(Alerta em Rede) - As pressões do aparato ambientalista-indigenista internacional sobre o Brasil vêm em um crescendo, que já está a exigir das lideranças nacionais de todos os setores uma atitude determinada, no sentido de rechaçar incondicionalmente qualquer tipo de ingerência externa motivada por tais pretextos. Embora possa parecer radical diante da necessidade cada vez maior de que as nações do planeta coordenem as suas políticas internas para proporcionar uma sinergia internacional favorável a um progresso compartilhado, o fato é que tal coordenação e cooperação têm que ocorrer em torno de uma agenda definida com base em critérios científicos e políticos orientados pela realidade física, e não por conceitos meramente ideológicos como os que infestam a agenda ambientalista-indigenista. Por conta disso, não cabe outra linha de ação ao País, que precisa abandonar o quanto antes o "pragmatismo" tradicional com que a sua diplomacia vem tratando tais assuntos.Essa atitude se mostra, por exemplo, no contraste entre certas reações decididas com que o Itamaraty costuma receber insinuações de que o Brasil seria negligente nos cuidados com a Floresta Amazônica e a passividade com que é aceita a agenda política do assim chamado aquecimento global. Agora, as duas pautas estão se juntando de uma forma em que será difícil desvincular uma da outra, o que forçará o País a uma definição sobre a forma em que pretende adentrar as próximas décadas, se como um Estado nacional perfeitamente soberano orientado pelo "Princípio do Bem Comum", ou se uma entidade apenas formalmente soberana e subordinada a pautas políticas ditadas por círculos hegemônicos supranacionais.No momento, todo esse aparato internacional encontra-se plenamente mobilizado para tentar comprometer a cúpula do G-8, que se reúne entre 7-9 de julho em Hokkaido, Japão, com pelo menos um indicativo de compromisso concreto com a pretendida - e delirante - meta de cortar 50% das emissões de carbono antropogênicas até 2050. E o Brasil já começa a perceber que a sua matriz energética menos "intensiva em carbono" que a da maioria dos países industrializados ou em fase de industrialização não será suficiente para livrá-lo das pressões. Aliás, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estará presente à cúpula como convidado especial, juntamente com seus colegas dos outros quatro "grandes países emergentes" - China, Índia, México e África do Sul.Ademais, com o esvaziamento das bolhas especulativas que caracterizaram o sistema financeiro internacional na última década, a consolidação de um sistema global de "créditos de carbono" estabelecido com base nas cotas de emissões de cada país (e parcialmente "lastreados" nas florestas tropicais) poderá proporcionar uma nova fonte de dinheiro fácil para o combalido cassino global. Em grande medida, isso explica a pressa para a criação de um fato consumado em relação ao esquema. O Fórum Humanitário Global, ocorrido na semana passada em Genebra, Suíça, proporcionou uma oportunidade para se vislumbrar essa perspectiva. Na ocasião, o representante especial da ONU para Mudanças Climáticas, Ricardo Lagos, evidenciou a "barganha" com que o Brasil se defronta. Segundo disse em uma entrevista, "a Amazônia é do Brasil e o governo não tem necessidade de temer uma internacionalização da floresta por causa do debate ambiental". Em seguida, o ex-presidente do Chile fez um apelo para que o presidente Lula lidere na região um esforço para o estabelecimento das metas de redução de emissões de dióxido de carbono (CO2): "O Brasil é hoje o País mais autorizado para liderar a região e precisa fazer isso. Ninguém vai discutir a internacionalização da Amazônia se criarmos um acordo sobre esse tema." (Agência Estado, 26/06/2008)Para ele, um tal acordo deveria estabelecer um preço a ser pago para que uma árvore não seja cortada: "Podemos calcular isso com base no gás carbônico que a árvore em média absorve na Floresta Amazônica.
A floresta é de soberania do Brasil. Mas é verdade que sua destruição pode afetar a todos. Por isso é que precisamos de um acordo."Lagos afirmou que o Brasil deveria compartilhar a liderança política da região com o México, que já adotou metas de corte de emissões. Ele advertiu que os países emergentes precisam se antecipar e liderar a criação de um organismo ambiental internacional, pois, "se nós não fizermos isso, os países ricos vão montar suas regras e depois teremos de adotá-las. Isso será ainda pior... Isso logo vai chegar aos produtos importados e, cada vez que o Brasil quiser exportar laranja, alguém nos Estados Unidos irá cobrar uma taxa pelas emissões geradas pela produção e transporte desses produtos". E se a "barganha" proposta por Lagos pareceu ultrajante, o alto representante para Política Externa e Segurança Comum da União Européia (UE), Javier Solana, foi ainda mais longe, ao sugerir a introdução do conceito de "soberania responsável" para a solução de grandes questões internacionais. Ao ser questionado pelo correspondente do Valor Econômico em Genebra, Assis Moreira, se o conceito se aplicaria à Amazônia, Solana insinuou: "Soberania responsável é um termo pelo qual se tem que pensar que o que acontece num país, em mudança climática, afeta todo o mundo. Por isso, a idéia de se reunir juntos para resolver globalmente."Logo após a pergunta, segundo Moreira, Solana tratou de avisar que de modo algum sugeria qualquer tipo de "intervenção, nada disso", pedindo aos repórteres que não o comprometessem. Anteriormente, o diplomata europeu já havia definido assim o conceito (Agência Estado, 26/05/2008):
Esse é um termo que precisamos começar a pensar de forma séria. O que eu queria dizer com isso é que precisamos pensar que o que ocorre num país não afeta só aquele país e aquele povo, mas todo o mundo. Por isso, precisamos agir juntos. Mas isso também exige que todos os líderes sejam responsáveis, não só pelo que ocorre com seu país, mas responsáveis pelas conseqüências de suas ações em outros países.
Por outro lado, ele afirmou que, na cúpula do G-8, a UE insistirá em que todos os países se assumam compromissos obrigatórios de redução de emissões, levando em conta diferentes responsabilidades quanto aos níveis de poluição pregressos e os níveis de desenvolvimento atuais. Evidentemente, enfatizou Solana, terá que haver algum tipo de cobrança sobre as emissões de CO2, "caso contrário será muito difícil cumprir as metas". Para não deixar margem a dúvidas sobre a junção das agendas "aquecimentista" e "amazônica", o presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), Rajendra Pachauri, que acaba de retornar de uma visita ao Brasil, afirmou que estava "preocupado" com a situação da Amazônia (Agência Estado, 26/06/2008): "Tive encontros com [a ex-ministra do Meio Ambiente] Marina Silva e no Senado. Tenho a impressão de que as coisas não vão bem. O ritmo de desmatamento aumentou nos últimos meses. Isso não é um bom sinal e aponta que os esforços não estão dando resultados."Como enfatizamos na edição anterior, grande parte da responsabilidade pela posição brasileira diante dessas tramóias internacionais recai sobre o Itamaraty. Aqui, vale recordar que, no início da década de 1970, quando o ambientalismo dava os seus primeiros passos, diplomatas da estatura de Araújo Castro e Miguel Ozório de Almeida já se empenhavam em reconhecê-lo corretamente como um instrumento político para o "congelamento do poder mundial", nas palavras do primeiro. Hoje, mais do que nunca, a Casa de Rio Branco precisa retomar aquela iniciativa positiva, que em muito contribuiu para atrasar em pelo menos uma década a penetração do radicalismo "verde" no Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário