domingo, 21 de setembro de 2008

Observatório

Domingo, 21 de setembro de 2008

Destaques dos jornais de hoje. O que merece ser lido. Se você não tem paciência ou não teve tempo para ler as notícias nos principais jornais de hoje, clique nos links logo abaixo das matérias para lê-las no clipping do Ministério do Planejamento, sem que seja necessário que se cadastre. Publicaremos esta seleção todos os dias entre 19h00 e 21h00. Nos finais-de-semana os links com as matérias completas serão da Radiobras, que exige cadastro.

Exagero
Christian Vonbun
O Globo


Editorial do GLOBO criticou meu recente texto que buscou definir o nível ótimo de reservas internacionais e estimar seus custos fiscais para o Brasil, afirmando que: "O custo existe (...), mas ter um colchão de amortecimento numa hora dessas não tem preço." Ora, o ponto do artigo é justamente mostrar que tem sim. Se, por exemplo, buscamos evitar uma crise que custa 0,3% do PIB, por que precisamos gastar 0,5%? Você poria um carro de R$10.000 em um seguro que custasse R$10.000,01, por maior que fosse o risco de perdê-lo? No cenário mais provável, as reservas ideais seriam de US$104 bilhões, um senhor colchão de liquidez. Claro que, havendo um aumento no risco de crise, o valor das reservas ótimas sobe, mas não parece o caso. O risco Brasil ainda sugere uma chance de crise na casa de 3%. O referido cenário, empregado no artigo, assume 4,3%. Também é preciso caracterizar a crise dos EUA. Mesmo impactando o mundo, ela difere das que afetaram o Brasil nos anos 90. Seu epicentro é no Primeiro Mundo e é lá que há um abalo de confiança, não nos emergentes. Assim, a saída de capitais não é uma fuga desesperada dos riscos dos países de renda média, mas uma repatriação para cobrir prejuízos nos desenvolvidos. Portanto, por mais que as reservas aliviem os efeitos desse "solavanco" sobre o Brasil, o ganho de credibilidade com os US$100 bilhões adicionais não é tão alto. O principal motivo é que a crise tende a ser transmitida ao país por fluxos reais, como os de comércio, além dos de investimento direto. E isso as reservas não resolvem, ajudam apenas parcialmente. Havendo uma queda nas exportações e/ou nos termos de troca, sofreremos os efeitos da crise a despeito das reservas, mesmo que elas os adiem por algum tempo.
Exagero :: Christian Vonbun

Panorama Político
Ilimar Franco
O Globo
Atalho
O governo pretende mudar as regras de distribuição de royalties das reservas de petróleo do pré-sal por decreto. Quer evitar um debate interminável no Congresso e um "canibalismo" entre os governos de estado. Uma pequena amostra foi o debate levantado pela bancada de São Paulo, suficiente para enfurecer os parlamentares do Rio, estado que mais recebe recursos do petróleo.

Governo regulamenta quilombos
O Incra deve publicar nesta semana instrução normativa aperfeiçoando a titulação de terras quilombolas. Houve um boom de pedidos de reconhecimento de remanescentes de quilombos nos últimos anos, e o governo quer evitar que o STF considere inconstitucional a legislação em vigor. Ficarão de fora três reivindicações do movimento quilombola: reconhecimento das comunidades baseado na simples auto-declaração, sem passar pelo Incra; emissão de título de propriedade mesmo em terrenos de Marinha, como a Restinga da Marambaia; e a utilização do termo "território" para referir-se às terras ou áreas. O presidente Lula é do PT, mas o governo é de 14 partidos" - José Múcio, ministro das Relações Institucionais, sobre a presença do presidente nas eleições

QUADROS PROFISSIONAIS.

O diretor-geral da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, propôs ao ministro Tarso Genro (Justiça) novos critérios para contratação de policiais. Quer impor restrições de idade e exigências de qualificação nos concursos. E quer criar um quadro especial que permitiria à PF fazer recrutamento direcionado de especialistas em áreas sensíveis no combate ao crime organizado, como informática e economia.

Jogar duro
Força-tarefa será criada pelo Ministério do Meio Ambiente e pela Advocacia Geral da União. Vai cair em cima dos 100 maiores desmatadores da Amazônia. Hoje, a cada 100 pedidos do Ibama, o Ministério Público abre só cinco processos.

O PT paulistano quer Maluf neutro

As negociações para o segundo turno já começaram. O PT paulistano quer o PP neutro e que Paulo Maluf não se manifeste. Os petistas não querem arcar com o desgaste de uma aliança com Maluf, mas também não querem que ele fique com o prefeito Gilberto Kassab (DEM). Nas eleições de 2004, quando o governador José Serra (PSDB) venceu, Maluf deu apoio a Marta no segundo turno. Os eleitores da petista não gostaram.
Panorama Político :: Ilimar Franco

Veríssimo
"Mafia capitalism"
O Globo

É em empresas como a Lehman Brothers e a Merrill Lynch que reinam executivos, gerentes de contas e corretores tão ricos e poderosos que receberam o apelido coletivo de Mestres do Universo. Seus rendimentos - entre salários, comissões, bonificações e dividendos - são tão desproporcionais aos de qualquer outro ramo de atividade profissional que adquiriram uma espécie de propriedade mística, como a transubstanciação na Eucaristia: incorporam a distância que separa Wall Street da economia real e o capital produtivo do capital como abstração autogerativa, e são o mais próximo que o valor de qualquer trabalho já chegou da metafísica. Os Mestres do Universo são produtos rarefeitos da "exuberância irracional" que dominou o mercado de capitais nestes últimos anos, na frase que já merece ser imortalizada como nome de banda de rap. Seu poder e sua riqueza deram a medida da irracionalidade.
Veríssimo


Ancelmo Gois
O Globo

Vixe, como tem Lula A conta é do TSE. Há 113 candidatos chamados Lula nestas eleições municipais. É gente que é Lula desde a pia batismal ou que incluiu o apelido ao nome para surfar na popularidade do presidente. Até tu, Ana Julia? A petista Ana Júlia, governadora do Pará, mandou retirar a PM da região de Novo Progresso, perto da BR-163, numa área afetada por queimadas. O Ibama fica sem apoio e os madeireiros fazem a festa. Posso perguntar? Será que Lula (que defendeu a atitude de Evo Morales de expulsar da Bolívia o embaixador dos EUA por ter se reunido com seus oposicionistas) nunca se encontrou com algum diplomata americano no Brasil em seus quase 30 anos de oposição? Coisa de idiota Surgiu na internet um blog (www.juliosevero.com) que faz campanha contra a vacinação anti-rubéola. O texto acusa o ministro Temporão de "defender o aborto" e mente ao dizer que a vacina seria "anticoncepcional". A Fiocruz detectou a bobagem. Nordeste está ficando branco A Pnad de 2007, que saiu do forno, reafirmou a tendência de redução do percentual de brancos na população. Mas no Nordeste, onde de cada dez nativos sete são pretos ou pardos, ocorreu o contrário: aumentou o contingente do pessoal, como diz o "Aurélio", da cor da neve, do leite, da cal; alvo, cândido (de 29,1% para 29,4% da população). É cedo para saber direito a razão desse tênue embranquecimento do nordestino. Mas Marcelo Paixão, professor da UFRJ e grande estudioso da questão racial, desconfia que haja um fluxo migratório de brancos do Sul para a região em busca de oportunidades (o Nordeste tem taxas de crescimento maiores que a média nacional) ou mesmo de uma vida mais sossegada (como é bom se espreguiçar numa rede na Praia de Atalaia, em Aracaju).
Ancelmo Gois

Debaixo do tapete
O Globo

No estado, 22 maiores cidades gastam R$40 milhões mensais com lixo, e eleições influenciam Cássio Bruno e Chico Otavio Limpeza é o negócio, mas o serviço prestado não garante uma população livre de toda a sujeira. Para recolher o lixo das 22 maiores cidades fluminenses, empresas privadas recebem mensalmente R$40 milhões das prefeituras. Um negócio milionário, onde a relação entre contratado e contratante nem sempre segue as regras do jogo. Enquanto as empresas doam dinheiro para campanhas políticas (20 candidatos nas duas últimas eleições), os prefeitos brindam o setor com contratos de até 30 anos de duração, muitos deles emergenciais, assinados com dispensa do processo de licitação. Das 22 cidades com mais de cem mil habitantes no Estado do Rio, só uma, Teresópolis, informou que não terceiriza o serviço de coleta. Nas demais, o trabalho é feito por 12 empresas, contratadas por licitação, emergência ou concessão - alguns contratos incluem também varrição das ruas e destinação do lixo. Uma delas, a Serviflu Limpezas Urbanas e Industriais, ganha R$5,2 milhões mensais para atender a quatro municípios (Nilópolis, Belford Roxo, Nova Iguaçu e São Gonçalo).
Debaixo do tapete

Mais de US$200 bi pelo ralo no país
ABALO GLOBAL
Jornal da Globo

No mundo, crise já varreu US$16 trilhões, ou seja, um PIB americano e um brasileiro Felipe Frisch

O temor que tomou conta do mercado financeiro nos últimos meses, em decorrência da crise no sistema financeiro internacional, já levou embora das bolsas mundiais quase US$16 trilhões desde 23 de julho de 2007, quando a crise começou a se agravar nos Estados Unidos, até a última quinta-feira. Somente a bolsa brasileira perdeu aproximadamente US$295 bilhões (R$540 bilhões). Esse montante é quanto o valor de mercado (soma de preços de todas as ações negociadas) das bolsas do mundo foi reduzido no período. Os dados, calculados pela Bloomberg não consideram, portanto, a recuperação da sexta-feira. No caso brasileiro, o Índice Bovespa registrou alta de 9,57% naquele dia. Como a variação do índice - formados por carteiras teóricas de alguns papéis - costuma ser próxima à do valor de mercado, o ganho do fim da semana passada deve representar uma recuperação de cerca de US$80 bilhões (R$146 bilhões). Ou seja, a perda até sexta-feira foi de cerca de US$215 bilhões (R$393 bilhões) no Brasil. Com isso, hoje, se alguém quisesse comprar todas as ações de empresas brasileiras na Bolsa, precisaria desembolsar cerca de US$1 trilhão (R$1,831 trilhão).
Mais de US$200 bi pelo ralo no país

Radicalizadas, bases ignoram diálogo na Bolívia

Milícias e grupos políticos contrários e partidários do governo Morales têm agendas alheias às negociações de cúpula Ricardo Galhardo

SANTA CRUZ DE LA SIERRA.

