segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A contra-revolução vitorinista no Maranhão está viva e atuante. E, agora, com apoio no preconceito de amestrados dos estados ricos

Intelectualebas comprados pelas transnacionais do Eixo Rio-São Paulo não gostam de nortistas e nordestinos
Por Said Barbosa Dib, historiador, analista político e assessor, com muito orgulho, do senador e ex-presidente Sarney

Pode-se não gostar do bigode de Sarney ou do jaquetão associado a ele. Da tintura dos cabelos, também. Pode-se não apreciar sua literatura, sua retórica, suas posturas políticas. Pode-se até não gostar de seus posicionamentos político-ideológicos e das escolhas que assumiu nos seus mais de 50 anos de vida pública, sempre em cargos eletivos. Repito: eletivos. Pode-se até entender tais posturas vindas de panfletos bairristas como o “Jornal Pequeno”, da família Bórgea, no Maranhão, que nunca escondeu a antipatia para com a família Sarney. Rancor que se agravou principalmente depois que Sarney, na Presidência, teve uma postura de estadista e não aceitou dar privilégios federais àquela família apenas pelo fato de ser do Maranhão. Isso tudo é natural e necessário. Faz parte da democracia. Mas o que não se entende, para quem tem um mínimo de inteligência, de senso crítico e de preocupação com a honestidade intelectual, é resumir as críticas àquela figura política já histórica a enquadramentos estereotipados e ingênuos. Não pega bem para pessoas e instituições até então consideradas sérias - como o jornal inglês “The Economist”, ou intelectuais renomados, como Ivan Lessa e Alberto Dines – caírem na mesma ladainha simplista e espertalhona dos Borgéas. A verdade é que o discurso baseado no conceito de “oligaquia” e o sistemático e generalizador ataque que se faz a todo e qualquer político, vem se tornando um poderoso e eficiente instrumento de desconstrução do Estado brasileiro em benefício da tecnocracia sob o controle de forças estrangeiras. Querem substituir instituições legítimas brasileiras, construídas por eleições sucessivas, por ONGs internacionais ou entidades multilaterais. Preferem confiar nos organismos internacionais do que em seus próprios representantes que, bem ou mal, são eleitos por brasileiros e prestam contas ao TCU.

Jornalismo de “Google”

Mas, o grande problema quando jornalistas e analistas políticos do eixo Sul/Sudeste comentam a realidade política de estados do Norte e Nordeste, como o Maranhão, é o acesso às informações e o grande preconceito que permeia as análises. Não se pode esquecer que a grande imprensa nacional, financiada por conglomerados transnacionais do Sul e do Sudeste, nada ou quase nada se interessa por estados como o Maranhão ou o Amapá, a não ser quando surge alguma coisa pontual. O “Jornal Pequeno”, no Maranhão, e o jornal “Folha do Amapá”, representando setores minoritários que se submetem aos interesses das regiões ricas, tornaram-se a fonte que alimenta os grandes jornais brasileiros (e estrangeiros), fornecendo-lhes sempre visões partidarizadas e contrárias às populações locais. Não se pode esquecer que, quando jornalistas da imprensa nacional precisam de informações acerca da situação política no Maranhão (como na reportagem sobre o “caso Lunus” ou no caso das “estradas fantasmas” de José Reinaldo), não mandam repórteres para o Maranhão ou para o Amapá, não conferem fontes, não pesquisam in loco. Apenas acessam na Internet (geralmente o Google), não o jornal da família Sarney - sempre acusado de “parcial”, mas que, curiosamente, não é aberto aos não-assinantes -, mas aos anti-sarneysistas “Jornal Pequeno” e “Folha do Amapá”. Se Sarney usasse seu jornal como instrumento político, como se costuma acusá-lo, ele seria realmente um estúpido em deixar o jornal restrito aos assinantes. Por outro lado, pouco se vê no Google os demais jornais, como o “Diário do Amapá”, o “Gazeta do Amapá”, o “Veja Agora”, o “O Progresso” ou o “Jornal do Dia”.


