sexta-feira, 19 de setembro de 2008

José Saramago





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O escritor português José Saramago lançou, nesta semana, um blog na Internet para estabelecer uma nova forma de comunicação com seus leitores.



"Como se poderá constatar por estes vídeos, o véinhiii gossta muiiittchtiiiuu de fama e muiiié bonitchá... e mais novinha, né? E...para um comunista, sabe fazer bem o seu marketing. Mesmo com a vaidade transbordando o tempo todo, com o poeta tentando mostrar um pseudo-enfado diante do sucesso nos grandes centros do poder mundial, a produção dos vídeos foi muito boa. A produção, não o enfado falso. Não foi por nada que ganhou o Nobel. Sabe realmente fazer marketing. Aliás... acho que, fazer cara e jeito de enfado diante das câmeras, quando todos sabemos que aquilo é uma produção já acertada, pega muito mal para o estereótipo de um “sábio chinês”, que se quer construir... Ou não? Não gosto muito da prosa dele não. Aquele negócio de não saber lidar com ponto e vírgula é muito chato. Mas tem poesia boa. Tem sensibilidade aguçada. Ah!!! isso tem.

Said B. Dib



Segundo o autor, o espaço irá trazer "o que for, comentários, reflexões, simples opiniões sobre isto e aquilo, enfim, o que vier a talhe de foice". Intitulado "O Caderno de Saramago", o blog está disponível dentro do site da Fundação Saramago e já conta com dois textos publicados pelo vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. No primeiro, de 15 de setembro, o escritor resgatou um texto antigo sobre Lisboa, segundo Saramago, uma verdadeira "carta de amor" à capital portuguesa. "Decidi então partilhá-la com os meus leitores e amigos tornando-a outra vez pública, agora na página infinita de internet, e com ela inaugurar o meu espaço pessoal neste blog", escreve Saramago, ao apresentar o texto. Na entrada desta terça-feira, o autor comenta o pedido de desculpas da Igreja Anglicana a Charles Darwin por não compreender sua teoria evolucionista. "Nada tenho contra os pedidos de perdão que ocorrem quase todos os dias por uma razão ou outra, a não ser pôr em dúvida a sua utilidade", declarou o escritor em seu blog. Saramago terminou um novo livro, chamado "A Viagem do Elefante", que será lançado em breve em espanhol, português e catalão. Um trecho da obra está disponível no blog da Fundação José Saramago (http://blog.josesaramago.org/), onde também está hospedado o blog do escritor.
Maiesse Gramacho


A viagem do elefante
José Saramago terminou um novo livro. Chama-se A viagem do elefante.


Queridas amigas, queridos amigos,
Escrevê-lo não foi um passeio ao campo: Saramago lançou-se a esta tarefa quando estava incubando uma doença que tardou meses a deixar-se identificar e que acabou por manifestar-se com uma virulência tal que nos fez temer pela sua vida. Ele próprio, no hospital, chegou a duvidar que pudesse terminar o livro. Não obstante, sete meses depois, Saramago, restabelecido e com novas energias, pôs o ponto final numa narração que a ele não lhe parece romance, mas conto, o qual descreve a viagem, ao mesmo tempo épica, prosaica e jovial, de um elefante asiático chamado Salomão, que, no século XVI, por alguns caprichos reais e absurdos desígnios teve de percorrer mais de metade da Europa.
A viagem do elefante é um livro coral onde as personagens entram, saem e se renovam de acordo com as peculiares exigências narrativas que o autor se impôs e lhes impôs. O elefante e o seu cornaca têm nome, como outras personagens que figuram nos manuais de história, embora apareçam também pessoas anónimas, gente com quem os membros da caravana se vão cruzando e com quem partilham perplexidades, esforços, ou a harmoniosa alegria de um tecto depois de tantas noites dormidas à intempérie.
Apesar de não se tratar de um livro volumoso, andará pelas 240 páginas, poderemos reconhecer nelas a imaginação de Saramago, a compaixão solidária, esse sentimento que, sendo expressado literariamente, é sobretudo humano. Ele atravessa toda a obra, distingue-a e significa-a. Encontraremos igualmente o humor que o escritor emprega para salvar-se a si mesmo e para que o leitor possa penetrar no labirinto de humanidades em conflito sem ter de abjurar da sua condição indagadora de humano e leitor. Como sempre, encontrar-nos-emos com a ironia, o sarcasmo, a beleza em estado puro, a responsabilidade de escrever, a felicidade de ter escrito.
Saramago oferece-nos um novo livro. Que não é um livro histórico, embora trate de algo que está na história, ou, para ser mais rigoroso, na pequena história, embora intervenham personagens que tiveram vida real e que agora voltam a ter nova ocasião ao pôr-se a conviver com outras procedentes da imaginação do escritor e, todos juntos, habitar as mesmas páginas, ainda que nem sempre as mesmas peripécias. Quando lerdes o livro sabereis a que me refiro. A viagem do elefante está pontuado de acordo com as regras de Saramago, os diálogos intercalam-se na narração, um todo que o leitor tem de organizar de acordo com a sua própria respiração. O leitor, esse ser fundamental que Saramago considera e respeita e a quem continuamente interpela, seja adiantando-lhe consequências de certos actos ou recordando-lhe outros, implicando-o no texto, porque escrever, como ler, não são acções inocentes, são tentativas para forçar a inteligência a ir um pouco mais longe, mais além de Viena, de Valladolid ou de Lisboa, mais além do que éramos ao acordar de manhã e encontrar-nos com mais um dia pela frente.
Queridas amigas, queridos amigos, com estas linhas apenas pretendi dar a notícia de que vamos ter um novo livro de Saramago para incorporar na nossa vida de leitores. Não vos decepcionará, pelo contrário, ireis lê-lo, estou certa, com a mesma emoção com que foi escrito e sobrevooa cada linha, cada palavra. Não é um livro mais, é o livro que estávamos esperando e que chegou a bom porto, o leitor. Salomão, o elefante, não teve tanta sorte, mas disso não falarei, aguardemos o Outono, e então sim: aí, em vários idiomas simultaneamente, poderemos comentar páginas, aventuras, desenlaces. Os materiais da ficção, que são também os da vida.
A todos, um abraço e felicidades.
Pilar


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