O jornalista Klecius , mestre em Comunicação e Cultura Contemporânea pela UnB, conta como foi seu contato com oator paraibano. Leia também os dois primeiros capítulos da biografia no link abaixo.
Meu primeiro contato com Dumont foi nos anos 90. À época, escrevia matéria para o Correio Braziliense sobre o filme Milagre em Juazeiro, de Wolney Oliveira. Tímido, liguei para Dumont com um certo receio. Não sabia como ele reagiria a um pedido de entrevista de um repórter que atuava em um jornal regional, fora do Eixo Rio-São Paulo. Ele, logo nas primeiras palavras, quebrou o gelo. Falou por mais de uma hora e me deu uma aula sobre Padre Cícero, a beata Maria de Araújo e até sobre o Ceará. Na minissérie Padre Cícero (TV Globo), cujo papel-título foi entregue a Stênio Garcia, Dumont viveu o governador cearense.
Depois daquele dia, passei a conversar com Dumont sempre que ele fazia um novo filme. Fui a Manaus cobrir o Festival Internacional de Ópera no Teatro Amazonas. Ao desembarcar na capital amazonense, encontro Dumont no aeroporto. “Está passeando ou trabalhando?”, perguntei. “Passeando nada, rapaz. Trabalhando como sempre”, devolveu Dumont. Ele chegava para as filmagens de A Selva, do cineasta Leonel Viera. Decidi que, além das matérias sobre as óperas, enviaria para Brasília um texto sobre o longa.
Iniciei, então, os contatos para acompanhar as filmagens. Conversei várias vezes com o produtor Óscar Cruz, que não me deixava falar com o diretor Leonel Vieira. Não tive dúvida e recorri a Dumont. Contei meu drama. O ator pediu que eu fosse ao hotel imediatamente. Na mesma hora, peguei um táxi e corri para lá. Dumont já estava na recepção me aguardando. Até o cineasta aparecer, conversamos sobre o seringueiro que ele viveria em A Selva e sobre outros papéis que faria depois. No intervalo, dezenas de turistas pararam a conversa para cumprimentá-lo. Quando Leonel passou pelo saguão do hotel, Dumont o parou e me apresentou a ele. “Leonel, ele quer fazer uma matéria com a gente. E você não vai fazer uma desfeita de não atender o rapaz”, disse.
Leonel Vieira disse que me atenderia e sumiu por uma hora. Voltou. Tentou engatar uma desculpa para não me conceder entrevista. “Fechamos com um jornal de São Paulo e não podemos falar com o senhor. Lamento”, explicou, seco. Insisti dizendo que trabalhava em Brasília e, portanto, não era concorrente do colega paulista. “É Leonel, Brasília não é São Paulo. Pode falar”, reforçou Dumont. O cineasta cedeu e, no dia seguinte, eu acompanhava o primeiro dia de A Selva. Naquela noite, perdi um dia do festival de ópera. E vi que Dumont não era apenas uma fonte. Era um amigo. Nas filmagens, agradeci a ajuda e Dumont me disse que faria tudo de novo “em nome do cinema brasileiro”.
Meu primeiro contato com Dumont foi nos anos 90. À época, escrevia matéria para o Correio Braziliense sobre o filme Milagre em Juazeiro, de Wolney Oliveira. Tímido, liguei para Dumont com um certo receio. Não sabia como ele reagiria a um pedido de entrevista de um repórter que atuava em um jornal regional, fora do Eixo Rio-São Paulo. Ele, logo nas primeiras palavras, quebrou o gelo. Falou por mais de uma hora e me deu uma aula sobre Padre Cícero, a beata Maria de Araújo e até sobre o Ceará. Na minissérie Padre Cícero (TV Globo), cujo papel-título foi entregue a Stênio Garcia, Dumont viveu o governador cearense.
Depois daquele dia, passei a conversar com Dumont sempre que ele fazia um novo filme. Fui a Manaus cobrir o Festival Internacional de Ópera no Teatro Amazonas. Ao desembarcar na capital amazonense, encontro Dumont no aeroporto. “Está passeando ou trabalhando?”, perguntei. “Passeando nada, rapaz. Trabalhando como sempre”, devolveu Dumont. Ele chegava para as filmagens de A Selva, do cineasta Leonel Viera. Decidi que, além das matérias sobre as óperas, enviaria para Brasília um texto sobre o longa.
Iniciei, então, os contatos para acompanhar as filmagens. Conversei várias vezes com o produtor Óscar Cruz, que não me deixava falar com o diretor Leonel Vieira. Não tive dúvida e recorri a Dumont. Contei meu drama. O ator pediu que eu fosse ao hotel imediatamente. Na mesma hora, peguei um táxi e corri para lá. Dumont já estava na recepção me aguardando. Até o cineasta aparecer, conversamos sobre o seringueiro que ele viveria em A Selva e sobre outros papéis que faria depois. No intervalo, dezenas de turistas pararam a conversa para cumprimentá-lo. Quando Leonel passou pelo saguão do hotel, Dumont o parou e me apresentou a ele. “Leonel, ele quer fazer uma matéria com a gente. E você não vai fazer uma desfeita de não atender o rapaz”, disse.
Leonel Vieira disse que me atenderia e sumiu por uma hora. Voltou. Tentou engatar uma desculpa para não me conceder entrevista. “Fechamos com um jornal de São Paulo e não podemos falar com o senhor. Lamento”, explicou, seco. Insisti dizendo que trabalhava em Brasília e, portanto, não era concorrente do colega paulista. “É Leonel, Brasília não é São Paulo. Pode falar”, reforçou Dumont. O cineasta cedeu e, no dia seguinte, eu acompanhava o primeiro dia de A Selva. Naquela noite, perdi um dia do festival de ópera. E vi que Dumont não era apenas uma fonte. Era um amigo. Nas filmagens, agradeci a ajuda e Dumont me disse que faria tudo de novo “em nome do cinema brasileiro”.
Confiram um trecho do livro:
“Tenho muito do Brasil em mim. A começar pelo nome. Sou chamado de José Dumont, por exemplo, porque meu pai é nordestino. Por ter nascido na Paraíba em 1917, ele seria Severino ou José. Meu avô preferiu batizá-lo Severino. E eu fiquei com o nome de santo, José, dentro dessa estrutura portuguesa de enquadramento teológico. O sobrenome, pela lógica, seria Batista, que vinha do nome da família do meu avô, mas ficou Dumont. Como vovô morava no pé de serra, acabei ganhando um nome roseano. De modo geral, as pessoas no sertão têm variação no nome a partir do local em que vivem. É puro Guimarães Rosa. Tem João da Caatinga, Manoel das Couves, Fulano de tal do Vale, e vai por aí. Como meu avô morava no pé de serra, ele era chamado de Joaquim do Monte. Naturalmente, meu pai, que não era registrado no papel, virou Severino do Monte. Naquela época, o Brasil ainda não era tão americanizado. Era um país pró-francês. Não era subamericano, como prefiro falar hoje. Quando papai foi servir o Exército, um tenente do quartel de Jaboatão dos Guararapes (na região metropolitana de Recife), perguntou qual era o nome dele. “Severino do Monte”, respondeu meu pai. O tenente, arrogante, pensou que ele estava falando errado e tacou um Severino Dumont nos documentos. Aí ganhamos a grafia francesa. Esse nome charmoso que nada tinha a ver com nossa realidade. Herdei o Dumont. Não é nome artístico, como muitos imaginam. É meu nome mesmo.”
Vale a pena ler este texto completo. Confira...
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