Enquanto brinca com um soco inglês em cima da mesa, o estudante José Luiz Velasco, chefe do Comitê de Defesa do Movimento ao Socialismo (MAS), partido do presidente Evo Morales, no Plán 3.000, avisa: - O povo é soberano. Evo é um governante e deve isso ao povo. Antes de fazer qualquer acordo ele deve nos consultar. Sem tirar a mão da arma, feita com pedaços de cano e pontas de pregos soldadas, Velasco mostra a sala de 10 metros quadrados que serve de escritório para a Casa do Povo, quartel-general dos militantes do MAS no Plán 3.000, uma favela semi-urbanizada com 270 mil habitantes na periferia de Santa Cruz de la Sierra. Sob pôsteres com fotos de Morales e Che Guevara há uma pilha de placas de madeira. São os escudos do Esquadrón Rojo (Esquadrão Vermelho), milícia de 2,5 mil jovens do bairro organizado nos moldes do Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN) mexicano. Vindos das camadas mais baixas da sociedade crucenha, alijados das benesses da região mais rica da Bolívia, eles estão dispostos a continuar a luta contra o governador do departamento, Rúben Costas, em que pese a possibilidade de um acordo de Morales com a oposição. Na quinta-feira o jovem Edson Ruiz, integrante da União Juvenil Crucenha, milícia ultraconservadora que funciona como tropa de choque da oposição a Morales, morreu vítma de confrontos com os rojos do Plán 3.000. A cerca de cem quilômetros dali, acampados em um campo de futebol na localidade de Sán Carlos, outros cinco mil homens armados com rifles, escopetas, porretes, bananas de dinamite e as tradicionais fundas cholas também aguardam o final das negociações entre governo e oposição. Na verdade eles também já tomaram uma decisão, pouco importando o resultado do diálogo: exigirão a renúncia de Costas, do contrário marcharão até Santa Cruz.
Radicalizadas, bases ignoram diálogo na Bolívia

A vez da ciência e tecnologia
O Globo

Governo abre mais de 300 vagas em concursos. Objetivo é atender ao PAC do segmento Rodrigo March Para quem atua ou pretende atuar na área de ciência e tecnologia (C&T), uma ótima notícia: o PAC do setor começa a sair do papel e, como atividades de pesquisa não são feitas sem recursos humanos, o governo está abrindo 365 vagas em concursos. As inscrições começaram, na última terça-feira, para mais da metade das oportunidades. O restante terá início ao longo desse e do próximo mês. A outra boa notícia é que os salários acabam de ser reajustados em 66%, para evitar a debandada de profissionais dos últimos anos. Os cargos são para os níveis médio e superior. O Ministério da Ciência e Tecnologia está oferecendo 338 vagas no total - 171 para a área fim (pesquisa) e 167 para a área meio (administrativa). O Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, dispõe de 18 vagas, sendo quatro em pesquisa. O Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para a Segurança das Comunicações (CEPESC) da Agência Brasileira de Informações (Abin), por sua vez, tem nove oportunidades em pesquisa.
A vez da ciência e tecnologia
EUA querem elevar dívida em US$ 700 bi para socorrer bancos
Folha de S. Paulo

O pacote que o governo dos EUA negocia com o Congresso prevê aumento do limite de endividamento público de US$ 10,6 trilhões para US$ 11,3 trilhões.Estima ainda um total de US$ 700 bilhões a ser gasto com a compra de papéis podres de instituições financeiras em dificuldade. Alguns detalhes vazaram ontem, após o governo enviar um esboço do plano aos congressistas.

Pacote eleva dívida dos EUA para US$ 11,3 tri
Total previsto para papéis podres será de US$ 700 bi

SÉRGIO DÁVILADE WASHINGTON
O pacote que o governo de George W. Bush negocia com o Congresso norte-americano prevê um aumento do limite de endividamento público do país de US$ 10,6 trilhões para US$ 11,3 trilhões. Prevê ainda um total de US$ 700 bilhões a ser gasto com a compra de papéis podres de instituições financeiras em dificuldade.Os detalhes vazaram na manhã de sábado, após o governo enviar o plano aos congressistas. Espera-se que o projeto entre em discussão já no fim-de-semana. A intenção do governo é que ele seja votado antes do recesso eleitoral do Congresso, previsto para começar na sexta-feira. "Vou trabalhar com o Congresso para a aprovação rápida de uma lei", disse Bush ontem pela manhã.O plano dá plenos poderes ao governo para comprar créditos ruins de qualquer instituição financeira pelos próximos dois anos, até o limite de US$ 700 bilhões. O valor é US$ 200 bilhões maior do que esperavam os políticos. Se aprovado o plano, que não deve evitar uma recessão na economia, será a maior operação-resgate conjunta realizada nos EUA desde a Depressão dos anos 30.Autoriza um salto de igual valor no limite da dívida do país para acomodar o gasto extraordinário. O valor da dívida hoje é de US$ 9,6 trilhões, com o limite de US$ 10,6 trilhões. "O pacote é grande porque o problema é grande", afirmou Bush. "Vou trabalhar com democratas e republicanos para tirar nossa economia dessa situação difícil e colocá-la de volta no caminho do crescimento."O documento, de duas páginas e meia, foi enviado aos líderes dos comitês financeiros do Congresso na noite de sexta. Nele, o Tesouro norte-americano pede que seja autorizado a comprar papéis relacionados a hipotecas que tenham sido emitidos até 18 de setembro de 2008 de toda instituição financeira que tenha sede nos EUA.
EUA querem elevar dívida em US$ 700 bi para socorrer bancos
A safena e a especulação
Clóvis Rossi
Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O pacote que o governo norte-americano está preparando para salvar a economia de um colapso equivale basicamente à colocação de uma ponte de safena para desentupir a artéria vital do capitalismo que é a circulação do crédito.É essa a análise de José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.Diz Lima Gonçalves: "A fragilidade subjacente do sistema financeiro são os ativos hipotecários ilíquidos que perderam valor com o ajuste do mercado imobiliário. Esses ativos sufocam o crédito e (...) estão entupindo o sistema financeiro".A pergunta seguinte inevitável é: a safena resolve o problema? Lima Gonçalves limita-se a dizer que "o programa precisa ser adequadamente desenhado e suficientemente grande para ter o impacto máximo, mas ao mesmo tempo proteger o contribuinte na maior extensão possível".De acordo, mas qual é o tamanho adequado? Provavelmente monstruoso a julgar pelos números impressionantes colecionados em notável trabalho sobre a crise ("Dinheiro, ganância, tecnologia"), de Norman Gall, diretor-executivo do Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial.
São Paulo - Clóvis Rossi: A safena e a especulação

O último teste!?
Clóvis Rossi
Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Lula está diante da possibilidade de se tornar, de fato, o grande eleitor de 2010, com capacidade de eleger Dilma Rousseff ou outro nome que lhe venha à cabeça como seu sucessor.Explico: a oposição costuma dizer que o petista se deu bem no Planalto por pura sorte, empurrado pelos ventos favoráveis da economia internacional e sem enfrentar nenhuma grave crise.Pois bem, lembra um aliado presidencial, Lula tem agora pela frente não uma crise periférica, como as do período de FHC, mas uma baita turbulência na maior economia do planeta, disseminando-se para Europa e Japão.Se fizer a travessia da tormenta com baixo grau de perdas, fortalecendo ainda mais a economia brasileira, Lula enfraquecerá o último discurso da oposição para tentar diminuir seus méritos.A tarefa não é nada simples. Ninguém sabe dizer com segurança o tamanho da encrenca armada no mundo desenvolvido nem quantas vítimas, leia-se bancos, ainda tombarão até que tudo volte à normalidade na economia.Lula, contudo, pode ser realmente um sujeito de sorte. Se a crise atual não é na periferia, mas na economia central, ela vem num momento em que o mundo já não depende exclusivamente dos EUA como seu principal motor.
Brasília - Valdo Cruz: O último teste!?

