quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Carlos Lopes

Mercadante e o protecionismo

Uma economia nacional que depende fundamentalmente - ou principalmente - do mercado de outro país para vender seus produtos está destinada, cedo ou tarde, a passar por sérias e desastrosas aflições. A razão é óbvia: como usufruir eternamente de um mercado que não é seu? Como impedir que outro país, mais dia menos dia, exerça o direito de proteger sua indústria e seu mercado de uma invasão de produtos estrangeiros? Em suma, é prudente perceber que o comércio internacional, sobretudo na época dos monopólios financeiro-industriais, é uma guerra sem quartel, uma guerra de morte, e não um parnaso idílico onde todos viveriam, supostamente, em perpétua harmonia.
Por isso, não nos preocupamos quando o atual presidente dos EUA apresentou a proposta de condicionar a ajuda do Estado a que os empreendimentos usem insumos - em especial o aço – fabricados no seu país. Esperar que Obama defenda o aço brasileiro no mercado dos EUA, em vez do aço norte-americano, não nos parece realista. Nem razoável.
Porém, o senador Mercadante, em artigo publicado na imprensa - depois de condenar, com justa razão, a “crença na autorregulação do mercado” dos neoliberais – diz que “... já há outro ovo de serpente à vista. Trata-se do protecionismo. Nas crises, a tentação de jogar os custos da recessão para outros países é grande e tem apelo popular. Vende-se a ideia de que as medidas protecionistas salvarão os empregos”.
Certamente o senador não percebeu, mas a aversão ao protecionismo é apenas a crença neoliberal na “autorregulação do mercado” aplicada ao comércio internacional. Significa submeter esse comércio a alguns monopólios financeiro-agro-industriais, pois é isso o que os neoliberais chamam de “mercado”.
Durante quase uma década de destruição das barreiras protecionistas, nós exportamos empregos para os EUA, Europa, China, Singapura e o escambau. Foi o maior surto de desemprego da História do Brasil desde 1930. O senador Mercadante foi um dos que mais se destacaram ao denunciar tal situação. Hoje, o único elemento novo é a crise das economias capitalistas centrais.
No entanto, justamente durante uma crise desse tipo, torna-se sem sentido deblaterar contra o protecionismo, pois, queiramos ou não, os países, em primeiro lugar os países centrais, protegerão suas economias. E se não protegermos a nossa, será inútil esperar contrapartida dos outros.
Leia mais...

Nenhum comentário:

Postar um comentário