quinta-feira, 10 de julho de 2008

Não deixe de conferir este artigo que escrevi em 2005. O tema central está diretamente relacionado com o que está acontecendo agora....



Atentados em Londres, Operação “Monte Éden”, “Mensalão” e Neoliberalismo: partes de um mesmo todo financeiro
Por Said Barbosa Dib*

“O Todo é muito mais do que apenas a somatória das partes. Constitui a relação dialética integrada e orgânica com as partes que o integram”
Karl Marx

Diante do turbilhão de notícias ruins que nos assolam, fugindo dos simplismos analíticos da grande imprensa, uma questão não pode escapar: o que há em comum entre os atentados terroristas em Londres e as bombas políticas que vêm detonando o governo petista? Resposta: a extrema facilidade na movimentação financeira pelos elementos envolvidos em ambos os casos, ou seja, tanto as organizações terroristas internacionais quanto os cleptocratas e corruptos de todos os matizes se beneficiam justamente da desregulamentação das movimentações financeiras em escala mundial, o que permite que suas operações ilegais sejam encobertas e não possam ser rastreadas. Isto vem ocorrendo principalmente depois da onda neoliberal intensificada a partir das décadas de 80 e 90.

Noticiário assustador e importante

Há algumas semanas a Polícia Federal prendeu 24 grandes advogados e empresários acusados de lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação fiscal e falsificação de papéis por meio de empresas de fachada no Uruguai. A operação, batizada de “Monte Éden”, foi feita em sete estados. No Congresso Nacional, na mesma semana, seguiam as revelações devastadoras da “caixa de Pandora” do showmam Roberto Jefferson, mostrando os bastidores de um governo surpreendente não apenas pelo que deixa de fazer, mas pelo desavergonhado do que vem fazendo quando o assunto é a preservação do próprio poder por quaisquer meios e a defesa intransigente dos interesses dos banqueiros.

No final de semana, outros pedaços do gigantesco guebra-cabeças começaram a dar mais sentido às coisas. Segundo informações reveladas na “CPI dos Correios”, a “DNA Propaganda”, uma das agências do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza fez até 2002 remessas de até US$ 1 milhão para o exterior por meio de doleiros e da conta de uma empresa chamada “Beacon Hill”. Depois chegou a notícia de que o valor seria muito maior. A Polícia Federal investiga conta de Marcos Valério também no Banco Merrill Lynch, em Nova York, onde teria movimentado US$ 3 milhões.

Mas, fiquemos apenas com a Beacon Hill. Ela foi uma “conta-ônibus” no banco J.P. Morgan, em Nova York, usada por doleiros brasileiros para a administração e o repasse de remessas ilegais. Funcionava como intermediária na abertura de outras contas em paraísos fiscais e por ela circularam cerca de US$ 10 bilhões em esquemas de lavagem de dinheiro, segundo dados da “CPI do Banestado”. Para quem não se lembra, trata-se daquela comissão abafada pelo petista paulista José Mentor, então relator; e pelo tucano Antero Paes de Barros, o Presidente da comissão. Mentor, aliás, segundo as últimas informações veiculadas pela imprensa, ao que tudo indica, parece ter tido envolvimento com esquemas de financiamento obscuro da campanha da ex-prefeita Marta Suplicy.

A “Beacon Hill Service Corporation” foi descoberta pelo promotor distrital (district attorney) de Manhattan Robert Morgenthal. De posse das informações, a Polícia Federal deflagrou, no ano passado, a “Operação Faroleiro”, que levou à prisão dezenas de doleiros. Os personagens até aqui identificados são apenas “bagrinhos”, os fatos constatados são meros sintomas conjunturais de uma estrutura financeira complexa, corrupta e orgânica que envolve as bases do que a revista do senhor Civita tenta esconder a qualquer custo e que, ao contrário do que se pensa, não se constitui em um “desvio” do modelo neoliberal, mas no seu mecanismo principal: a desregulamentação do controle cambial e a idéia energúmena de Estado-mínimo.