Subestimando a inteligência dos povos do Maranhão e do Amapá. Preconceito puro...

Por isso, embora naqueles estados têm-se uma visão positiva do grupo Sarney, por parte majoritária da população, pela sua história, pelos benefícios conquistados para o Maranhão, em nível nacional (e internacional) nem sempre as coisas são assim. Embora os maranhenses e os amapaenses continuem votando no grupo Sarney, fora do estado, nos grandes centros do Brasil, a imprensa reflete apenas a visão de um grupo restrito (e geralmente derrotados nas urnas) daqueles estados. Assim, nacionalmente, repetem-se as inverdades locais, numa visão preconceituosa e injusta contra a grande maioria das populações maranhense e tucujú. Elites do Eixo Rio-São Paulo acham realmente que a grande maioria dos maranhenses seria suficientemente estúpida e atrasada para consentir, como cordeirinhos, numa suposta oligarquia de 40 anos. Visão que é realmente um desrespeito para com o povo do Maranhão. Na verdade, o “Jornal Pequeno” e a “Folha do Amapá” tornaram-se “os olhos e ouvidos do rei” do pessoal do tucanato paulista, refletindo a birra das elites da indústria paulista contra especificamente o senador Sarney. Esta questão tem relação com a atuação da Presidência do Sarney em favor no Norte e do Nordeste, como no caso da polêmica sobre a Norte-Sul, da Perimetral Norte, do Calha Norte ou do atual lobby paulista contra o projeto de criação da Zona Franca de Macapá e Santana, que Sarney tenta implantar no Amapá. A oligarquia transnacional incrustada no Sudeste, esta sim poderosa, nunca perdoou o sucesso do nordestino Sarney em defesa da luta contra as desigualdades regionais. Roberto Rocha, um deputado tucano do Maranhão, que tem muito mais veículos de comunicação no estado do que a família Sarney, é o grande sátrapa dos interesses paulistas no estado. Entenda-se: José Serra.

Oligarquia de quem e para quem?

Outro mito difundido é a idéia energúmena de que a família Sarney governou o Maranhão por 40 anos em detrimento do povo. Esta é uma idéia de quem ou não conhece o estado ou tem interesses inconfessáveis a defender. Senão, vejamos: José Sarney governou entre 1965 e 1970; Roseana, em dois governos seguidos, entre 1995 e 2002. São os períodos mais fecundos em termos de desenvolvimento efetivo do Maranhão. As realizações foram tão substanciais que a população passou a associar "bom governo" com os "Sarneys". Nenhum governador era eleito, neste período todo, se não tentasse continuar as transformações começadas por Sarney. Mas, uma coisa era querer governar como fizeram os Sarneys, outra, era conseguir. Infelizmente, para o povo do Maranhão (e aí que está a grande ironia desta história toda), Sarney sempre foi um democrata. E como democrata, nunca aceitou a não-alternância do poder. Se fosse, teria controlado todos os demais governadores do período. O que não aconteceu. Isto porque, todos os maranhenses sabem, quase todos os demais governadores, sempre apoiados inicialmente por Sarney, acabaram fazendo lambança e, curiosamente (ou por isso mesmo), romperam com o ex-presidnete. Carregar a responsabilidade em manter o nível que Sarney atingiu foi um peso muito grande para os sucessivos governadores. Ao contrário do que certos setores com posturas ideológico-doutrinárias tentam fazer crer, portanto, os governos José e Roseana Sareny foram períodos que mancaram verdadeiros divisores de água na história recente do estado. Com exceção talvez do governo Lobão, todos os demais dos últimos 40 anos, repito, obtiveram desempenhos pífios justamente por terem rompido com o grupo. Em outras palavras, a grande força política que gozam José e Roseana Sarney no estado não é decorrente de ações coercitivas ou arbitrárias de uma suposta oligarquia, mas resultado apenas de eficiência administrativa e clareza política com que a família tratou a coisa pública, características que não saem da memória coletiva do povo do Maranhão. É este fato que faz com que os seus inimigos, desesperadamente, sempre que fazem besteiras no governo ou optam pelos descaminhos da corrupção, tentam denegrir a família Sarney, simplesmente porque, derrotados crônicos, nunca conseguiram alcançar o sucesso dos Sarneys. Por isso, sem o apoio do povo, apelam para forças políticas estrangeiras. Por isso, também, abstraindo-se a corrupção eleitoral do último pleito para governador, nunca conseguiram vencer no voto sem se associarem à imagem de Sarney. Percebam no vídeo abaixo o discurso de Sarney quando tomou posse como governador em 1966. Prestem atenção no discurso. Vejam como hoje os Jaksons da vida tentam desesperadamente copiar Sarney. Enfim: se Sarney e sua família, de repente , como que num passe de mágica, deixasse de existir, simplesmente esta gente teria que inventá-los novamente para encobrir as próprias limitações e a sugeira de seus governos diante da população do Maranhão. É isso.

