O Carnaval é um barato
O Carnaval é um ser vivo, tem sua dinâmica, sua transformação e é influenciado pela geografia, pelo clima, pela natureza, pela gente que o faz e desfaz. Não vem da Roma das orgias saturnais nem da Grécia das bacanais e dionisíacas. É do Brasil mesmo.
Há vários e incontáveis Carnavais. Um é da vila mais longe no meio da água da Amazônia, onde se pinta o corpo, faz baile no rio e sexo na mata. Outro é o de Pernambuco, onde as crianças já nascem com as articulações próprias para enrolar as pernas no ritmo do frevo que não se sabe de onde vem ou como começou e que o Capiba aproveitou para compor excitantes tocados.
O Carnaval da Bahia é o da Bahia, não há como descrever. É Gil, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown e os Filhos de Gandhi.
O do Maranhão, com os nomes dos blocos picantes, cada um querendo ser mais criativo e escatológico, como o Siri-na-Vara, o Máquina-de-descascar-alho. E o Carnaval da roça, com galinhas mortas e peladas lanceadas em varas em honra a São Belibeu.
O Carnaval é uma festa da imaginação em cada lugar e em cada um. O do Rio é um teatro a céu aberto, enredo que não se entende, mistura Netuno com Adriane Galisteu e Viviane Araújo, Neguinho da Beija-Flor que casa na avenida tendo como padrinhos a Primeira-Dama e o Presidente da República, que depois joga para o povo camisinhas made in Ministério da Saúde, com obrigação de utilizar o produto, para não perder o dinheiro público. Senão, o TCU.
Morreu um irmão de minha avó no sábado de Carnaval. Um tio meu, farrista e carnavalesco, já tinha mandado fazer a fantasia e pediu à família: “Só me comuniquem quarta-feira, para começar meu luto.”
É assim o Carnaval. Nem os cemitérios escapam da fuzarca. Desde sempre, blocos de bêbados os invadem, para despertar os mortos com as velhas marchinhas do “Eu quero mamar” ou “Chiquita bacana lá da Martinica”.
Hoje o Carnaval é uma coisa. Ano que vem é outra. Senti falta, no deste ano, do Joãozinho Trinta, não dele mesmo, mas das mulatas com seus corpos belos, esculturas de Deus, substituídas por louras com mais lantejoulas que gingado.
É difícil entender o Brasil sem o Carnaval. É a cultura da convivência, do amor ao corpo, da explosão de alegria. Isso é viver.
E eu aqui, nestes três dias, lendo a História das Guerras e o delicioso livro de memórias do Alberto da Costa e Silva, a Invenção do Desenho.
É. A cada um o seu pecado.
O Carnaval é um ser vivo, tem sua dinâmica, sua transformação e é influenciado pela geografia, pelo clima, pela natureza, pela gente que o faz e desfaz. Não vem da Roma das orgias saturnais nem da Grécia das bacanais e dionisíacas. É do Brasil mesmo.
Há vários e incontáveis Carnavais. Um é da vila mais longe no meio da água da Amazônia, onde se pinta o corpo, faz baile no rio e sexo na mata. Outro é o de Pernambuco, onde as crianças já nascem com as articulações próprias para enrolar as pernas no ritmo do frevo que não se sabe de onde vem ou como começou e que o Capiba aproveitou para compor excitantes tocados.
O Carnaval da Bahia é o da Bahia, não há como descrever. É Gil, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown e os Filhos de Gandhi.
O do Maranhão, com os nomes dos blocos picantes, cada um querendo ser mais criativo e escatológico, como o Siri-na-Vara, o Máquina-de-descascar-alho. E o Carnaval da roça, com galinhas mortas e peladas lanceadas em varas em honra a São Belibeu.
O Carnaval é uma festa da imaginação em cada lugar e em cada um. O do Rio é um teatro a céu aberto, enredo que não se entende, mistura Netuno com Adriane Galisteu e Viviane Araújo, Neguinho da Beija-Flor que casa na avenida tendo como padrinhos a Primeira-Dama e o Presidente da República, que depois joga para o povo camisinhas made in Ministério da Saúde, com obrigação de utilizar o produto, para não perder o dinheiro público. Senão, o TCU.
Morreu um irmão de minha avó no sábado de Carnaval. Um tio meu, farrista e carnavalesco, já tinha mandado fazer a fantasia e pediu à família: “Só me comuniquem quarta-feira, para começar meu luto.”
É assim o Carnaval. Nem os cemitérios escapam da fuzarca. Desde sempre, blocos de bêbados os invadem, para despertar os mortos com as velhas marchinhas do “Eu quero mamar” ou “Chiquita bacana lá da Martinica”.
Hoje o Carnaval é uma coisa. Ano que vem é outra. Senti falta, no deste ano, do Joãozinho Trinta, não dele mesmo, mas das mulatas com seus corpos belos, esculturas de Deus, substituídas por louras com mais lantejoulas que gingado.
É difícil entender o Brasil sem o Carnaval. É a cultura da convivência, do amor ao corpo, da explosão de alegria. Isso é viver.
E eu aqui, nestes três dias, lendo a História das Guerras e o delicioso livro de memórias do Alberto da Costa e Silva, a Invenção do Desenho.
É. A cada um o seu pecado.
*José Sarney é ex-presidente do Brasil, senador do Amapá e acadêmico da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de Lisboa
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