Enquanto ameaça promover caça aos kassabistas, o PSDB não diz palavra sobre o caso do alckmista Renato Amary. Insatisfeito por ter sido preterido como candidato em Sorocaba, o deputado federal e ex-prefeito gravou um depoimento no qual desaconselha o voto em seu sucessor, que é tucano e disputa o segundo mandato. Água e óleo. Não convide para a mesma plenária petista Dilma Rousseff e José Antonio Toffoli. A ministra da Casa Civil e o advogado-geral da União estão em lados opostos em mais de um debate relevante dentro do governo.Me aguarde. A uma semana da votação, o governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral, entrou firme nas campanhas do PMDB em Nova Iguaçu e São Gonçalo, onde o adversário é do PT. Petistas prometem dar o troco trabalhando contra Eduardo Paes na capital no segundo turno.O clone 1. ACM Neto (DEM), cujo partido questiona em São Paulo o plano de Marta para levar internet gratuita a toda a cidade, faz promessa idêntica em Salvador com o seu Cidade Digital.O clone 2. A campanha de Maria do Rosário em Porto Alegre tirou do baú o jingle que foi da correligionária Marta em 2000. A única diferença no samba é o nome da candidata. O marqueteiro, Augusto Fonseca, é o mesmo.
Painel

Que língua é essa?
Novo livro detalha as mudanças do acordo ortográfico, já adotadas nesta reportagem
EDUARDO SIMÕES
Folha de S. Paulo

As regras do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em 1990, e que entram em vigor no Brasil a partir de janeiro de 2009, vão afetar principalmente o uso dos acentos agudo e circunflexo, do trema e do hífen. Cuidado: segundo elas, você não poderá mais escrever que foi mordido por uma jibóia, e sim por uma jiboia. Aquela sua boa idéia será má ideia, porque é assim, sem o danado do acento agudo, que você deve passar a escrever a palavra. Achou tudo uma feiura? Será que você vai aguentar tanta mudança?A estreia de algumas normas nesta reportagem que você está lendo não passa de uma brincadeira, portanto, pode ficar tranquilo. Segundo o Ministério da Educação, haverá um prazo de transição até o fim de 2012, em que ambas grafias serão aceitas em todo os oito países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP): Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe.Uma boa ideia, no entanto, é já recorrer ao recém-lançado "Escrevendo pela Nova Ortografia", guia esmiuçado das regras (leia mais no quadro abaixo), parceria entre a Publifolha e o Instituto Houaiss. A publicação teve coordenação do professor José Carlos de Azeredo, doutor em letras pela Universidade Federal do Rio Janeiro. Para Azeredo, não se pode entender o acordo como uma proposta de simplificação, mas sim de unificação ortográfica."A simplificação pode ser decorrente, mas não é seu objetivo", diz o professor. "Para que fosse possível, foi necessário que o Brasil e Portugal abrissem mão de convicções. O Brasil abriu mão do circunflexo e agudos, em alguns casos, e sobretudo do trema. Portugal, por sua vez, abriu mão do "p" de adoptar e do "c" de direcção."
Que língua é essa?

Sarkozy e o diagnóstico da crise
Gilles Lapouge
O Estado de S. Paulo

O presidente francês Nicolas Sarkozy finalmente falou da crise. No começo da semana, ele esteve na Organização das Nações Unidas, explicando essa crise ao universo. Na quarta-feira, em Toulon, ele se dirigiu aos franceses.Já era tempo. A explosão do sistema bancário americano mergulhou a França, assim como todos os demais países, na aflição. Sarkozy devia, pois, mostrar que ele tem “um piloto no avião”. E o fez com seu talento e sua energia habituais.Sarkozy sabe como o elemento psicológico pesa numa crise econômica. Ele então bradou: “Não tenhais medo!” Ele retomava, bizarramente, as palavras pronunciadas na França, dias antes, pelo papa Bento XVI, que por sua vez retomara a magnífica apóstrofe de João Paulo II aos poloneses ameaçados pelos derradeiros rugidos da União Soviética.Os franceses terão se tranqüilizado? Tomara que sim. Mas dizer às pessoas que não devem “ter medo” é confirmar que elas têm sérias razões para ter medo. De fato, o quadro que Sarkozy pintou da situação, tanto mundial como francesa, foi de absoluto pessimismo. Ele retomou em Toulon o diagnóstico da crise levado a Nova York.Ele se entregou a um violento ataque ao “capitalismo perverso”, à especulação, ao sacrossanto “mercado”, com essa frase inaudita, que ele certamente empalmou dos comunistas: “A idéia de que os mercados sempre têm razão é uma idéia insana”. Há uma certa verdade nesse veredicto. O problema é que os franceses têm dificuldade de segui-lo. Desde que Sarkozy está no comando, o que mais se ouvia era uma celebração embriagada do mercado. Se a economia rateava, era que o governo regulamentava tudo em vez de deixar atuar livremente as maravilhosas engrenagens do mercado.
Sarkozy e o diagnóstico da crise :: Gilles Lapouge