A verdade é que o dinheiro corrupto e corruptor nasce no bojo da própria política econômica dependente e assassina que vem colocando o Brasil de joelhos há bastante tempo. Talvez, por isso, quase toda a mídia esteja tão preocupada em “blindar” a política econômica diante das revelações sobre as transações petistas, com medo de que a farra acabe.

O Brasil exporta capitais

Segundo informações oficiais do próprio Banco Central, obtidas pelo “censo de capitais de brasileiros no exterior”, referente ao ano de 2004, oficialmente (OFICIALMENTE!!!), os brasileiros têm US$ 94,731 bilhões, equivalentes a 15,7% do Produto Interno Bruto (PIB), “investidos no exterior”, dinheiro nem de longe citado pelos amestrados da “Veja”. Os dados ainda são preliminares, mas já se sabe que, em 2003, eram US$ 82,692 bilhões. No espaço de um ano, os ativos de brasileiros no exterior cresceram, portanto, 14,6%.
O dinheiro, com as mesmas origens OBSCURAS do que foi levantado no escândalo que deu origem à falecida “CPI do Banestado”(e que a “Veja” fez de tudo para esquecer) está aplicado em locais livres de tributação, como Ilhas Cayman, Ilhas Virgens Britânicas e Bahamas. Do total de ativos OFICIAIS de brasileiros no exterior, US$ 70,691 bilhões são de investimentos diretos, ou seja, estão aplicados em empresas. Há outros US$ 8,201 bilhões aplicados em papéis dos mais variados tipos, como títulos de longo prazo (como os títulos públicos) e bônus.
Esses dados são informações oficiais captadas pelo “censo do Bacen”. Porém, apesar de reveladores, não demonstra o verdadeiro universo daquele dinheiro movimentado às escondidas, ou seja, não constam as remessas de lucros das transnacionais, os pagamentos de royalties, os recursos oriundos de operações criminosas, as manipulações contábeis dos grandes oligopólios exportadores (majoritariamente transnacionais), nem os recursos escoados para o exterior para o pagamento das dívidas interna e externa. Se calculados, estes demonstrariam uma dimensão ainda mais assustadora da verdadeira sangria que a economia nacional é submetida diariamente.