A namorada do marinheiro só
Plínio Fraga
Folha de S. Paulo

RIO DE JANEIRO - Em 1957, o Sputnik e a cadela Laika foram lançados ao espaço, e os soviéticos saíram na frente da corrida espacial contra os americanos. A África fervilhava com a independência de Gana. Mas o jovem marinheiro John McCain não estava preocupado com isso. Acabara de desembarcar no Rio, após se formar na Academia Naval dos EUA.Em seu livro de memórias, disse ter vivido, nesse ano, nove dias de paixão com uma brasileira que dirigia uma Mercedes, a quem teria conhecido numa festa no morro da Urca. Ninguém sabe ao certo quem ela é, mas surgiu candidata até em Magé. Quem viveu 1957 acha mal contada essa história da Mercedes.Pelo que mostram as gazetas de 1957, aquele verão tinha tudo para ficar na história. Uma comissão municipal discutia os modelos de banho que seriam permitidos nas praias e liberou a exibição do tronco nu para os homens.O hoje candidato a presidente levou a namorada ao cinema? As opções de lançamentos de 1957 eram excelentes. Um enamorado deveria optar por "Morangos Silvestres", de Ingmar Bergman, mas o marinheiro McCain poderia ter escolhido títulos mais afeitos à sua carreira, como "Trono Manchado de Sangue", de Akira Kurosawa.Se foi ao Maracanã, McCain pode ter visto o time do Botafogo que se sagraria campeão naquele ano, vencendo por 6 a 2 o Fluminense. E o Botafogo de 57 tinha Nilton Santos, Garrincha, Didi e Quarentinha e era dirigido por João Saldanha.
Rio de Janeiro - Plínio Fraga: A namorada do marinheiro só



Sem chave nem voto
Sérgio Dávila
Folha de S. Paulo

ATÉ AS PEDRAS do Capitólio sabem que essa eleição presidencial norte vai ser definida por cinco ou seis Estados indecisos, em que ainda não há um favorito claro, ou pêndulos, que oscilam entre candidatos democratas e republicanos a cada ciclo de quatro anos. Dois dos mais importantes são Ohio e Michigan. Neles, Barack Obama e John McCain estão em empate técnico.Muitas características os unem.Localizados no Meio-Oeste norte-americano, na região dos Grandes Lagos, são governados por democratas, respondem respectivamente pela sétima e a oitava maiores populações dos EUA e contribuem no Colégio Eleitoral com 20 votos e 17 votos. A instância é a que de verdade escolhe o presidente norte-americano, em 15 de dezembro, já que a eleição aqui é indireta.Esses 37 votos são preciosos numa corrida tão apertada como a atual, em que vence quem tiver 270 votos, ou metade mais um. Representam quase 14% da vitória. Não é exagero dizer que se Obama levar os dois, vira presidente -o mesmo para McCain. Outro aspecto une Ohio e Michigan: está em pleno curso nesses Estados uma campanha baseada em regra eleitoral que pode ser resumida pela frase "Lose your house, lose your vote" (Perca sua casa, perca seu voto).
Sérgio Dávila: Sem chave nem voto

Painel
RENATA LO PRETE -
painel@uol.com.br
Folha de S. Paulo

Política focalizada
Descontrolada à primeira vista, a escalada de hostilidades de Geraldo Alckmin contra Gilberto Kassab pode funcionar ou não, mas tem método e objetivo. O tucano sabe que a maioria do eleitorado não entende e nem se importa com questões como, por exemplo, de que maneira o hoje prefeito foi escolhido vice de José Serra em 2004. Seu target é uma fatia da classe média paulistana que sempre votou no PSDB e agora se inclina para Kassab. Na base do "discurso ético", e repisando permanentemente a idéia de que o candidato do DEM seria "de outra turma", Alckmin espera recolher nessa seara um ou dois pontos que o ajudem a se desvencilhar do empate com o prefeito.
Ah, é?
Enfurecidos com o uso do episódio da escolha do vice em 2004, serristas e kassabistas lembravam, na noite de sexta, que em 1994, quando da costura da chapa tucana para disputar o governo paulista, a opção preferencial de Mario Covas para vice não era Alckmin, e sim Walter Barelli.
Equilibrista.
Em carta distribuída pelas ruas de Fortaleza, Ciro Gomes (PSB) pede votos para a ex-mulher, Patrícia Saboya (PDT), dizendo que o programa Ronda do Cid, do irmão governador, "está funcionando", mas que a candidata "vai tirar os jovens da violência". E que com Lula "as pessoas podem comprar carro em 84 meses". No entanto, sob administração petista, a capital do Ceará "não tem projeto para o trânsito".
É show.
Em rota ascendente nas pesquisas, a campanha do ex-ministro Luiz Marinho (PT) prepara uma megaestrutura para receber cerca de 20 mil pessoas no comício que Lula fará no próximo domingo em São Bernardo do Campo. Será na Vila São Pedro, divisa com Santo André.
Onde pega.
Sem prejuízo da onda continuísta, pesquisas por todo o país apontam a área da saúde como calcanhar de aquiles da maioria dos prefeitos que buscam a reeleição.
O retorno.
Previsão de um tarimbado intérprete dos políticos e das pesquisas: encerrada a temporada de eleições municipais, o assunto terceiro mandato vai ressuscitar.
Casquinha.
Depois de levar o ministro Edison Lobão (Minas e Energia) à propaganda de candidatos do PMDB, a onda do pré-sal conseguiu transformar em estrela do horário gratuito o diretor da Agência Nacional do Petróleo, Haroldo Lima. Ele já gravou depoimentos para os candidatos do PCdoB em Belo Horizonte e Porto Alegre, além de vários no interior da Bahia, sua base eleitoral.Faca no pescoço. Sérgio Cabral (PMDB) reuniu-se no Palácio do Planalto com o advogado-geral da União, José Antonio Toffoli, para tratar da proposta de mudança na forma de cálculo dos royalties que o Rio de Janeiro recebe pela exploração de petróleo. O governador ameaçou recorrer ao Supremo Tribunal Federal se o Estado for prejudicado.
Classificados.
Estados como Bahia e Pernambuco já procuraram o Ministério de Minas e Energia para se oferecer como sede de algumas das 50 novas usinas nucleares que, segundo anunciou Lobão, serão construídas nas próximas décadas. Argumentam que o investimento e o retorno em empregos compensam o risco ambiental.
Painel
Grampos políticos
Janio de Freitas
Folha de S. Paulo
A investida contra Lula não parte da oposição, mas de duas alas inusitadas de infantaria: Mendes e Jobim
O problema dos grampos não existe mais. Ou, na pior hipótese, está em suspenso até a próxima safra. Não foi resolvido, todas as hipóteses a respeito continuam abertas. Transfigurou-se, assumindo a natureza que, talvez desde os primeiros vagidos, trazia com aparência de componente apenas intrometido, como um carona excessivo. O caso dos grampos é hoje um forte embate político, no qual escutas e maletas e agentes não passam de coadjuvantes úteis. Lula e seu governo foram imobilizados no caso. Estão reduzidos à inércia também por perplexidade e boa dose de covardia, mas, na mesma medida, pela investida persistente que, entre inúmeras possibilidades de idêntico quilate, concentra-se na hipótese de má conduta dentro do governo. Figurado, no caso, por uma área sempre passível de suspeições e, por seus próprios fins, sempre com dificuldade de explicações públicas -a Agência Brasileira de Inteligência, Abin.A peculiaridade do embate político é que a investida contra o governo, e portanto contra Lula, não parte da oposição partidária, nem conta com sua colaboração, toda ela perdida em um abobalhamento humilhante e desmoralizador. A ofensiva que sitia o governo é feita por duas alas inusitadas de infantaria. Uma está na cúpula de um poder do qual se supõe, como faz também a Constituição, alheamento em relação às questões políticas até que seja chamado, se o for, a apreciá-las em confronto com os princípios constitucionais. Cúpula personificada, nas atuais circunstâncias, pelo presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça, Gilmar Mendes.
Janio de Freitas