Liberação de emenda cresce 677% em 2008
O Estado de S. Paulo

Dinheiro autorizado foi sete vezes maior que em 2007
José Maria Tomazela
Em ano eleitoral, os recursos liberados pela Prefeitura de São Paulo para atender emendas dos vereadores ao orçamento aumentaram 677%, totalizando R$ 30,3 milhões. O valor empenhado é 7 vezes maior do que no ano passado, quando as emendas de vereadores somaram R$ 3,9 milhões. Em 2006, os vereadores dispuseram de R$ 5,5 mi, de acordo com o Sistema de Execução Orçamentária do Município. Se comparado ao daquele ano, o valor de 2008 subiu 451%.Neste ano o número de emendas atendidas foi recorde em comparação com os anteriores. A evolução foi de 33 emendas em 2006 para 35 no ano seguinte e 58 até o final de agosto de 2008. O momento da liberação dos recursos também mudou. Nos anos anteriores, a destinação dos valores foi maior na parte final do ano.Em 2008, a liberação da emendas se concentra no primeiro semestre e nos meses de julho e agosto, durante a pré-campanha e a campanha eleitoral. O que difere este ano dos anteriores é o fato de ser ano de eleições municipais.Com as emendas, os vereadores podem dirigir a aplicação dos recursos do orçamento municipal para suas bases eleitorais. A lei não impede a municipalidade de atender as emendas dos vereadores com recursos previstos em orçamento. Tradicionalmente, porém, a prefeitura concentra a aplicação das verbas nos últimos meses do ano. Tanto que, de janeiro até o final de junho de 2006 havia apenas um empenho, sendo que, no mesmo período do ano seguinte, eram seis. Neste ano, o número do primeiro semestre subiu para 33. A participação dos vereadores, em sua maioria candidatos à reeleição, também cresceu para 21 neste ano, contra 12 do ano passado e 14 em 2006. A bancada do PT normalmente se articula para absorver um grande número de emendas. Em 2006, dos 14 vereadores contemplados, 5 eram do PT, 3 do PSDB e 2 do DEM. No ano passado, dos 12 atendidos, 7 eram petistas, mais que a metade, enquanto o PSDB teve 3.Neste ano, apenas seis dos 21 contemplados são petistas, enquanto o número de beneficiados do PSDB subiu para 4. No primeiro semestre, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) ainda articulava o apoio dos tucanos à sua candidatura. Cinco vereadores da coligação de Kassab entraram na lista das emendas. O orçamento de São Paulo para este ano é de R$ 25,2 bilhões.
Liberação de emenda cresce 677% em 2008

Internet grátis para todos é promessa inviável
Ethevaldo Siqueira
O Estado de S. Paulo

Assegurar o acesso grátis à internet em banda larga a todos os paulistanos é uma idéia generosa, mas utópica e economicamente inviável, segundo a maioria dos especialistas que ouvi na semana passada. O maior risco de uma promessa eleitoral desse tipo, sem debate sério, sem base na realidade, é enganar a milhões. Equivale a prometer transporte grátis para os 11 milhões de habitantes da cidade de São Paulo.Para o professor Luiz Carlos Moraes Rego, da Escola de Administração de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, “o acesso grátis a toda a população só seria viável com elevados subsídios ou a criação de imposto específico”. E acrescenta: “Um projeto dessa magnitude é totalmente inviável, se depender apenas dos recursos públicos, mesmo de uma prefeitura como a de São Paulo.”Fabricantes de equipamentos de infra-estrutura e operadoras estimam que o investimento mínimo exigido para a construção de uma rede metropolitana sem fio, com tecnologias Wi-Fi, WiMAX e WiMesh, com centenas de estações radiobase, ultrapassa US$ 2 bilhões (R$ 3,8 bilhões), sem incluir aí os terminais de usuários. A complexidade de uma rede desse porte, capaz de cobrir a cidade de São Paulo e suportar o volume de tráfego gerado por milhões de usuários de banda larga exigiriam uma infra-estrutura nunca antes implantada no mundo.
Internet grátis para todos é promessa inviável

