sábado, 9 de maio de 2009

Carlos Lopes

Direção da Embraer colocou 50,9% das ações nos EUA

Estatal estratégica, privatizada foi transformada pela atual gestão em montadora de aviões

Em 1990, a Embraer realizou 63% de suas vendas dentro do Brasil; em 1991, essa parcela passou para 68%, o que se repetiu no ano seguinte; em 1993, o percentual foi de 62%; em 1994 - somente em dezembro desse ano a empresa deixou de ser estatal - 60% das vendas da Embraer foram internas. Somente em 1997, três anos após a privatização, a situação se inverteu: nesse ano, 84% das vendas da Embraer foram feitas para o exterior (dados da Embraer, citados por Roberto Bernardes em “O Caso Embraer - privatização e transformação da gestão empresarial: dos imperativos tecnológicos à focalização no mercado”, Cadernos de Gestão Tecnológica Nº 46, São Paulo, CYTED: PGT/USP, 2000, pág. 20).
Hoje, segundo a diretoria da Embraer, “a empresa depende fundamentalmente do mercado externo e do desempenho da economia global – mais de 90% de suas receitas são provenientes de exportações” (Comunicado à Imprensa, 19/02/2009 – grifo nosso).
Nenhuma companhia, muito menos de fabricação de aviões, pode se sustentar sem uma forte base no mercado interno. A Boeing é a maior exportadora dos EUA em valor de vendas – no entanto, até agora suas receitas provenientes de fora dos EUA atingiram, no máximo, 50% do total (cf. o discurso de seu então presidente, Phil Condit, na Export-Import Annual Conference de 2001). No ano passado a percentagem da receita que veio do mercado externo foi 40,7% (cf. o relatório anual da Boeing, divulgado em seu site). E observemos que isto é hoje, quando a empresa norte-americana é um polvo gigantesco que atua em 70 países. Durante 50 anos – ela foi fundada em 1916 - a parcela da receita que vinha do exterior era muito menor, somente se expandindo quando foi lançado o Boeing 737, em 1967.
Não deixa de ser interessante ouvir as loas de alguns ao “sucesso externo” da Embraer depois da privatização, geralmente acompanhadas da história de que a companhia estava falida quando dava prioridade ao mercado interno, isto é, quando pertencia à Aeronáutica.
Antes de entrarmos nas dificuldades financeiras da Embraer quando era estatal, observemos que a privatização foi, na verdade, uma desnacionalização. Hoje a composição acionária da empresa é um charco em que 50,9% das ações estão nos EUA – todas as ações da Embraer são “ordinárias”, isto é, capital votante. O Janus Capital Management tem 10,5% das ações; o Oppenheimer Funds tem 6,2%; o Thornburg Investment Management’s tem 5,2%; na Bolsa de Nova Iorque estão mais 29,8%; o notório testa-de-ferro Júlio Bozano tem 10,4%; e estão na Bolsa de São Paulo outros 18,2%.
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