Mercado aberto
GUILHERME BARROS -
guilherme.barros@uol.com.br
Folha de S. Paulo
"O comunismo sempre salva o capitalismo"
A decisão do governo americano de fazer uma intervenção radical no mercado para evitar uma crise sistêmica no setor financeiro trouxe à tona a discussão sobre os novos rumos do capitalismo.O ex-ministro Delfim Netto acha que essa decisão do governo americano para tentar debelar a crise é, na verdade, um aperfeiçoamento da economia de mercado. Para ele, inaugura-se agora uma nova fase do capitalismo.Nesse novo capitalismo, Delfim diz que a economia pode vir a se tornar uma ciência mais preocupada com o princípio da moralidade, menos dura, mais resistente às imoralidades que, segundo ele, foram praticadas em excesso pelos bancos de investimento.Na verdade, Delfim diz que esse princípio da moralidade já estava presente na obra do filósofo escocês Adam Smith (1723-1790), considerado o pai do capitalismo, ao criar o chamado "espectador imparcial". Trata-se de uma figura que impõe regras de comportamento adequadas ao capitalista: não roubar, não praticar o monopólio, ter respeito aos cidadãos.De tempos em tempos, ressurge a figura do "espectador imparcial" para corrigir o curso do capitalismo. A história mostra que, volta e meia, o capitalismo passa por terremotos como o que ocorre agora.E, na maioria das vezes, o Estado é obrigado a encontrar saídas para salvar a economia de mercado.Exemplo clássico é o Crash de 29, considerado até agora a maior crise do capitalismo. Delfim lembra, por exemplo, que o presidente Franklin Delano Roosevelt, que governou os EUA de 1933 a 1937, chegou a ser chamado de comunista.Roosevelt foi quem criou o chamado "New Deal", que foi o nome dado ao programa implementado nos Estados Unidos para tirar o país da recessão com base, principalmente, em investimentos do Estado. Roosevelt sofreu muitas críticas por ter adotado um programa fincado principalmente nos gastos públicos.Delfim diz que a história se repete agora. De novo, o mercado precisou da mão pesada do Estado para sobreviver. O ex-ministro não se surpreenderia se, dentro em breve, a ação do governo americano for tão criticada quanto foi o "New Deal", de Roosevelt."Muitos vão dizer que se trata de uma ação contra o capitalismo. Toda vez que o Estado salva o mercado, ele é chamado de comunista", diz Delfim. "Há livros e livros que provam que o capitalismo só se salva com ações comunistas."Para o ex-ministro, agora não havia outra alternativa ao governo dos EUA. A crise é essencialmente de confiança, e não de liquidez. O tratamento precisava ser radical e cirúrgico.Para devolver um pouco de tranqüilidade, Delfim diz que era mesmo necessária uma intervenção forte do Estado para recolher todo o lixo provocado pelos excessos cometidos pelas instituições financeiras. Só assim seria possível restabelecer a confiança do mercado."No fundo, o que aconteceu foi que governo americano preferiu deixar de lado a teoria acadêmica e optar pela experiência", diz Delfim.
Mercado aberto

Vinicius Torres Freire
Folha de S. Paulo

Dúvidas sobre o pacotão americano
Economia dos EUA terá bancos sem capital, menos crédito para as empresas, menos emprego e risco de mais calote
O GOVERNO americano interveio em quase cada canto do mercado financeiro e preanunciou que vai intervir em escala ainda maior, com a intenção de conter desastre e anarquia adicionais.Passou a garantir as aplicações em fundos de investimento. Vai financiar e comprar títulos lastreados em prestação de carros e cartão de crédito a fim de ajudar esses fundos de investimento, que detêm tais papéis. Interveio no mercado de ações e títulos privados (proibindo vendas a descoberto de ações, o que não afeta apenas tais papéis). Financiou e fez o seguro da compra de banco quebrado. Tenta forçar fusões ou leilões de outras instituições. Estatizou as maiores financeiras imobiliárias e a maior seguradora. Quer centenas de bilhões de dólares para retirar de circulação outros tantos ativos financeiros micados. Preanunciar esse último passo foi crucial para debelar a ameaça de destruição iminente do sistema financeiro. Mas vai funcionar? O que significa "funcionar? Se o governo comprar os papéis podres de instituições financeiras pelo menor preço (em leilões), os bancos terão ainda menos capital, pois seus ativos perderão ainda mais valor. Menos capital, menos empréstimos.Isto é: recessão, mais ou menos profunda. Se o governo paga caro por tais ativos, gasta mais e faz ainda mais dívida, além de subsidiar enorme e grotescamente os bancos (embora, enfim, sem resolver o problema da descapitalização). A fim de reduzir seus riscos, o governo teria de obter, ao menos como garantia, ações dos bancos -mais estatização parcial e temporária, ao menos. Mas por que ninguém levanta a hipótese de obrigar os credores a trocarem dívidas por ações de instituições financeiras? O mercado financeiro quer subsídio e ponto? O governo vai revender tais papéis para instituições financeiras fortes.
Vinicius Torres Freire

Os pecados de Greenspan
David Blake
Folha de S. Paulo

Greenspan não fez nada enquanto os operadores de crédito hipotecário seguiam normas mais imprudentes

POR VOLTA de 2002, quando sua reputação como "o homem que salvou o mundo" estava no auge, Alan Greenspan, então presidente do Fed, veio ao Reino Unido receber sua comenda como cavaleiro. O maior fã de Greenspan, Gordon Brown, hoje primeiro-ministro britânico, fez questão de incluir no texto da honraria a explicação de que ele a estava recebendo por promover a "estabilidade econômica".Greenspan visitou o Comitê de Política Monetária do Banco da Inglaterra. Disse-lhes que o sistema financeiro dos EUA havia provado sua resistência em meio ao estouro da bolha da internet. Os preços das ações haviam caído à metade, e o nível de inadimplência nos mercados de títulos era elevado, mas nenhum banco grande havia quebrado.Greenspan teceu elogios à distribuição ampla dos riscos por meio do uso de instrumentos derivativos complexos. Um dos membros do comitê britânico perguntou como é que algo assim podia ter acontecido. "Alguém perdeu todo aquele dinheiro -quem ficou com ele?" Um ar de satisfação assomou ao rosto de Greenspan enquanto ele respondia: "As seguradoras européias". Seis anos mais tarde, a seguradora americana AIG foi na prática estatizada, para que sua quebra não explodisse o mundo financeiro.Muita gente culpa o Fed da era Greenspan pela confusão. E esses críticos estão certos, ainda que não pelo motivo mais mencionado. Nos últimos dez anos, não existem indícios de que os EUA tenham tido crescimento excessivo, causador de inflação. A economia precisava de juros baixos e de estímulo fiscal para evitar uma severa recessão. O Fed estava certo ao fazer a sua parte.
David Blake
Aprofundamento do mercado pelo Estado
Roberto Mangabeira Unger
Folha de S. Paulo
É preciso quebrar o molde das disputas ideológicas. Há dois séculos que a fórmula central dessas disputas é o Estado contra o mercado

QUANDO O Estado brasileiro quer assegurar o aproveitamento de alguma riqueza potencial ou latente do país, defronta-se com um dilema em quase todos os setores da economia. Isso é importante para nossa estratégia de desenvolvimento nacional. Construir solução, em colaboração com meus colegas ministros, é agora uma de minhas preocupações.Escolho um exemplo a dedo porque, ao contrário de muitos outros exemplos que poderia dar, ele é "lite".Não perturba interesses consolidados e poderosos. A tecnologia disponível no mundo para a indústria madeireira evoluiu para trabalhar com as florestas temperadas. Especialmente as de grandes países do hemisfério Norte, como Estados Unidos, Canadá e Finlândia. Tais florestas são mais homogêneas e menos ricas do que a mata úmida. Tal tecnologia não se adequa ao manejo controlado e sustentável de florestas como as que temos na Amazônia.A tecnologia apropriada, porém, ainda não existe. Nem no Brasil nem em lugar algum. Teria de ser inventada e fabricada. Essa é uma das várias razões pelas quais nossa indústria florestal tem eficiência tão baixa quando comparada, por exemplo, com a indústria madeireira da Finlândia. O que devemos fazer?


Os autoritários
Fabio Giambiagi
Folha de S. Paulo

Um dia o país precisará enfrentar os que, escudados nos "movimentos sociais", obstaculizam maior avanço rumo à modernidade
SE ALGUM dia as reformas que vêm sendo há anos postergadas entrarem finalmente na agenda das (futuras) autoridades, será preciso que o país se prepare para enfrentar aqueles que obstaculizam um maior avanço do país rumo à modernidade, escudados nos chamados "movimentos sociais".Sob o véu da suposta defesa dos interesses da maioria da população, o denominador comum de muitos desses grupos é o autoritarismo. Com base em uma retórica agressiva, estão na vanguarda de todos os movimentos de resistência à agenda que pretende integrar o Brasil às tendências mais modernas do mundo.São os mesmos que lideraram o movimento em favor da reestatização da Vale, dez anos depois de ela ter sido privatizada. Que grupos são esses?Eles representam a confluência de três vetores. O primeiro é o dos intelectuais intolerantes; o segundo, o de certos grupos políticos; e o terceiro, o de grupos sindicais dedicados à administração de recursos milionários.O primeiro grupo é representado por aqueles que enchem a boca para falar mal do famoso "neoliberalismo".