De como o nosso próprio dinheiro financia nossa dívida pública


Mas, deixemos estes últimos para uma análise posterior. Fiquemos, por enquanto, apenas nos mecanismos, no caminho tortuoso que o nosso dinheiro percorre antes de se transformar no tão almejado investimento direto “estrangeiro” ou nos “títulos” remunerados a juro extorsivos pelo povo brasileiro. Ou seja, veremos como o dinheiro de brasileiros, sonegado ao Estado brasileiro, financia nossa dívida pública (brasileira) simplesmente porque se mantém um descontrole cambial e uma política econômica que permitem que isso ocorra.
Segundo o professor Michel Hudson, economista financeiro independente que atua em Wall Street, especializado em balança de pagamentos para o Chase Manhattan Bank e para a Arthur Anderson na década de 1960, conselheiro econômico dos governos canadense, mexicano, russo e americano, o percurso é o seguinte: o dinheiro roubado das mais diversas e “criativas” formas do Brasil é remetido aos paraísos fiscais offshore através de uma complexa rede de laranjas. O sistema de regulamentação permissivo relativo a estas cabeças de ponte offshore da evasão fiscal evoluiu para um ponto que permite a investidores americanos, brasileiros ou europeus - “democraticamente”, sem distinção de nacionalidade - livrarem-se de impostos e/ou lavarem dinheiro. Para isso, contratam um advogado para montar um escritório num lugar conveniente num paraíso fiscal e descobrir uma firma de contabilidade apta a efetuar os seus registros sem exigências — o que é suficientemente bom para a aceitação das autoridades fiscais nestes dias de operações desregulamentadas.
São contratados escritórios de advogados e contabilistas nesses paraísos, especializados em camuflar a origem do dinheiro. O sistema institucional de “sigilo bancário” e a facilidade de movimentação financeira dos paraísos offshore garantem a não-identificação das operações. Esta grana roubada de empresas nacionais e estatais (ou “apenas” sonegada), como agora se vê todos os dias na televisão, financia uma porção substancial tanto do déficit da balança de pagamentos do Brasil quanto dos EUA, quando os dinheiros localizados nos paraísos fiscais passam a comprar os bônus e os títulos dos tesouros desses países.
Michel Hudson explica: os recursos desviados pelos "reformadores" neoliberais e cleptocratas tupiniquins “transformam-se nos famosos capitais voláteis que permitem beneficiar ladrões, traficantes e terroristas do mundo todo e, de lambuja, beneficiam as corporações transnacionais, que evadem impostos por toda a parte, incluindo os próprios Estados Unidos”. É este o efeito maior do que os ingênuos de plantão chamam de “globalização”, como veremos.
Por outro lado, como já se disse, as transnacionais e as grandes empresas exportadoras também viram nos paraísos fiscais uma forma de ampliar as suas operações de remessas ilegais de lucro. Um exportador argentino, brasileiro ou russo (vinculados às transnacionais) vende a preço faturado ficticiamente baixo, pedindo ao comprador que deposite a diferença numa conta bancária offshore. É desnecessário dizer que o exportador argentino, o brasileiro ou o russo não declarará este haver, assim ele não aparece nas contas oficiais. Mas existe na realidade. É por isso que as dívidas relatadas do mundo excedem as poupanças locais por uma margem do que se vê nas contabilidades como "erros e omissões".
As maiores firmas de contabilidade e de advocacia da América do Norte e da Europa obtêm uma proporção crescente dos seus rendimentos ministrando conselhos a companhias que procuram utilizar estas táticas. Os utilizadores primários são gestores de dinheiro e corporações importantes especializados em esconder os seus lucros (ou perdas, no caso da Enron e da Parmalat) da vigilância das autoridades nos seus próprios países. Nos anos 1990, a Enron, a Parmalat - e outros gigantes corporativos criminosos - foram capazes de organizar as maiores fraudes financeiras da história, utilizando finanças estruturadas envolvendo paraísos hot-money.
É notável que os neoliberais de plantão, como os tucanos e os petistas “cristãos novos” da globalização cleptocrática internacional, louvem este fenômeno ao invés de denunciá-lo. O resultado tem sido criar uma situação em que, se alguém tem de possuir terra, outros ativos tangíveis, ou títulos financeiros, o melhor caminho para evitar os impostos é registrá-los em nome de procuradores offshore. O passo seguinte destas entidades é emprestar este dinheiro de volta para si próprios, cobrando suficientes juros para absorver o anterior rendimento. Operadores suficientemente grandes para montarem a sua própria companhia de seguros podem tratar como perdas o remanescente do seu rendimento como pagamentos de seguros fiscalmente dedutíveis à sua entidade offshore, criada apenas para este fim, juntamente com os habituais encargos.
Operadores financeiramente refinados enviam o seu dinheiro offshore e então tomam-no emprestado de volta, pagando suficientes juros, seguros e taxas administrativas para si próprios, a fim de absorverem os seus rendimentos e torná-los assim livres de impostos. Estes pagamentos gastos consigo próprios aparecem no rendimento nacional e nas estatísticas fiscais como um custo de fazer negócios, ao passo que as estatísticas de balança de pagamentos mostram-nos como um fluxo internacional por "serviços" sob a rubrica de "invisíveis". Assim as estatísticas tornam-se cada vez mais ficcionais. E, assim, figuras como aqueles que estavam sendo investigados na CPI do Banestado, ou as operações de Marcos Valério e do PT, juntamente com os traficantes, os cleptocratas de todos os matizes, os terroristas, os ladrões, etc., são, ao mesmo tempo e contraditoriamente, os homens que roubam as riquezas do Brasil, lavam seus botins nos paraísos fiscais e nos emprestam para que paguemos depois as nossas dívidas interna e externa. Ou seja, a atração dos tais investimentos estrangeiros, que Lula tanto defende e em nome do qual tanta privação nos é imposta, não passa de nosso próprio dinheiro. É brincadeira!!!
Quanto às transnacionais o esquema mais utilizado é o seguinte: por diversos mecanismos, como a contratação fictícia de empresas de consultorias nacionais ou estrangeiras, as empresas forjam um superfaturamento de suas importações e um subfaturamento das exportações, escondendo os verdadeiros lucros, pois, por serem conglomerados transnacionais, fica fácil declarar que importou determinada matéria-prima por um preço irreal e alto, pois o seu fornecedor externo, provavelmente, não é uma outra empresa qualquer, mas apenas um braço do próprio conglomerado. Assim, o que parece ser uma operação entre duas empresas, por exemplo, não passa de uma operação contábil interna do próprio conglomerado transnacional.