Senão, vejamos os fatos:

Governo José Sarney (1965-1970)

José Sarney, no tempo em que foi governador, foi apoiado por esquerdistas de então, como Glauber Rocha (que fez campanha para o Sarney, que você pode ver logo ao final desta postagem) e a chamada “Bossa Nova da UDN. Com um estilo próprio de governo - popular, dinâmico e modernizador -, recebia em audiências diariamente dezenas de pessoas dos mais variados setores da população e provocou, segundo Veja (11/3/70), uma “revolução na administração”, chamada de "milagre maranhense". Os investimentos decuplicaram, aumentando em 2.000% o orçamento do estado, mudança que nunca mais viria a acontecer.
O novo governador sabia que era necessário compensar anos de atraso provocado pelo “vitorinismo”. Por isso, foi construída a usina hidrelétrica de Boa Esperança, na fronteira sul do Maranhão com o Piauí, pela Companhia Hidrelétrica de Boa Esperança (Cohebe), que passou a fornecer energia a cerca de 40 cidades do interior dos dois estados e parte do Ceará. Ainda segundo Veja (4/2/1976), nos quatro anos da administração Sarney o Maranhão deu um salto: o estado pulou de zero para quinhentos quilômetros de estradas asfaltadas - e mais dois mil quilômetros de estradas de terra -. Criou-se, além disso, uma rede de telecomunicações cobrindo 85 municípios; elevou-se de um para 54 o número de ginásios estaduais e ampliaram-se de cem mil para 450 mil as matrículas escolares. No início de 1970, Sarney inaugurou, com uma assistência de cem mil pessoas, a ponte de São Francisco, sobre a foz do rio Anil, ligando a ilha de São Luís - onde fica a capital - ao continente. A construção da ponte já havia passado ao domínio da lenda, pois se estendera por vários governos. A construção do porto de Itaqui, a barragem do rio Bacanga e o planejamento da cidade industrial foram outras iniciativas. Por tudo isso, a oposição não se cansa de estrebuchar. Precisa sempre dos lobby´s preconceituosos da industria paulista para menosprezar o que é positivo para o povo do Norte e do Nordeste.


Governo Roseana Sarney (1995-2002)