Folha promove ciclo de debates sobre a exploração do pré-sal
Folha de S. Paulo

Começa na quinta o ciclo "Folha debate o pré-sal". Serão diversos eventos em que o jornal reunirá especialistas para discutir os principais temas relacionados com os megacampos da região do pré-sal -da exploração do petróleo e do gás à distribuição da riqueza.O primeiro debate será sobre a proposta de criação de uma nova empresa 100% estatal para cuidar das reservas de petróleo da região do pré-sal.Participam da discussão o engenheiro David Zylbersztajn, que foi o primeiro diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), o geólogo Ivan Simões, coordenador do Comitê de Exploração e Produção do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo) e vice-presidente da British Petroleum, o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, professor emérito da FGV e ex-ministro da Ciência e Tecnologia (governo FHC), e o físico Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da UFRJ e ex-presidente da Eletrobrás. A mediação será de Valdo Cruz, repórter especial da Folha.O evento será às 18h30, na Folha. Inscrições podem ser feitas pelo pelo telefone 0/ xx/ 11/3224-3698, de segunda a quinta, das 14h às 19h, ou pelo e-mail
eventofolha@folhasp.com.br.
Folha promove ciclo de debates sobre a exploração do pré-sal

Ataque contra real expõe vulnerabilidade

Apesar das reservas acima de US$ 200 bilhões, financiamento do país depende hoje de capitais especulativos de curto prazo

Entre 2006 e 2007, passivo externo líquido subiu 49%; expansão ocorreu com alta de 71% nos investimentos especulativos acumulados
FERNANDO CANZIAN
Folha de S. Paulo

O ataque especulativo contra o real na semana passada e a disparada no preço do dólar, que chegou a subir 8,4% entre segunda e quinta-feiras, explicitaram mais uma vez a vulnerabilidade do Brasil -e sua forte dependência de capitais especulativos de curto prazo no equilíbrio das contas externas.Além de ter sido provocada pela especulação de investidores, a disparada do dólar (que cedeu só após o anúncio de intervenção do Banco Central) se deu pela saída de investimentos estrangeiros de curto prazo.Segundo analistas, ao lado do crescente déficit na conta de transações correntes (saldo em dólares do país com o resto do mundo), a dependência brasileira do capital especulativo é seu principal ponto fraco.Os estoques de investimentos estrangeiros especulativos no Brasil equivalem hoje a cerca de três vezes o tamanho das reservas em dólares no BC, segundo os últimos dados consolidados, em dezembro de 2007.O fato de o Brasil ter US$ 208 bilhões em reservas deixa o país mais seguro, mas, ainda assim, existem quase US$ 3 em capitais especulativos que podem sair a qualquer momento para cada US$ 1 em reservas.No momento em que esses investidores decidem tirar grandes volumes de dinheiro do país, como na semana passada, há forte pressão sobre o real, que tende a perder valor.
Ataque contra real expõe vulnerabilidade

Gota D'Água (1977) - Bibi Ferreira


"Precisamos de um novo Bretton Woods"
MARCELO NINIO
Folha de S. Paulo

Parece uma idéia que o presidente francês, Nicolas Sarkozy, conhecido por sua hiperatividade política e o gosto pelos grandes eventos diplomáticos, adoraria pôr em prática: uma conferência mundial, por iniciativa da Europa, para discutir regras para as desgovernadas finanças globais. A sugestão é de alguém próximo do poder francês, o economista Christian de Boissieu. Como presidente do Conselho de Análise Econômica, em Paris, ele é responsável por orientar os passos do primeiro-ministro, François Fillon. "Precisamos de um novo Bretton Woods, desta fez para discutir o sistema financeiro", disse Boisseu em entrevista à Folha, em referência à conferência de 1944 que estabeleceu as regras das relações comerciais e econômicas no pós-guerra.
"Precisamos de um novo Bretton Woods"

Desfecho negociado da ofensiva das últimas semanas mostra limites da oposição boliviana após confirmação de Evo Morales no cargo por dois terços dos eleitores
SALVADOR SCHAVELZON
ESPECIAL PARA A FOLHA

Enquanto os bloqueios, o massacre de camponeses e a reunião de presidentes sul-americanos vão ficando para trás, resta à Bolívia uma vez mais a difícil tarefa de conseguir um acordo entre o governo e a oposição.Durante o ano de 2007, na Assembléia Constituinte, e em janeiro, maio/junho e agosto deste ano, todas as tentativas de diálogo fracassaram. As condições para que o diálogo tenha sucesso poderiam surgir de um retorno na política boliviana da fórmula mágica da "maioria de dois terços". A fórmula traduz os 67,4% de votos conquistados por Evo Morales no referendo sobre sua Presidência, em 10 de agosto.O significado político é que, ainda que esse resultado não seja diretamente transferível, é provável que a Constituição que o governo deseja ratificar venha a ser aprovada. É esse cálculo que pode modificar a maneira pela qual o governo e a oposição vêm se relacionando.
Artigo: Bolívia, o novo acordo
Demarcações e identidade nacional
O Estado de S. Paulo

“O voto do ministro Carlos Britto sinaliza que todo o nosso processo civilizatório não passou de um grande equivoco.” Esta frase, do deputado Aldo Rebelo, ex-presidente da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, em artigo publicado terça-feira no Estado, concita a uma reflexão sobre a responsabilidade do Supremo Tribunal Federal (STF) na definição do sentido de nossa própria formação histórica. Referia-se ele ao julgamento, que corre no Supremo, de ações que contestam a homologação da área contínua de 1,7 milhão de hectares em favor de algumas tribos indígenas, na Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima. O voto do ministro Britto, favorável à homologação - e à chamada extrusão (expulsão) dos não-índios da reserva -, foi o único proferido até agora, já que o ministro Carlos Alberto Direito interrompeu o julgamento com pedido de vista. Será que, realmente, “o caldeirão étnico em que foi formado o povo brasileiro” não passou de um monumental equívoco antropológico? Afinal, a atual política de demarcação é a negação do que há séculos se faz no País para possibilitar à população indígena condições de mobilidade social e integração étnica. A questão é situada com acuidade pelo articulista ao descrever as expectativas conflitantes de duas índias da Raposa Serra do Sol. Uma, a advogada uapixana Joênia, casada com um “mestiço” e residente na cidade de Boa Vista, primeira indígena a advogar no STF - “num testemunho eloqüente de mobilidade social e integração à sociedade nacional” -, defendeu com ardor a expulsão dos não-índios; outra, a índia macuxi Elielva, acompanhava o julgamento ao lado de outras mulheres igualmente temerosas de terem a “família desfeita”, caso os agricultores e trabalhadores da região tivessem que abandonar as terras das quais tiram sustento há muitos anos. Como fazem as índias desde que Bartira se casou com João Ramalho, no século 16, Elielva desposara um camponês egresso do Tocantins e temia que este fosse removido da Raposa Serra do Sol, como muitos outros já foram. Esse argumento desfaz a impressão, que muitos possam ter, de que o conflito em Roraima é apenas uma disputa de terras entre índios e não-índios. Os indígenas, miscigenados ou aculturados, estão em ambos os lados. E, se é inadmissível que as tribos indígenas não tenham suas reservas, nas quais possam manter sua cultura e sistema de vida, também agride o bom senso dizer que as cinco tribos da Raposa Serra do Sol precisam ocupar uma faixa contínua de 1,7 milhão de hectares. A demarcação daquelas terras, como foi feita, exclui (por extrusão), além dos produtores rurais “vindos de fora”, índios que de alguma forma se integraram ao ecúmeno nacional. Não é, portanto, apenas o fato de a reserva de Roraima estabelecer-se em faixa contínua na fronteira que suscita a discussão sobre a segurança de nossa soberania - na medida em que indígenas ocupando terras contíguas às “suas”, mas localizadas em base territorial de outro país, podem assumir identidade nacional diversa da brasileira. A própria extrusão de brasileiros “não-índios” da região desqualifica noções sobre a identidade nacional. Não bastasse a situação de grave conflito, tendendo a tornar-se explosiva, criada em Roraima, agora a Funai estabelece como prioridade “demarcatória” Mato Grosso do Sul, onde desenvolve estudos sobre cerca de 10 milhões de hectares de áreas férteis, em 26 municípios, por sinal as mais produtivas do Estado e onde se encontram 30% dos seus estabelecimentos agropecuários. A região, que detém 61% da produção de soja do Estado - o maior produtor de soja do País - numa área cultivada de 1,7 milhão de hectares, aposta agora no cultivo da cana-de-açúcar para a produção de etanol. É claro que o que acontece em Roraima só pode deixar os agricultores de Mato Grosso do Sul muito preocupados. Como essa região concentra aldeias de índios guaranis-caiovás e como a Funai tem até junho de 2009 para apresentar os relatórios de identificação e delimitação das novas “terras indígenas”, aqueles produtores rurais só podem ficar em estado de pânico, quando vêem o que está acontecendo em Roraima. Esperemos que a decisão do Supremo ilumine da melhor forma a questão que, acima das demarcações, implica afirmar direitos da identidade nacional - em Roraima, em Mato Grosso do Sul e onde mais seja no território brasileiro.
Demarcações e identidade nacional

O day after da crise
Suely Caldas
O Estado de S. Paulo

Hoje há mil dúvidas sobre a duração e as conseqüências da crise econômica mundial e uma única certeza: o sistema financeiro não será mais o mesmo e vai sofrer importantes e intensas transformações. O economista norte-americano Joseph Stiglitz chegou a comparar: “A queda de Wall Street representa, para o fundamentalismo do mercado, o que a queda do Muro de Berlim representou para o comunismo.” Não chega a tanto.Afinal, o comunismo foi um sistema econômico, político e de poder que durou quase um século e desmoronou nos anos 80, enquanto o fundamentalismo de mercado não passa de uma vertente política liberal exacerbada que tentou se firmar no capitalismo financeiro e agora sucumbe mergulhado nos próprios erros. Mesmo nos EUA, onde integrantes do Partido Republicano (o presidente George W. Bush à frente) abrigaram e deram força à idéia de um mercado financeiro livre de regras de regulação, os fundamentalistas enfrentam resistências. Agora, com a candidatura abalada, o republicano John McCain escolheu para bode expiatório da crise o presidente da comissão de valores mobiliários dos EUA (SEC, Securities and Exchange Comission), Christopher Cox, e pediu sua demissão.
O day after da crise :: O day after da crise

