sábado, 28 de fevereiro de 2009

Poesia repetida...e recontada...



Hedonismo, ou......de como e porque a Família acaba

"Com a luz apagada, todas as mulheres são iguais"
Plutarco (escritor grego, c. 45 ¿ 125), Obras Morais, Preceitos conjugais, 144 E

Com que idade um homem deve se casar? "Não quando ainda é jovem, nunca quando já é velho."
Diógenes, o Cínico (filósofo grego, morto em 323 a. C.)

I
De quando em quando estudo tudo e fico a esperar, sozinho...
De quando em quando estico a cuca e nada acontece
Espero... cada segundo, cada lua nova, cada baforada...
Espero sempre... e a ressaca vem, o amor, não


II


De quando em quando a máscara cai, mas nada acontece, absolutamente nada.
Do ensaio da dor, da dor do amor,
Do estudo da flor, da flor da dor,
Espero... desejo; espero... tenho; espero... perco
Sinto e esqueço sempre


III


E procuro outra dor para além do Futuro,
Para aquém de mim mesmo, naquele preâmbulo do Passado.
Sentimento que nunca existiu, a não ser na poesia ou no balcão.
Mas sempre presente no amor que não veio ou na flor já seca,
Como nos brinquedos de crianças mortas, jogadas por aí,
Ontem diziam tudo, hoje não dizem nada.
E guardando a lembrança da chama acesa, simplesmente,
Espero.


IV


Da conversa acirrada que acusa o fim, somos seqüelas.
Da cerimônia que nunca houve, agradeço o Destino
Daqueles sinais que jamais existiram, daquelas mulheres que nunca terei,
Daquelas vontades bastardas de mim, cujos desejos assustadores alegram ...
E matam e acolhem e extirpam, beijam e escarram, amam e mastigam, comem e engolem
Tudo isso, me faz esperar


V

Espero por que espero e vivo por que não há opção possível,
Por isso espero, com força e amor.
Mas lá no Futuro estão todos os lugares desconhecidos do mundo,
Com todas elas, absolutamente todas, me olhando, me seduzindo, me amando,
Pelo que não sou, pelo que não fiz, pelo que não dou.
Mas sempre fogem, tripudiam, esmagam, deslizam, escarnecem todo o tempo,
Em todos os lugares, fatalmente.
Mas espero por todas elas, ansioso!

VI

Espera que dói, mas que me faz ser; e me deixa louco de paixão, trêmulo,
Feliz como fradinho libertino, salivando como vira-lata trepando, inebriado, satisfeito, Pulsando compulsivo a vida para o mundo medonho, numa felicidade incontida, mas real; prazerosa e dolorosa, mas efêmera. E com todas as forças, espero.

VII


São divas alquimistas, belas e medonhas, esbeltas e gordas,
Neuróticas e controladas, honestas e canalhas, mães, filhas, tias, enfermeiras, freiras,
Colegas, prostitutas e professorinhas, que transformam água em vinho,
Deus em Diabo, chumbo em ouro, mentira em verdade, vida em morte, morte em vida.
E que cometem, conscientes, sacrilégios, eternamente torturando Adão e Prometeu,
Mastigando machos, torturando corações sensíveis, fornecendo alegria e prazer,
Alimentando egos; mas que cobram,
Há! cobram muito!
Mas, sem opção, esperamos todos nós


VIII


Sim! Essas deliciosas criaturas que nos imolam, mas nos dão paixões,
Que me saem irradiantes dos olhos, me atormentam e me fazem chorar de alegria e tristeza
Liliths sensuais que, de mim, fazem açoite, bife, cachorro;
E me deixam severamente atordoado e confuso,
Principalmente quando desaparecem.
E vão e vêem, vêem e vão, numa ciclotimia louca e satânica
Sem qualquer piedade, mas que tanto desejo traz.
E as espero, como menino ansioso por guloseimas, sempre!


IX

E por desejar, o herói - ou vítima -, sucumbe, entope, bebe, engasga e cospe,
Mas sobrevive.
Por isso, de quando em quando, o medo estrangula o verso,
A ansiedade apaga a energia e a Vontade destrói a sanidade e a moral.
Macula a força de quem sabe o que quer, mas treme; de quem é rocha, mas sucumbe,
Pois o rebolar sísmico das moçoilas mais fortes de corpo do que de alma
É arrebatador demais para a razão do macho.
E espero... sempre bebendo, como se aquele álcool pudesse ser o alimento liquefeito vindo da Fêmea primordial e constituindo o néctar dos deuses.
Pura ilusão!?


X


Até que surge o amor, acaba-se a paixão, que por medo ou confusão, torna-se caricatura, arremedo e tristeza,
Amor burocrático que faz murchar a malícia, faz prender o falo na boca do Cão,
Faz sucumbir o poder e a autoridade do Homem, mas acalenta, mas conforta.
Mas...Até que um dia se descobre que, em todo homem, no fundo d`alma, há um Héracles qualquer, que vive compulsivo sempre e, mesmo capão na cama materna da esposa, tenta resistir.
Sonha com a fuga daquela armadilha infernal que esfria o espírito, que destrói o sonho, que amordaça Eros e insiste em tornar cordeiro o que é Marruco.


XI


Mas, a Vida vive. A Esperança não morre e insisto, persisto, ignoro e... ponto final
Jogo-me novamente na mastigação sorridente das eternas messalinas famintas de mim,
Sempre em busca de outras... e mais outras...e mais outras, pois a Natureza, imperiosa guardiã da espécie, exige confusamente a continuidade da vida...e da morte.
E diante de uma outra qualquer, renasce a Esperança...
Como Osires recomposto, eis que agora o êxtase amoroso pulsa novamente,
No exato momento em que se derrama, entre as coxas gigantes e suculentas de uma bela adormecida uma torrente de gozo vital,
Dionísio vence, mas sofre; sofre, mas resiste.
E vive e sobrevive.
Como um zangão, sacrifica-se na Arcádia do prazer à grande "Deusa Mãe",
Sempre pensando na preservação da espécie...
E, lógico!, no Prazer.
E, por tudo isso, continua a esperar... sempre!


Said Barbosa Dib

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