Déficit norte-americano: como tudo começou

O caminho que conduziu a este estado de coisas foi aberto no fim da Segunda Guerra Mundial. Os diplomatas americanos pressionaram o Fundo Monetário Internacional pela livre movimentação de capitais, num tempo em que era muito claro que a maior parte dos movimentos de fugas de capital, por questões geopolíticas, seria em direção ao dólar, para fora das economias que estavam regulamentadas (entenda-se: soberanas). Com a desvinculação do dólar do padrão-ouro, em 1971, houve uma inflação das “verdinhas” pelo mundo afora, provocando aumento de juros e inflação unilateralmente, o que causaria a explosão das dívidas externas do “Terceiro Mundo” nos Anos 80. Por isso, com o eufemismo de "reforma econômica" e "liberdade de escolha", como pregam órgãos da imprensa como a sujíssima “Veja”, o movimento em direção ao descontrole financeiro abriu o caminho para o desenvolvimento de paraísos offshore.
Diante de um trilhonário déficit público, os norte-americanos procuraram emitir dinheiro em escala mundial, gerando a bolha financeira que hoje ameaça explodir a qualquer memento. Para isso, procuraram atrair divisas estrangeiras de qualquer forma, mas as suas opções eram limitadas. Uma grande possibilidade permanecia: atrair capital volátil estrangeiro. Isto podia ser feito sem ascender às taxas de juros internas, mas proporcionando um paraíso seguro para o hot money estrangeiro. Portanto, os estrategistas geopolíticos americanos estavam desejosos de aceitar depósitos bancários estrangeiros, sem importar de onde viessem. É bom lembrar que, até a Guerra do Vietnã, os EUA garantiam, teoricamente, o lastro-ouro em “Fort Knox”. Em 1968, Charles De Gaulle, nacionalista, ficou desconfiado de que não havia ouro suficiente no Federal Reserve. Começou a sacar suas verdinhas em ouro. Logo, os agentes anglo-norte-americanos deram um jeito de apeá-lo do poder, dando força aos estudantes delinqüentes franceses. Mas esta é, também, uma outra história.
O importante é que, em 1971, Nixon, sem ter saída para o déficit astronômico dos EUA, resolve internacionalizar a crise norte-americana dando calote no mundo todo, pois desatrelou o dólar do padrão-ouro e fez com que o mundo todo pagasse a conta, ou seja, ao contrário de ter que controlar os gastos do próprio Estado norte-americano, como havia uma posição geopolítica decisiva da moeda estadunidense, resolveu obrigar o mundo a assumir a conta, mecanismo que, a partir dos Anos 80, passou a ter o eufemismo irônico de “globalização”.