Pressa de Evo levou Bolívia à divisão social
Para analistas, atos radicais puseram líder no caminho do autoritarismo
Renata Miranda
O Estado de S. Paulo

Após três semanas de ações violentas, que resultaram na morte de pelo menos 18 pessoas, governo e oposição na Bolívia finalmente tentam uma solução negociada para a crise - num diálogo no qual poucos analistas apostam. Num cenário otimista, diante de posições tão antagônicas, um acordo no qual os dois lados façam custosas concessões poderá adiar por alguns meses o próximo período de tensão. Quando Evo Morales chegou ao poder, em 2006, a Bolívia via ali a esperança de um fim para décadas de instabilidade política. O presidente indígena, representante de grande parte da população, dizia ter um projeto para “refundar” e unir novamente a Bolívia. No entanto, apesar do apoio de mais da metade dos bolivianos e de boa parte da comunidade internacional, fica a dúvida: por que Evo não consegue tirar o país da crise?“Apesar do grande apoio popular e dos 67% de votos que obteve no referendo revogatório de 10 de agosto, Evo não conseguiu trazer união para o país porque insistiu no processo de mudança radical”, afirmou ao Estado o cientista político Carlos Cordero, da Universidade Mayor de San Andrés. “Processos de mudança democráticos são lentos e complicados e Evo insistiu em reformas rápidas, que tivessem efeitos imediatos, e essa imposição causou a resistência no país, que já deixou claro que rejeita imposições.”
Pressa de Evo levou Bolívia à divisão social

'O real não viaja'
O Estado de S. Paulo

Para Fabio Barbosa, a economia brasileira será menos afetada pela crise que corrói os mercados no mundo
A crise dos mercados é nervosa, histérica, caótica, mas Fábio Barbosa, presidente da Febraban, está calmo. Aliás, ele é calmo. Raras vezes, nessa sua trajetória até a presidência do Santander - por meio da compra do ABN Amro-Real -, alguém assistiu a algum rompante seu mais significativo. E, agora, com os mercados ruindo como em um castelo de cartas, o habilidoso executivo consegue manter a racionalidade. Total.
'O real não viaja'

Unger quer criar o Incra da Amazônia
O ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, quer criar uma autarquia federal que coordene o processo de regularização de propriedades na Amazônia Legal. Para tanto, pretende tirar poderes do Incra. O caos fundiário envolve 96% da superfície da região.
Um novo plano de sustentabilidade
Ministro de Assuntos Estratégicos quer tirar do Incra o controle da regularização fundiária
Vasconcelo Quadros
Jornal do Brasil

O ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, quer convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que a regularização fundiária envolvendo praticamente toda a superfície dos nove Estados da Amazônia Legal é condição indispensável para a implantação do Plano Amazônia Sustentável (PAS). Nem que para isso tenha de sacudir as estruturas do próprio governo. Depois de longas reuniões com os governadores, ministros, dirigentes dos institutos estaduais de terra e duas propostas deixadas de lado, Unger agora quer criar uma autarquia federal que coordene o processo de regularização fundiária.
– Será um Inmetro fundiário – anunciou o ministro, referindo-se ao Instituto Nacional de Metrologia Industrial, órgão de excelência do governo federal.
Em nome do consenso surgido durante as reuniões com os governadores, ele abriu mão de suas duas sugestões iniciais – um instituto ou uma agência – para se fixar num modelo leve, enxuto e eficaz que, sob sua coordenação e com a chancela de política do governo federal, possa organizar as soluções para o caos fundiário que envolve mais de 96% da superfície da Amazônia Legal ou 61% da extensão territorial do país.
Unger quer criar o Incra da Amazônia

Informe JB
Leandro Mazzini
Jornal do Brasil

As revelações de um crepúsculo

Num crepúsculo do fim de semana passada, em sua casa em Mangaratiba, o governador do Rio, Sérgio Cabral, tomou coragem e puxou papo com o presidente Lula, seu hóspede, sobre um assunto amargo para ambos. Meio na bricandeira, Cabral pediu ao presidente neutralidade dele no segundo turno do Rio, caso se confirmem as presenças de Eduardo Paes (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB). Lula olhou para o mar e, soltando palavras indefinidas e sussurros, deixou a entender que isso é impossível porque, assim como desfruta de grande amizade com Cabral, "tem uma dívida de gratidão" com o amigo José Alencar, do PRB – e, por tabela, com Crivella. O dia acabou e Lula não deu a resposta que Cabral queria. O segundo turno vai mostrar o que presidente não quis dizer.
Meu herói
O presidente Lula não se encanta fácil com as pessoas, mas uma, em especial, o conquistou. É o tenente-coronel Lyra, comandante do Aerolula, que está internado em Brasília. Ele doou um rim para um colega de turma da FAB. Lula só fala nisso.
Nas alturas
Lyra também é ajudante-de-ordens de Lula e se afastou do avião presidencial há meses para fazer um curso no Rio. Volta em janeiro como comandante do Grupo de Transportes Especiais – GTE, que cuida dos vôos do primeiro escalão.
Baixa na AGU
É certa a exoneração de Joaquim Pereira dos Santos, atual procurador regional da União da 1ª Região. Atribui-se a sua queda a desentendimentos com a cúpula da Advocacia-Geral da União.
Reformas
Outra versão na AGU dá conta de que o órgão quer fazer uma reformulação geral no comando das procuradorias.
Baixinha pode!
Por falar nessa turma, a Procuradoria Regional da 2ª Região deu parecer favorável a uma candidata reprovada num concurso da Aeronáutica porque era baixinha – tinha menos que 1,55 exigidos pelos militares.
Informe JB :: Leandro Mazzini

Sete Dias :: Augusto Nunes
Jornal do Brasil

Conte o caso inteiro, ministro
Jobim, o ultrapolivalente – De general da selva a controlador geral da imprensa brasileira
Em outubro de 2003, o país foi confrontado com a anatomia de uma delinqüência que, praticada 15 anos antes pelo deputado constituinte Nelson Jobim, assumiu dimensões bem mais perturbadoras ao ser revelada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim. Com a naturalidade de quem está explicando por que prefere chimarrão a café, o parlamentar gaúcho encarregado de redigir o texto definitivo da Constituição de 1988 confessou ter infiltrado dois artigos que não foram sequer examinados pelo plenário.
Se o país tivesse juízo, a reação indignada generalizada obrigaria Jobim a devolver a toga, identificar os textos contrabandeados, pedir perdão ao povo em geral e a seus eleitores em particular, voltar aos pampas e ali esperar a intimação judicial. Mas o Brasil não faz sentido.
Como pôde ter sido ministro da Justiça quem faz uma coisa dessas?, berrariam milhões de suecos. Como pode alguém assim ser vice-presidente do tribunal que decide o que é ou não constitucional?, urrariam incontáveis finlandeses. Os balidos franzinos do rebanho confirmaram que o Brasil é o único país com hímen complacente.
Sete Dias :: Augusto Nunes

Anna Ramalho
Jornal do Brasil

Assunto certo
Além da Missão de Paz do Brasil no Haiti e mudanças climáticas, entre outros assuntos manjados, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, tem se preparado para um assunto que pode ser tratado na 63ª Assembléia Geral da ONU, da qual participa, terça-feira, em Nova York. Adivinhou quem pensou na crise norte-americana. Aquela que para o presidente Lula é uma coisica de nada.
Verde e amarela
Cingapura respira ares de Brasil desde ontem. No Latin Asian Business Forum, o país estará representado pelo secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Ivan Ramalho, e por José Milton Gama, enviado pela Secretaria de Portos. Já a Marinha mandou o navio-escola Brasil.
Anna Ramalho

Crise no centro do capitalismo
Ubirajara Loureiro
Jornal do Brasil

Quebra financeira originada nos EUA gera preocupações entre especialistas e cidadãos comuns
Se não chegou a ser uma surpresa para os especialistas, o eclodir da crise financeira que está abalando o coração do capitalismo mundial, ao atingir em cheio a economia americana, está deixando o mundo com a respiração suspensa, diante da imprevisibilidade de seu desenvolvimento.
De repente, gigantes da finança americana sucumbiram ou estão à venda na bacia das almas, caracterizando risco concreto de um efeito dominó em que a queda de uma instituição vai arrastando outras, algo até pouco tempo impensável para a maioria da população mundial.
Na origem de tudo, uma euforia no mercado imobiliário americano, com a concessão dos chamados créditos ninja – no income, no job, no assets (financiamentos a pessoas sem renda, sem trabalho, sem patrimônio), por parte de duas megainstituições financeiras, Fannie Mae e Freddie Mac.
Sem qualquer fiscalização institucional, estas duas entidades emitiam títulos com juros elevados colocados no sistema financeiro, e entraram em colapso quando o preço dos imóveis começou a cair, deixando os tomadores de empréstimos sem condições sequer de venderem os bens para quitação dos débitos.
No seu rastro, abalaram-se instituições financeiras que, na busca da maximização de lucros, compravam sem cautela no mercado de derivativos títulos hipotecários sem lastro saudável.
Crise no centro do capitalismo