Sindicatos ricos e fracos
Suely Caldas
O Estado de S. Paulo

A recente edição da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) apresenta um dado aparentemente contraditório: enquanto o trabalho com carteira assinada e a renda salarial crescem, cai o número de trabalhadores sindicalizados. Veja, leitor, o que aconteceu entre 2006 e 2007: 1) O emprego com carteira assinada cresceu 6,1% e o rendimento salarial, 3,2%; e 2) os sindicatos perderam 555 mil trabalhadores filiados, o que fez a taxa de sindicalização cair de 18,6% para 17,7% da população ocupada. A lógica seria a filiação sindical acompanhar a expansão do emprego formal. Mas os trabalhadores não seguem a lógica. Por que será?O especialista em economia do trabalho José Márcio Camargo atribui isso a um certo desencanto dos trabalhadores com seus sindicatos, descrédito na forma de representá-los e enfrentar novos desafios da modernização dos meios de trabalho. A luta sindical moderna exige preparo das lideranças para diversificar o foco, ir além do tradicional aumento salarial. Mas a prática continua presa ao modelo das décadas de 70/80, quando o sindicalismo desafiou a ditadura militar e viveu seu auge nas famosas greves do ABC paulista lideradas por Luiz Inácio Lula da Silva.“Hoje, só 10% dos trabalhadores estão sob a proteção dos sindicatos; os 90% restantes são lei de mercado. Desviar a luta sindical para outras reivindicações dá trabalho e os sindicatos não estão dispostos ou não sabem fazê-lo”, analisa Camargo.
Sindicatos ricos e fracos :: Suely Caldas

Limpo, número 2 deve voltar à PF

Investigações nada apuram sobre denúncias e corporação será obrogada a rever métodos
Vasconcelo Quadros
Jornal do Brasil
Perícia nos computadores da Polícia Federal, que deve ser concluída nos próximos dias, será a peça decisiva para esclarecer o caso envolvendo o delegado Romero Menezes, o diretor-executivo preso e afastado do cargo há duas semanas por suspeita de vazamento, corrupção e advocacia administrativa. As investigações ainda estão em curso. Mas, até agora, não surgiu fato que confirme as principais acusações levantadas contra ele pelos próprios colegas da Superitendência do Amapá.
O que começa a ganhar corpo dentro do órgão é a possibilidade de Menezes voltar ao cargo, a exemplo do ocorreu com o ex-ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves, afastado pelo então presidente Itamar Franco por suspeita de envolvimento com desvio de verbas do Orçamento da União em 2003. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também considera a possibilidade de reconduzir ao comando da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) o delegado Paulo Lacerda, caso não seja provado que ele ou a agência tenham envolvimento com o grampo no telefone do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes.
Diretor da PF pode reassumir

Brasília- DF
Denise Rothenburg
Correio Braziliense

O apagão da hora -denise.rothenburg@correioweb.com.br
Nem a falta de crédito, nem a crise americana. O que tira o sono de parte dos empreendedores nacionais no momento é a falta de mão-de-obra qualificada. A Petrobras, por exemplo, foi esta semana ao Ministério do Trabalho pedir uma ajuda nessa área.
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É que, sem o pré-sal, a empresa pretende investir R$ 269,7 bilhões até 2011. Só de navios, precisará de 189, sendo 49 de grande porte e 140 de apoio. E falta gente para operar toda essa parafernália. A Escola da Marinha já está ajudando nessa parte, mas ainda não é suficiente. Novas ações virão para qualificação profissional.