EUA: uma grande “Suíça” para os cleptocratas de todo o mundo

Mas o que importa é que, em termos de balança de pagamentos, o dinheiro estrangeiro para os norte-americanos, já naquele momento, ao ser convertido em dólares e mantido em agências estrangeiras de bancos americanos, daria sustentação e sobrevida à falácia do dólar como moeda de referência hegemônica, na medida em que estes depósitos fossem, repito, mantidos em dólares e não em divisas estrangeiras. Isto foi no tempo em que tanto hot money estava indo para a Suíça, onde seu franco estava tornando-se a mais forte divisa do mundo. Os americanos procuraram uma política que apoiasse o dólar em grande parte da mesma maneira.
Os departamentos de Estado e do Tesouro dos EUA abordaram os principais bancos internacionais do país com uma proposta para fazer algo que eles teriam temido fazer sem o incentivo oficial. Eles deviam estabelecer e expandir as suas próprias agências nos grandes centros de capital volátil do mundo — e talvez ajudar a estabelecer alguns novos. Isto não só atrairia dinheiro volátil estrangeiro como manteria internamente as quantias substanciais que estavam sendo enviadas para o exterior pelos evasores fiscais americanos.

Sobrevida do dólar dependeu de investimentos obscuros de todo o mundo

O governo dos EUA permaneceu no controle da situação até a ruína na Guerra do Vietnã, que empurrou a balança de pagamentos estadunidense para um déficit ainda maior, o que provocou o encorajamento dos grandes bancos a montarem ramos nestes enclaves com o objetivo de atuarem como receptadores que facilitassem aos EUA obterem dinheiro proveniente do roubo global, da fraude global e outras atividades criminosas globais. Os então soviéticos também entraram na parada. Depois que o governo norte-americano reteve os ativos financeiros do Irã após a revolução dos aiatolás, em 1979, a URSS ficou com medo de que o seu dinheiro depositado em bancos ocidentais – para patrocinarem atividades de inteligência no Ocidente e para o pagamento de operações comerciais – tivesse o mesmo destino. Por isso, também começaram, através do euro-dólar, a investir em paraísos fiscais no Ocidente.
Logo os criminosos, corruptos, terroristas, ditadores do Terceiro Mundo, transnacionais e evasores fiscais de todos os tipos passaram a fazer o mesmo. Tem sido através das suas operações de utilização fácil do dinheiro, portanto, que o mundo não-criminoso — o mundo de homens, mulheres, indústria e comércio honestos e mesmo governos soberanos — se tem tornado cada vez mais endividado para com os delinqüentes, assim como os contribuintes estão cada vez mais endividados para com os sonegadores de impostos da plutocracia financeira internacional com a complacência de seus próprios governos. Estes, atolados nas tolices ideológicas neoliberais de que não se deve controlar o câmbio e as movimentações financeiras.
No fim da década de 1970 os Estados Unidos estavam tornando-se o principal paraíso para o capital volátil do mundo. O Citibank, o Chase (os mesmos bancos que criaram espertezas como “índice de confiança” dos investidores para medir o grau de subserviência dos países a esta ignomínia financeira) e outros estabeleceram ou expandiram operações para que as suas subsidiárias de "private banking" oferecessem "confidencialidade" a clientes, que iam desde os principais políticos ladrões do México, passando por ditadores corruptos da África até os cleptocratas da Rússia e do Brasil na década de 1990.
Tal como a Suíça, o dinheiro volátil fluiu para os EUA provavelmente de todos os países do mundo. É manuseado, hoje, quase exclusivamente pelos grandes brokers de Nova York e Miami, advogados e principais bancos comerciais. Responsáveis do próprio IDTD - International Department and Trust Department -, manuseiam uma razoável quantia de dinheiro volátil estrangeiro.

A globalização como utopia dos criminosos e sonegadores em escala mundial: evitando bens tangíveis

