O juiz afirma que sofreu pressão para recuar no caso que levou à prisão de Daniel Dantas
Wálter Nunes
Wálter Nunes
O juiz federal Fausto de Sanctis estava agitado na tarde da quinta-feira. Ele acabara de prestar um depoimento de três horas à Polícia Federal sobre sua atuação na Operação Satiagraha, que investiga o banqueiro Daniel Dantas por crimes financeiros. Em julho, De Sanctis mandou prender Dantas duas vezes. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, concedeu dois habeas corpus para soltá-lo. Instalou-se uma crise no Judiciário, agravada por uma acusação da desembargadora Suzana Camargo, vice-presidente do Tribunal Regional Federal da 3a Região. Ela disse à PF que ouviu de De Sanctis trechos de uma conversa telefônica de Gilmar gravada ilegalmente. De Sanctis nega ter dito isso à colega, afirma ter testemunhas da conversa e diz que ela tentou pressioná-lo para manter Dantas solto.
ENTREVISTA – FAUSTO DE SANCTIS
QUEM É
Juiz federal da 6ª Vara do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, especializada em crimes de lavagem de dinheiro
O QUE FEZ
Responsável pelos processos que envolvem o Banco Santos, o traficante Juan Carlos Abadía, o doleiro Toninho da Barcelona e o caso MSI/Corinthians
O QUE PUBLICOU
Combate à Lavagem de Dinheiro, Editora Milleniun
ÉPOCA – A desembargadora Suzana Camargo disse em depoimento à PF que ouviu do senhor o conteúdo de conversas gravadas ilegalmente envolvendo o presidente do STF, Gilmar Mendes. Isso aconteceu?
Fausto De Sanctis – Nunca soube da existência de grampo ilegal ou clandestino. Evidentemente, não determinei nenhuma interceptação telefônica ou telemática (de e-mail ou de dados digitais) do ministro Gilmar Mendes ou de seu gabinete, até porque não tenho tal competência. Também nunca recebi “informes” nesse sentido. As únicas interceptações telefônicas ou telemáticas por mim autorizadas tinham como alvo pessoas supostamente ligadas ao grupo Opportunity.
ÉPOCA – Mas o senhor conversou com a desembargadora?
De Sanctis – Sim, na tarde de 10 de julho. Ela telefonou, mas não pude atendê-la. Retornei depois sua ligação.
ÉPOCA – Sobre o que vocês conversaram?
De Sanctis – Não gostaria de fazer qualquer juízo sobre a conduta de meus colegas, que sempre admirei e respeitei, aí incluindo a desembargadora Suzana Camargo. Mas eu me surpreendi com o teor da conversa, já que a desembargadora começou o diálogo invocando sua condição de amiga pessoal do ministro Gilmar Mendes. Ela me disse que ele estava irado com a notícia de que eu teria decretado a prisão preventiva de Daniel Dantas e gostaria de confirmar essa decisão. Confirmei que havia, de fato, decretado a prisão preventiva. Disse quais eram as bases legais e, principalmente, que havia fatos novos, elementos obtidos na busca e apreensão.
De Sanctis – Não gostaria de fazer qualquer juízo sobre a conduta de meus colegas, que sempre admirei e respeitei, aí incluindo a desembargadora Suzana Camargo. Mas eu me surpreendi com o teor da conversa, já que a desembargadora começou o diálogo invocando sua condição de amiga pessoal do ministro Gilmar Mendes. Ela me disse que ele estava irado com a notícia de que eu teria decretado a prisão preventiva de Daniel Dantas e gostaria de confirmar essa decisão. Confirmei que havia, de fato, decretado a prisão preventiva. Disse quais eram as bases legais e, principalmente, que havia fatos novos, elementos obtidos na busca e apreensão.
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