A Mira da semana passada, onde tratei de diferenciar o alarme com os reflexos da crise e o alarmismo oportunista que tomou conta de alguns segmentos, foi alvo de concordâncias e contestações de alguns companheiros que navegam nessa mesma catraia de tormentas e teimosia que o mundo dos negócios representa. E é a diversidade de opiniões e interesses que torna o debate proveitoso e o transforma na melhor parte dessa tarefa de vasculhar e esmiuçar temas e problemas do cotidiano. Por isso, deliberadamente busquei carregar as tintas nos indicadores positivos da economia para destacar resultados concretos dessa movimentação cívica ensaiada pelo setor privado e sua saudável interatividade com o poder público. As críticas pró-ativas a essas iniciativas de negociação com certeza vão emprestar consistência e relevância a seus resultados. É isso que importa. Longe de nossos propósitos, porém, enfiar a cabeça na escuridão dos buracos da omissão pra não enxergar as pressões e adversidades que o momento impõe.
É óbvio que não dá pra tampar o sol com a peneira. O sistema de transportes que atende os trabalhadores do Pólo Industrial de Manaus está com 70% de sua frota na garagem e as empresas que trabalham com terceirização apontam dificuldades maiores do que aquelas provocadas pela abertura atabalhoada da economia do governo Collor, que deixou o Distrito em sua pior crise de sustentação no início dos anos 90. É um ensaio do "Deus nos acuda"! E as filas de desempregados no Serviço Nacional de Emprego, o SINE, tanto municipal como estadual, crescem assustadoramente, com taxas que apontam até 145% de aumento na procura por postos de trabalho. Não é à-toa que o Ministro do Trabalho está em Manaus desde o início da semana.
Na semana passada, em São Paulo, o empresário Abílio Diniz, do Grupo Pão de Açúcar, propôs um "mea culpa" do empresários em relação à crise: "Não adianta ficar batendo só em banqueiro. É divertido, mas não leva a nada. Nós entramos nas oportunidades oferecidas pelos bancos. A culpa é deles? Não. Nós aceitávamos. E Vamos ser sinceros: havia uma crença muito grande de que era muito fácil ganhar muito dinheiro". Um diagnóstico questionável que, entretanto, nos empurra à reflexão sobre o papel de bancos, empresas, governo e juros, na compreensão da crise. E mais: o próprio Diniz relembra que os economistas projetam uma taxa de inflação um pouco mais elevada para 2009, mas não há aí nenhum desastre, pois o Brasil pratica hoje taxas de inflação européias. Para ele, passados os problemas maiores da crise, o capital externo vai vir ao Brasil. Não há muitas opções melhores. O país tem fundamentos macroeconômicos sólidos, empresas sadias e vai continuar crescendo. Por isso é preciso emprestar confiança ao país e, para ele, ao governo, inclusive.
Na mesma toada da relação com os bancos, juros altos e saídas para a crise, o ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Neto afirmou nesta semana a necessidade do Banco Central continuar a cortar a taxa básica de juros em pelo menos um ponto percentual nas próximas reuniões do Copom. Para ele, não há nenhuma razão para que a taxa real dos juros fique acima de 3% ao ano. Os tempos são outros e a credibilidade no mercado começa a ser revista na ótica da maior interatividade entre os setores e agentes públicos e privados. As saídas, portanto, passam pelo conhecimento da crise e a mobilização de todos os seus atores, especialmente os diretamente atingidos em seus negócios. Daí o papel dos números e estatísticas confiáveis e atualizadas da movimentação da economia local, identificação dos danos reais e negociação objetiva para superar obstáculos. Este é o jogo e com essas regras o resultado só pode ser favorável.
Zoom-zoom
Redução dos salários - A Direção da Força Sindical, uma das entidades mais atuantes no setor trabalhista, assumiu publicamente que está disposta a negociar redução da jornada de trabalho e dos salários visando a manutenção do emprego nos tempos de crise. A medida é extrema e terá efetividade na combinação de outras com os demais parceiros diretamente envolvidos.
Buracos e broncas - Um conflito de proporções desnecessárias está movimentando a secretaria municipal de Obras e a permissionária Águas do Amazonas por conta dos buracos deixados por esta empresa na rotina de suas atividades. Um descaso que sugere a dificuldade crônica e mais ampla de cumplicidade que a cidade enfrenta para resolver seus problemas. Falta solidariedade e espírito cívico.
Gradiente - A movimentação da empresa Gradiente, para reativar a estrutura e funcionamento da empresa no Pólo Industrial de Manaus, do qual se constituiu uma referência histórica e simbólica, ocorre num momento oportuno e emblemático. Depois de ter sua falência decretada, o Grupo Gradiente deu a volta por cima e volta a ocupar seu papel de geração de emprego e oportunidades na região, o que significa aposta nas promessas e potencial do modelo ZFM.
De olho nos EUA - Os empreendedores locais acompanham atentamente as movimentações econômicas do governo Obama, pois seu país é o terceiro maior comprador do Pólo Industrial de Manaus. E as perspectivas para 2010 são as mais alvissareiras possíveis com a homologação do pacote de US$ 800 bilhões.
Belmiro Vianez Filho é empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas
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