Grande parte da dívida externa líquida dos EUA, assim como aquelas de países como a Argentina e Brasil, é possuída por estes centros de capital volátil. Isto já se tornou o significado de "globalização" na sua dimensão financeira. O mais importante fenômeno econômico do mundo que determina as taxas de câmbio hoje foi relegado para a economia "negra" não observável — não apenas o crime, mas o que está se tornando a massa dominante de riqueza corporativa e pessoal. É mais invisível hoje do que nunca, a fim de evitar as autoridades fiscais.
O mais impressionante disso é que a maior parte dos detentores de liquidez na sociedade de hoje são criminosos e sonegadores fiscais. Eles têm uma boa razão para evitar o imobiliário ou outras propriedades tangíveis. É demasiado visível para acusadores e autoridades fiscais. É por isso que as estatísticas de balança de pagamentos classificam os movimentos de capital como "invisíveis". Importante firmas de contabilidade e parceiros legais ocupam-se em inventar truques para evitar impostos e criar um "véu de intermediários" ("veil of tiers") para proporcionar um manto de invisibilidade para a riqueza acumulada por desfalcadores, evasores fiscais, traficantes de droga, traficantes de armas e agências de inteligência do governo norte-americano para utilização nas suas operações encobertas.
Portanto, a grande ironia, hoje, quando se fala, por exemplo, de terroristas como Osama Bin Laden e atentados como os que ocorreram em Londres, é que eles existem e desempenham suas ações com extrema eficiência e ousadia justamente porque se beneficiam de um sistema financeiro mundial que lhes permitem ficar na sombra. Os EUA financeiramente vivem de um sistema pernicioso que, hoje, alimenta os terroristas que aflingem a sua própria sociedade. Ou seja, criaram o monstro.

Investimentos “estrangeiros”, em países como o Brasil e a Argentina, não são tão estrangeiros assim

No fim da década de 1980, administradores de dinheiro americanos estavam incorporando fundos mútuos offshore para penetrar ainda mais nos mercados globais de capitais. Os maiores investidores foram políticos bem informados do Terceiro Mundo que compraram o fundo sabendo que os seus bancos centrais pagariam as suas dívidas em dólar, apesar dos altos riscos. Enquanto estes oligarcas legais apareciam nas estatísticas dos seus países como "credores de dólares", ingênuos internos culpavam apenas os ianques, o FMI, o Banco Mundial e banqueiros britânicos por aplicarem austeridade financeira aos seus países para a garantia dos lucros dos especuladores. Ainda que a dívida em dólar da Argentina no princípio da década de 1990 fosse possuída principalmente por argentinos, a operarem do estrangeiro, a partir de centros bancários offshore. Os maiores beneficiários do serviço da dívida externa não foram nem europeus nem norte-americanos, mas os próprios capitalistas voláteis argentinos, não possuidores de títulos na América do Norte e nem Europa. E o mesmo vem acontecendo com o Brasil.
Para a Argentina ou para o Brasil, um "estrangeiro" era provavelmente um oligarca local a operar de uma conta offshore invisível para o seu governo (o qual era constituído em grande parte por suas próprias famílias). Pode-se encontrar o mesmo fenômeno na Rússia de hoje, onde um "investidor estrangeiro" tende a ser um russo com uma conta offshore a operar a partir de Chipre, da Suíça ou do Lichtenstein, talvez em parceria com um americano ou outro estrangeiro para camuflagem política.
O crime é um dos setores chave para os quais não são feitas estimativas. Ainda que seja talvez o mais líquido, pois ditadores e cleptocratas, ladrões e traficantes de droga, receiam amarrarem-se aos seus ativos de forma visível. As mais novas adições à classe mundial dos rentistas, eles tornaram-se uma fonte de liquidez para as economias de hoje. E é atrás desse dinheiro que os últimos “governos” apátridas no Brasil vêm impondo apertos financeiros inomináveis aos que verdadeiramente produzem e pagam impostos no Brasil.

Conclusão óbvia: a política econômica do sr. Patetalocci é produto e produtora de corrupção