Brasil e o mundo de ponta cabeça
Luiz Fernando de Paula
Jornal do Brasil

O historiador inglês Christopher Hill, ao analisar as idéias radicais durante a Revolução Inglesa de 1640, denominou o período analisado de "Mundo de Ponta Cabeça". Olhando o furacão que está ocorrendo no mundo atual, com quebradeiras de grandes instituições bancárias, como os dois grandes bancos de Wall Street, Lehman Brothers e Merrill Lynch e o socorro do governo americano ao gigante do mercado de seguros AIG, o mundo está literalmente de ponta cabeça!
O leitor, perplexo com o furacão que atinge o sistema financeiro americano, certamente está se perguntando: qual será o efeito da crise sobre o Brasil? Esta é uma pergunta cuja resposta não é fácil de responder, pois tudo depende da duração e gravidade da crise americana e sua propagação no resto no mundo. Mas sem dúvida a crise será muito mais profunda do que se esperava até poucas semanas atrás, assim como parece estar definitivamente enterrada a idéia de um possível "decoupling", ou seja, de um deslocamento dos países emergentes em relação à crise nos países desenvolvidos.
Brasil e o mundo de ponta cabeça

Deixem os riscos em Las Vegas
Thomas L. Friedman
THE NEW YORK TIMES/ Jornal do Brasil

Quando vejo ações de instituições financeiras irem pelos ares, como nos últimos meses, eu geralmente escuto uma voz, semelhante à de um daqueles crupiês em Las Vegas, no momento em que recolhe suas fichas depois de você perder no blackjack: Obrigado por jogar, senhoras e senhores.
Isso é o que acontece quando as bolhas estouram. Você se sente destruído, e a leveza com que os crupiês – nesse caso os mercados – varrem todas as suas fichas é irritante. É fácil se desesperar, mas é importante que não o façamos. Agora é a hora de saber o que os mercados podem fazer melhor e o que os governos precisam fazer melhor.
Vamos entender o que aconteceu aqui. Wall Street – a indústria financeira – se tornou uma bolha nos últimos anos graças a um excesso de liquidez e a mais velha fabricante de bolhas da história: ambição. Algumas das pessoas mais espertas esqueceram-se das regras mais antigas do investimento: Não há retorno livre de riscos. Quando você vai muito longe pelo lucro, mais cedo ou mais tarde você se queima.
Nos anos 90, o retorno de alto lucro, sem risco nem perdas foi conseguido com as ações de empresas da internet. A versão dessa década é formada por ações financeiras e hipotecas subprime. Assim como a internet nos anos 90, as ações financeiras inflaram com níveis e salários ridículos para os executivos de Wall Street. Você agora está vendo ao vivo e em cores a bolha estourar: Obrigado por jogar, Lehman Brothers. Isso é muito triste para uma empresa de 158 anos.
Deixem os riscos em Las Vegas

Saúde precária
Sem contratar servidores há 25 anos, ministério sobrevive com temporários.
Correio Braziliense

Quadro de pessoal do ministério está envelhecido devido à falta de concursos. A situação está tão debilitada que consultores são contratados desde 1990 para fazer as políticas públicas do setor
Lúcio Vaz/Da equipe do Correio

Sem realizar concurso público há 25 anos para reposição de servidores da sede e dos núcleos estaduais, o Ministério da Saúde opera hoje com um quadro funcional caótico. São 53 mil servidores ativos de carreira contra 103 mil aposentados. Mas vai ficar pior. Entre os ativos, a metade tem idade entre 51 e 60 anos. Nos próximos sete anos, todos os atuais servidores de carreira terão tempo de serviço para se aposentar, com exceção dos 4,5 mil aprovados no concurso para hospitais do Rio em 2006. Na sede do ministério, apenas 30% são servidores de carreira. A pasta reivindica ao Ministério do Planejamento, desde 2003, a realização de concurso público para modernizar o seu quadro funcional. Em 2005, pediu a abertura de 16 vagas. Foram aprovadas 900, além de 500 postos temporários. A partir de 2004, o Planejamento autorizou 8.200 vagas para órgãos como a Fundação Oswaldo Cruz, Agência Nacional de Saúde (ANS), agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e hospitais próprios. Fazia 20 anos que esses órgãos não renovavam seus quadros. Parece muito, mas é pouco diante do número de vagas autorizadas para o Ministério da Educação, uma pasta de porte semelhante ao da Saúde: 64 mil vagas.
Saúde precária

Rescaldos dos grampos no STF
Maurício Corrêa
Correio Braziliense

Advogado
O ministro Gilmar Mendes, ao deferir os dois primeiros habeas corpus da Operação Satiagraha, não foi nenhum impudico liberalóide. As acres críticas que lhe foram dirigidas provam-no agora mais do que certo. Pouca gente o poupou de estocadas. Não ficou de fora o arsenal de matérias condenatórias veiculadas pela mídia. De toda pancadaria, a que veio de juízes e de membros do Ministério Público foi a que mais espanto causou, por ser proveniente de onde se esperava equilíbrio. Notas dessas entidades se apressaram em formular juízos precipitados contra o presidente do Supremo. É bom não esquecer que, até mesmo a Central Única dos Trabalhadores (CUT), entrou na dança dos que queriam sua degola. Tamanha insanidade culminou com o desplante de caras-de-pau da entidade requerem, perante o Senado Federal, que fosse declarado seu impeachment. Qual o fundamento? Ora, pela simples razão de haver concedido as duas ordens liberatórias. É de raciocínio primal que o juiz, no exercício jurisdicional, é livre e soberano para lavrar suas decisões. Deferir ou indeferir ordens de habeas corpus são atos que os magistrados brasileiros proferem aos milhares todos os dias. Imagina se todos eles fossem punidos por crimes de responsabilidade pelo fato de mandar soltar ou não mandar soltar presos.
Rescaldos dos grampos no STF :: Maurício Corrêa

Liberdade médica em risco
José Antônio de Lima
Correio Braziliense

Nos dias atuais, em que o sistema de saúde do país já sofre com inúmeros e sérios problemas, setores do poder público vêm atuando de forma a levar a assistência à saúde a verdadeiro colapso, colocando em risco a lógica de funcionamento do sistema e, conseqüentemente, milhões de pacientes, médicos, hospitais e profissionais da área da saúde. A novidade diz respeito a fiscalização dirigida que o Ministério do Trabalho está promovendo em estabelecimentos hospitalares de todo o país. Durante as fiscalizações os agentes, de forma praticamente padronizada, solicitam aos hospitais nomes dos médicos que atuam ou atuaram em suas dependências ou com os quais mantêm ou mantiveram algum relacionamento. A seguir, sem ouvir qualquer das partes e sem maiores diligências, promovem a autuação dos hospitais, alegando que eles deveriam assinar a carteira de trabalho dos médicos, que seriam, na ótica da fiscalização, empregados dos hospitais.

Nas Entrelinhas
Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense

Ensaios sobre a crise
A China parece ser o único candidato plausível para substituir os Estados Unidos e tornar-se a principal força condutora da economia capitalista global. Será?
luiz.azedo@correioweb.com.br
É um equívoco confundir a globalização com o neoliberalismo, a implementação das idéias monetaristas de Milton Friedman, dos EUA, e de Friedrich August Von Hayek, da Grã-Bretanha, após a crise do petróleo de 1973. Como os governos não conseguiam financiar os gastos públicos do Estado de bem-estar social que surgiu após a II Guerra Mundial, os dois economistas defenderam sua retirada da economia como forma de combater os déficits públicos, equilibrar as balanças comerciais e controlar a inflação. A tese funcionou. Margareth Thatcher, na Inglaterra, e Ronald Reagan, nos Estados Unidos, lideraram a reforma conservadora que promoveu um longo ciclo de crescimento mundial e implodiu a União Soviética. Foram 30 anos de hegemonia, cujo colapso político pode ser atribuído ao militarismo do republicano George Bush, que se atolou nos cafundós do Iraque e do Afeganistão. No plano econômico, a desregulamentação do mercado financeiro entrou em parafuso nos Estados Unidos. A bagunça fez a casa cair. Tudo o que é sólido se desmancha no ar, mas a globalização continua.
Nas Entrelinhas :: Luiz Carlos Azedo

Brasília-DF
Denise Rothenburg
Correio Braziliense

Nau dos aflitos

denise.rothenburg@correioweb.com.br

Bateu o desespero nos partidos de oposição ao governo Lula. PSDB e DEM passaram os último dias reclamando da escassez de recursos para as campanhas nesta reta final. Alegam que o empresariado não quer briga com o governo Lula, daí, a resistência a doações. E, ao mesmo tempo, a maioria está fugindo do chamado caixa 2, temendo problemas futuros como ocorreu com o PT em 2004 e os repasses feitos pelo publicitário Marcos Valério.
* * *
À falta de recursos, soma-se o temor de que, mantida a popularidade do presidente Lula em alta pelos próximos dois anos, a história se repita em 2010. Assim, a sobrevivência dos baluartes da oposição, em especial, no Senado, estará ameaçada. Na lista, Arthur Virgílio Neto (AM), Sérgio Guerra (PE), Tasso Jereissati (CE), pelo PSDB; José Agripino (RN), Marco Maciel (PE), César Borges (BA) e ACM Júnior (BA), os quatro do DEM. Não é à toa que estão todos mergulhados em seus respectivos estados cuidando das disputas municipais para tentar preservar alguma base política que permita o retorno no futuro.