Por outro lado, a sucessora política de José Sarney, sua filha Roseana, mesmo tendo recebido menos recursos do governo federal nos quatro anos do seu último mandato, do que José Reinaldo (com apenas três anos de governo), os resultados práticos da gestão Roseana são impressionantes, principalmente na área da educação, que é a mais importante quando se tem uma preocupação com a questão social. Pelos relatórios publicados pelo PNUD/IPEA, facilmente acessados pela Internet, no que se refere aos gastos totais com “Educação e Cultura”, de 1995 a 2002, período que correspondente aos dois mandatos da governadora Roseana Sarney, em valores da época, o Maranhão chegou muito próximo da universalização no atendimento do ensino fundamental, pois 96% das crianças de 7 a 14 anos passaram a freqüentar a escola. No Ensino Médio, o estado conseguiu uma expansão nunca antes registrada, quando a oferta de vagas foi dobrada no período. O número médio de anos de estudo, para a população acima de 25 anos no Maranhão, em 1995, quando Roseana Sarney iniciou o seu primeiro mandato, era de 3,2 anos. Em 2003, quando terminou o segundo mandato, já era de 4,3 anos de freqüência em salas de aula. Portanto, houve um aumento de 1,1 ano no período – índice maior do que a média de crescimento do Nordeste, que foi de 0,93 ano estudado. Em todo o Brasil, o Maranhão da “oligarca” Roseana ficou atrás apenas de Sergipe, que teve um crescimento de 1,32 ano de estudo.
Quanto à urbanização, por outro lado, Roseana também se destacou bastante. Pelo percentual de pessoas que vivem em domicílios urbanos com serviço de coleta de lixo, um excelente termômetro para se averiguar a preocupação dos governos em investir em infra-estrutura para saneamento básico e saúde pública, no Maranhão, em 1991, era de apenas 26,32% da população, passando para 53,25% no ano 2000, um aumento de 26,93%. Foi o estado que mais cresceu não só no Nordeste, mas em todo o País, neste aspecto. No Amazonas, por exemplo, com uma população concentrada em Manaus, a expansão foi muito inferior no mesmo período, saltando de 60,02% para 78,23%, um acréscimo de apenas 9,87%.
Assim como na coleta de lixo e no caso do tratamento de esgoto, na escala convencionada pelo IPEA, de 0 a 1, verificando-se o percentual da população que vive em domicílios com abastecimento adequado de água, o Maranhão evoluiu de 0,31%, em 1995, quando Roseana Sarney assumiu seu primeiro mandato, para 0,54% no final de seu segundo mandato, em 2003, uma melhoria de 0,23%. Foi o terceiro maior aumento entre todas as unidades federativas. Perdeu apenas para o Ceará e o Tocantins. O Ceará, um dos estados que mais recebeu ajuda federal nos anos 90, passou de 0,45% em 1995 para 0.70% em 2003, uma melhoria de 0,25%, pouco mais do que o Maranhão.
Pelos percentuais de pessoas ocupadas com carteira de trabalho assinada, segundo dados do IPEA, no período compreendido entre 1995 e 2002, o Maranhão passou de 0,29% em 1995, para 0,36% em 2002, tendo um aumento de 0,12%, disparadamente o melhor resultado de todo o Brasil no período - a média brasileira é de 0,04%.

Bom! Se oligarquia quer dizer “governo de poucos, voltado para poucos”, definitivamente não se pode dizer que Roseana e José Sarney, com todos estes resultados, sejam oligarcas. Seria, no mínimo, um imbecilidade cavalar ou mau caratismo desavergonhado mesmo. Eleito governador do Maranhão, em 1966, vencendo definitivamente o domínio, aí sim, oligárquico, de Vitorino Freire, José Sarney pediu ao amigo Glauber Rocha que registrasse a posse em filme. Glauber fez "Maranhão 66". O acontecimento foi tão importante que ficou registrado na memória coletiva do povo do Maranhão. E, por ironia,atualmente, tentam acusar Sarney justamente daquilo que ele enterrou no Maranhão quando venceu o vitorinismo. O fortalecimento recente de figurinhas como Jackson Lago e José Reinaldo Tavares, no Maranhão, portanto, não passa de uma contra-revolução ao progresso que representou o governo Sarney. São, ao que parece, a vingança de Vitorino ecoando do Inferno. Mas, a decisão do TSE acabará com a farsa.

Um comentário:

  1. Meu amigo,
    Voce NÃO conhece o Maranhão e suas potencialidades. Você não tem parâmetros para falar o que fala!!
    Sua descrição parece um ensaio pífio de um trabalho de política teleguiado por um maniqueismo que nem você mesmo sabe qual é o lado. Và escrever sobre sua realidade e deixe-nos com as nosssas mazelas que nós mesmos as resolveremos.
    Você não foi informado que o seu personagem prometeu romper com o vitorinismo e não rompeu?
    Pois saiba que ele rompeu com o Vitorino e se apoderou do vitorinismo!

    ResponderExcluir