Mantidas as atuais políticas de submissão dos países "dependentes", manter-se-á esta relação simbiótica onde países como o Brasil tornam-se, ao contrário do que se imagina, verdadeiros exportadores de capital, subsidiando as irresponsabilidades macroeconômicas dos EUA. No mundo real, para que o dinheiro tenha valor efetivo, teoricamente, precisa-se de riquezas energéticas aliadas a trabalho e tecnologia. Apenas em decorrência da fantasia do valor-dólar, os nossos compromissos e nossas políticas econômicas, desconsiderando as nossas vantagens comparativas óbvias em termos energéticos, são direcionadas para se garantir fluxo de capital para o cassino internacional.
Os EUA estão atuando como o "consumidor de última instância", ou seja, estão obtendo um empréstimo maciço e sem juro do resto do mundo sem o compromisso de honrar estes empréstimos. Há uma total inversão da realidade. É pura ideologia. Na verdade, o que acontece é que os países periféricos - que possuem (mas não controlam totalmente) garantias energéticas reais para o padrão-dólar, inclusive e principalmente o petróleo -, estão "importando" as dificuldades da economia americana, estão assumindo problemas não da periferia, mas dos centros financeiros, pois não possuem soberania sobre as decisões macroeconômicas. Por isso, os americanos suportam um situação insólita em que a sua dívida externa assume cifra gigantesca: US$ 2 trilhões.
Essa vulnerabilidade provém dos déficits na conta corrente com o exterior, da ordem de US$ 450 bilhões por ano. Trata-se, como ensina Adriano Benayon, "de dependência análoga à do Brasil e à da Argentina, pois quanto mais o balanço de pagamentos se equilibra por meio de investimentos diretos estrangeiros, mais crescem os fatores do desequilíbrio". Porém, não são eles que são obrigados a pagar a conta. Em decorrência das ridículas medidas de submissão de países como o nosso, com uma elite covarde e apátrida, com discursos sobre Banco Central independente, superávit fiscal, Lei de “Responsabilidade” Fiscal e coisas do gênero, somos nós, detentores de riquezas efetivas, que pagamos o descontrole financeiro ianque.
O ingresso de capitais estrangeiros nos EUA subiu de US$ 142 bilhões em 1990 para US$ 466 bilhões em 1996. Em 2000 atingiu 1,24 trilhão, em grande parte decorrentes da festa exploratória das transnacionais sediadas nos países periféricos e das remessas encobertas de lucros. Mas os norte-americanos, diferentes de outros países como o Brasil, não são obrigados a manter suas contas controladas pelo FMI e, a continuar o atual não-sistema financeiro mundial, jamais serão obrigados a resgatar estas dividas. E, de lambuja, ainda alimentam todas as formas desenvolvidas de criminalidade e terrorismo.
Lula foi eleito com aproximadamente 80% de aprovação, não podemos nos esquecer disso, pois devemos contar não apenas os cinqüenta e poucos por cento dados a ele, mas todos os votos que não foram para o tucanóide enxacoco Serra. Foram 80% de repúdio ao modelo atual. Por isso, Lula não deveria ter o direito de errar, não poderia desperdiçar a oportunidade ímpar de remover o modelo dependente pela raiz. Ele foi eleito para isso, não para aprofundar o que o povo quis varrido do País. Embora a mídia adestrada e comprada tenha tentado mostrar a saída de FHC como honrosa e até vitoriosa, não há como negar que o tucano foi rechaçado pelos brasileiros, abominado, menosprezado, derrotado. O seu desgoverno apátrida e canalha foi tão ruim, tão repudiado pelo povo, que fez até o milagre de antipetistas históricos votarem no Lula.

Said Barbosa Dib é analista político e professor de História em BsB

Obs.: O professor Michel Hudson, cujo trabalho é a base deste artigo, é economista financeiro independente e atua na Wall Street. Depois de trabalhar como economista especializado em balança de pagamentos para o Chase Manhattan Bank e para a Arthur Anderson na década de 1960, lecionou finanças internacionais na New School em Nova York. Atualmente é Distinguished Professor of Economics na Universidade do Missouri (Kansas City). Ou seja, conhece bem as sujeiras todas por dentro. Publicou numerosos trabalhos acerca da dominância financeira dos EUA. Também foi conselheiro econômico dos governos canadense, mexicano, russo e norte-americano. Seus livros incluem Trade, Development, and Foreign Debt (Pluto, 1992, 2 vols.). É autor do livro Super Imperialism — The Origin and Fundamentals of U.S. World Dominance (Pluto Press, 2003, 425 p., ISBN 0-7453-1989-0). O seu site está em http://michael-


hudson.com/indexbody.html


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