Investida

A pedido de seus chefes, alguns assessores do Senado procuraram a direção da Câmara dos Deputados para tratar de uma forma de burlar o nepotismo. A idéia era tentar convencer o presidente da Casa, Arlindo Chinaglia, a derrubar parte do dispositivo legal que impediu a contratação de parentes para os cargos de natureza especial. Assim, seria possível colocar os parentes dos senadores na Câmara e os deputados receberem os dos senadores. Na Câmara, ninguém teve sequer coragem de falar sobre isso com Chinaglia. Já sabiam que a resposta do zeloso presidente seria não. Mais mudanças Entre os peemedebistas do Rio de Janeiro, é dada como certa a substituição da diretoria do Real Grandeza, o fundo de pensão de Furnas. Quando e quem será indicado, no entanto, a bancada fluminense jura que a decisão caberá exclusivamente ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Se colar… Os senadores de oposição bem que tentam dar uma de “joão-sem-braço” e, assim, como quem não quer nada, indicar o substituto de Guilherme Palmeira no Tribunal de Contas da União (TCU). Afinal, Palmeira, que se aposenta em 25 de dezembro, era um senador do antigo PFL. Não colou Só que a base governista no Senado e a turma do Palácio do Planalto já bateram o martelo: não vão deixar a nova vaga de ministro do TCU assim, de presente de Papai Noel, nem para o PSDB e nem para o Democratas. E não faltam interessados em todos os partidos da base. Pelo visto, a escolha será do tipo quem chegar primeiro ocupa a cadeira. Se não levar… Caciques tucanos avaliavam neste fim de semana que, na hipótese de não chegar ao segundo turno na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Geraldo Alckmin se encontrará relegado à planície no partido ao fim da eleição. Ou seja, o peso do racha no PSDB paulistano será debitado mais na conta do candidato do que sobre o governador José Serra.

No cafezinho

Na internet/ O programa Brasília-DF entrevista o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Marco Maciel, que sugere o fim das medidas provisórias. “É um mecanismo que não convive que o Estado democrático de direito”, analisa o ex-constituinte. Confira no site www.correiobraziliense.com.br.

Nas Entrelinhas
Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense

Sístoles e diástoles

O Executivo passou a substituir o Legislativo e o Judiciário. Foram 20 anos de centralização e autoritarismo luiz.azedo@correioweb.com.br
Coube ao general Golbery do Couto e Silva, em célebre palestra na Escola Superior de Guerra (ESG), em 1980, resumir a ópera: a história política do Brasil é pendular, oscila entre a centralização e a descentralização. Não era uma idéia inovadora, porque Alberto Torres, no começo do século passado, e Oliveira Viana, pouco depois, já haviam registrado o fenômeno. Mas foi sistematizada para servir à política de Estado. Com base na célebre metáfora cardíaca da sístole (contração) e diástole (dilatação), Golbery formulou a estratégia de abertura política do governo Geisel: os militares se retiraram da política de forma organizada e tutelaram a longa transição à democracia.
Nas Entrelinhas :: Luiz Carlos Azedo

Brasil S/A
Antônio Machado
Correio Braziliense

Desafios à vistaRolo global chega ao país, já pega câmbio e crédito, e será pior se o governo demorar a agir

cidadebiz@correioweb.com.br
O que se vai constatando à medida que avança e se propaga a crise financeira dos EUA é o seu caráter democrático e socialista: não exclui ninguém e distribui entre todos os prejuízos. Se mais para uns que para outros, é questão em aberto. Mas todos devem perder. Hoje, luta-se bravamente em Washington para salvar os dedos, já tendo sido perdidos muitos anéis valiosos, como os bancos Merrill Lynch e Lehman Brothers, o que embaça a visão do cenário seguinte. É nele que se travará o jogo decisivo para as economias reais, com o corte abrupto das linhas de financiamento externo às exportações significando a primeira pancada efetiva sentida no Brasil. Os efeitos da crise financeira são transmitidos pela contração do crédito e pelas perdas patrimoniais, maciças nos EUA, como explica análise da MCM Consultores. O crédito é insumo de produção para as empresas e alavanca para o consumo pessoal. Como o sangue, irriga toda a economia, e onde falta, pode até necrosar a parte afetada. Sua redução influencia a demanda e a produção. Maior economia do mundo, com um quarto do PIB global, cerca de um terço da produção industrial, importador número 1 do planeta, com o canal financeiro conectado a tudo, o dólar como capital de giro internacional, uma crise brava nos EUA desmonta teoria, negócio, logística, riqueza.
Brasil S/A :: Antônio Machado

Nota
Bolívia
Brasil absorverá exportações

O presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmou que o colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, se ofereceu para absorver todas as exportações de seu país destinadas aos Estados Unidos, que poderão ser afetadas pela suspensão da Lei de Preferências Tarifárias Andinas e Erradicação de Drogas (Atpdea, sigla em inglês). Segundo Morales, em 2006, quando Lula soube que as vendas bolivianas para Washington sob a ATPDEA eram de “cerca de US$ 100 milhões ao ano”, o colega teria dito “vamos acomodar isso no Brasil”. A lembrança da oferta brasileira foi feita pelo boliviano em uma reunião na cidade de Cochabamba, com sindicatos de camponeses e operários ligados ao governo.
Nota

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