Visto, Lido e Ouvido :: Ari Cunha
Ari Cunha -
ari.cunha@correioweb.com.br
Correio Braziliense

Riqueza dos outrosMinério de ferro do Brasil é vendido à China. O transporte percorre 16 mil quilômetros. O comprador transforma a matéria-prima em trilhos. O Brasil compra seu minério já trabalhado, pronto para uso. A tonelada de trilhos é cobrada a US$ 850. A matéria bruta do Brasil é vendida a R$ 136. A partir de 2009, importaremos 370 mil toneladas de trilhos. A produção do setor agropecuário garantiu receita por volta dos US$ 400 milhões. Ocorre que não conseguimos dar um salto de qualidade na comercialização, reduzindo a venda de produtos brutos e ampliando o valor agregado nas exportações. Seria incremento à industrialização. Somos importantes na produção, mas perdemos na pureza do produto industrializado. Dez anos atrás, o Brasil era responsável pela exportação de 44% da produção de óleo de soja. Os números caíram para 24%. No mesmo período as exportações de soja passaram de 12% para 42%. Somos craques nas exportações de grãos. Não temos capacidade de vender produtos industrializados. O ministro Miguel Jorge acompanha a vida do Brasil no exterior, e atesta que as coisas poderão mudar a nosso favor. (Fonte: entrevista de Robert Smith, presidente do Banco do Nordeste)
Visto, Lido e Ouvido :: Ari Cunha

Entrevista :: Carlos Ayres Britto
TSE quer evitar que eleitor seja coagido a escolher o candidato imposto
Mirella D´Elia
Da equipe do Correio Braziliense

A Justiça Eleitoral quer estender a todo o país, ainda nesta eleição, a proibição de votar com celulares, máquinas fotográficas e filmadoras. O objetivo é evitar a coação de eleitores. A medida já foi adotada no Rio, após denúncias de que quadrilhas estariam exigindo fotos com a comprovação dos votos em candidatos impostos por elas. “O importante é garantir o eleitor quanto ao sigilo do seu voto”, disse o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Carlos Ayres Britto. Em entrevista ao Correio, o comandante das eleições criticou duramente a tentativa de milícias e traficantes de alcançar o poder. “É de uma insolência e de uma petulância que não têm tamanho”, afirmou. E acrescentou: cabe ao eleitor fazer uma boa escolha. “Quatro anos é muito tempo
Entrevista :: Carlos Ayres Britto

Admirável mundo novo
Jorge Werthein
O Estado de Minas

Brasil é hoje o sexto maior mercado do mundo de internet
Em 2007, na área de informação, ocorreram fatos relevantes no país: pela primeira vez a venda de computadores foi superior a de televisores. Os setores sociais menos favorecidos foram beneficiados pela queda de preços e por financiamentos mais longos. Pela primeira vez no Brasil, mais da metade dos internautas navegou por meio de equipamentos colocados em empresas, universidades e lan-houses, ou seja, fora de casa. Por essa razão, 78% dos acessos foram feitos em banda larga. A popularização do uso deste tipo de conexão a tornou mais popular, elevou o número de usuários, ganhou maior velocidade, o que deve resultar na queda dos preços. O Brasil é hoje o sexto maior mercado de internet. Ainda está distante da Europa e dos Estados Unidos, mas chegará ao final deste ano com cinqüenta milhões de usuários. Operam no país, segundo a Anatel, 130,5 milhões de aparelhos celulares, que atendem a 65,5% dos 5.564 municípios, ou 91,7% da população nacional. Os 34,5% dos municípios brasileiros ainda não servidos pela telefonia celular terão os serviços em funcionamento até o final de 2010. Em 2018, é previsto que o número de aparelhos chegue a 250 milhões. E o número de conexões de banda larga, atualmente em 10 milhões, chegue a 160 milhões, dos quais 120 serão pontos de acesso móvel.
Admirável mundo novo :: Jorge Werthein

Cláudio Humberto
BB promove aloprado do dossiê
Jornal do Commercio

O governo Lula fingiu punição, exonerando Expedito Veloso da diretoria de Gestão de Riscos do Banco do Brasil, após a Polícia Federal apontar seu envolvimento na gangue do dossiê anti-tucanos. Agora, o “aloprado” foi promovido a gerente-geral da BB Previdência, cargo equivalente a diretor do banco. Passados dois anos, a PF ainda não apontou a origem da montanha de dinheiro apreendida com o “aloprado” Hamilton Lacerda. Lula usou a expressão “aloprados” para designar os amigos acusados de elaborar o dossiê anti-tucano, como o churrasqueiro Jorge Lorenzetti.
» PÉ-FRIO FEDERAL
Candidato a prefeito de Petrolina, o deputado Gonzaga Patriota (PSB) precisa se benzer contra Lula, que o elogia todo dia no horário eleitoral. Após a visita do pé-frio federal à cidade, Patriota caiu nas pesquisas.
» Monteiro 1
A Advocacia-Geral da União recorreu da decisão do Supremo Tribunal Federal, ainda não transitada em julgado, que condenou o Tesouro Nacional a indenizar em quase R$ 400 milhões a usina Cucaú, em Pernambuco, cujos controladores - entre eles Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria - alegam prejuízos provocados pela política de preços do governo, anos passados.
Monteiro 2
Jair José Perin, procurador-geral da União substituto, disse que ainda há muito a recorrer da indenização lotérica à usina da família Monteiro.
» Sorry, periferia
Enquanto o Brasil se chateia com o detestável horário eleitoral, Brasília se delicia, na Globo, com a reapresentação da minissérie JK.
» Sentido
O governo Lula negou asilo político ao ex-prefeito de Pando Leopoldo Fernández para não prejudicar relações com a Bolívia. Mas o concedeu ao “padre” narcoterrorista das Farc Olivério Medina, acusado de homicídio na Colômbia.
Teste
O governo do Chile anunciou que pedirá explicações ao semiditador Hugo Chávez sobre a expulsão do chileno José Miguel Vivanco, diretor da Human Rights Watch. Se fosse brasileiro, coitado...
» Pescador
Jantando um peixe que ele próprio pescou, no fim de semana passado no Rio, o presidente Lula disse ao governador Sérgio Cabral que ele seria um vice ideal para Dilma Rousseff, em 2010. Cabral acreditou.
Inteligência e polícia são uma mistura heterogênea.” Nery Kluwe, presidente da associação dos funcionários, sobre a “policização” da Abin.
Cláudio Humberto

Paulo Sant’Ana
Retrocesso inacreditável
O Estado de Minas

O nosso conterrâneo ministro da Defesa, Nelson Jobim, uma das pessoas mais respeitadas pela sua lucidez nesta República, teve uma lamentável recaída autoritária.Nelson Jobim pregou na última semana, em plena CPI dos Grampos, na Câmara Federal, o fim de um instituto que é cláusula pétrea dos direitos humanos nos países mais adiantados em civilização: o direito dos jornalistas de não revelar as fontes de suas notícias.Quando era parlamentar, Nelson Jobim perdeu a excelente oportunidade, como membro exponencial da Constituinte, de ter inserido em nossa Carta o fim do sigilo da fonte. Tivesse tido êxito, o Brasil teria derrubado uma das maiores garantias individuais entre as que sustentam a democracia.
Paulo Sant’Ana

Investimento do Estado é a esperança
Zero Hora

MUNICÍPIOS

Recursos devem atender sobretudo às vocações naturais de cada um
MICHELINE FERREIRA/Da Redação
A única luz no fim do túnel para os prefeitos endividados, na análise do presidente do Consórcio Intermunicipal do Nordeste Paraense (Coinp), Fernando Edson Loureiro, é a providencial ajuda do governo do Estado em investimentos para melhorar a gestão e, paralelamente, direcionar recursos para as verdadeiras vocações das regiões paraenses. "O que os prefeitos que vão chegar podem esperar é desafio e muito trabalho", observou.
Ele defende, por exemplo, que a região Nordeste, que tem vocação para o Turismo e a Agricultura, recebam recursos e auxílio nesse sentido. Enquanto isso não acontece, o Consórcio vai oferecer o básico para tirar o pé da lama e os novos prefeitos saírem do atoleiro. A partir do próximo mês, ou mais tardar em novembro, começam os seminários para prefeitos eleitos e equipes conhecerem como funciona essa complicada máquina chamada Municipalidade.
Não apenas o Coinp, mas organismos como a Associação dos Municípios do Araguaia-Tocantins (Amat), Federação dos Municípios do Estado do Pará (Famep), vão começar a disponibilizar orientação técnica e uma equipe de assessoria em várias áreas, como Saúde, Educação, Turismo, Agricultura, para contribuir com projetos que podem ser implantados nas cidades no próximo mandato que vai de 2009 a 2012. "O nosso trabalho informa o que tem nas secretarias de Estado e os convênios em Brasília, porque temos que mostrar os sites e informar sobre o trabalho da nossa representação, que atua em Brasília", esclareceu.
Investimento do Estado é a esperança



Amália Rodrigues - Nem às Paredes Confesso

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