sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Coluna do Helio Fernandes

Ninguém vai acabar com gravações legais ou não
Conhecer a privacidade rende fortunas a muitos

Essa questão das gravações ainda vai demorar bastante tempo, e talvez estejam investigando a partir de ângulos errados, usando óculos bifocais com as lentes trocadas. Já dei indicação a respeito de "gravadores", digamos independentes, que trabalham por conta própria. Ex-SNI e ex-ABIN, têm aparelhagens moderníssimas, "gravam" para quem pagar mais. E há sempre "quem pague mais". Pois devassar a privacidade de determinados personagens, saber o que fazem ou vão fazer, vale fortunas.
Não acredito que a ABIN gravasse o presidente do Supremo. Embora não descarte a possibilidade de que tenham feito. Mas qual o interesse de ouvir o ministro presidente do Supremo, conhecer sua privacidade? Não faz sentido. Está mais na linha da fofoca, que palavra, da intriga boba, do boato inútil, do que "GRAVAR PARA SABER". Saber o quê de um presidente do Supremo, que quando decide o faz publicamente?
E como o Supremo é a última instância e não cabe recurso, se esgota aí o interesse. Gravar decisão de um tribunal que decida com recurso para o Supremo, ainda haveria a sugestão: "Gravaram para preparar a defesa". Nem isso existe.
Não há dúvida de que no Brasil quem mais gravou foi Golbery, que acumulava a função pública com a presidência da Dow Chemical. (A famigerada fabricante do napalm, que destruiu países, matou ou alejou milhões de pessoas. É possível que Golbery gravasse pela obsessão de desvendar a privacidade e também servir aos interesses escusos da Dow, que o remunerava generosamente).
Houve uma época em que no Rio os vespertinos não saíam aos domingos, e os matutinos às segundas. Carlos Lacerda, que já fora intimíssimo de Golbery (estavam brigados), escreveu: "Golbery, chefe do SNI, no fim de semana não sabe de nada, os jornais não circulam".
Golbery, já milionaríssimo morando numa fortaleza maravilhosa perto de Brasília, jurou: "Vou me vingar dessa humilhação". E se vingou, criando o plano da prorrogação do mandato de Castelo Branco. Revoltou alguns generais, mas liquidou uma possível candidatura Lacerda à sucessão de Castelo Branco. Tudo com base em gravação do telefone de Lacerda, inicialmente no Guanabara, depois na própria residência, quando acabou o mandato de governador.
Algumas gravações ficaram famosas, mas os gravadores ou titulares dos grampos não foram alcançados, punidos, atingidos, continuaram impunes.
1 - As conversas de Gabeira (hoje candidato a prefeito) e Franklin Martins (ministro) na casa da Rua Barão de Petrópolis, Rio Comprido, em 1969, véspera do seqüestro do embaixador Elbrick.
2 - O "presidente" Médici por EXIGÊNCIA dos EUA (que dizem que não negociam com terroristas, mas mandaram o governo brasileiro negociar, tudo gravado) soltou 15 presos políticos, um deles José Dirceu.
3 - As gravações de Geisel, "presidente", feitas por Golbery, seu chefe da Casa Civil.
4 - A gravação, na Praia de Copacabana (no Leme), da conversa entre o "governador" Leon Peres e o empreiteiro Cecilio Rego Almeida, que de calção de banho levou o gravador num maço de cigarros. O "governador", chamado ao Laranjeiras, ouviu a gravação, "renunciou", com a confirmação de que não seria preso.

5 - Em julho de 1967, quando este repórter foi desterrado para Fernando de Noronha, a gravação da fala do coronel Passarinho: "Temos que mandar o jornalista para bem longe, militares querem matá-lo". Passarinho, um dos artífices do golpe e que fez carreira extensa, chamava colegas militares de assassinos.
6 - Nova gravação de Passarinho, em 13 de dezembro de 1968, quando foi oficializado o mostruoso AI-5. Afirmação dele, ministro do Trabalho e depois da Educação. "`As favas com a consciência e os escrúpulos". E pediu a Costa e Silva que assinasse logo o AI-5.
7 - Para terminar por hoje, a gravação do episódio da Laureano, quando Delfim, Galvêas e Langoni (todos ministros) chamaram o empresário Assis Paim a Brasília para salvar a Corretora Laureano por causa do filho de Golbery, "atoladíssimo".
PS - Não faltam episódios de gravações, esporte nacional. Muito antes do filme de Copolla, sobre gravações telefônicas. O filme se chamou "Conversação", e pelo avanço "gravava até imagem". Mas como idéia, já estava ultrapassado (o filme) no Brasil.


Arminio Fraga: "É hora de dar autonomia ao Banco Central". Ele não tinha? Fazia o que queria, só não conseguiu trazer George Soros.
Mas o ex-patrão aumentou a participação em fundos no Brasil. Lógico, com o amigo no BC, corriam para ele.
Existem candidatos a prefeito com eleições difíceis, fáceis e sem possibilidade de análise. Uma das mais fáceis: de Beto Richa, em Curitiba. Isso no Paraná, onde Requião e os irmãos Alvaro e Osmar Dias dominam.
É uma verdadeira alucinação falar em presidenciáveis e vice-presidenciáveis faltando praticamente 2 anos para a eleição. Hoje completa 1 ano da primeira afirmação de Lula: "Não sou candidato ao terceiro mandato".
Nessa época, conversando comigo (para publicar, sem qualquer reserva ou restrição), Montenegro, do IBOPE, me disse categoricamente e com veemência: "O presidente Lula não quer de jeito algum o terceiro mandato".
Publiquei como ele disse, lógico, referendando a afirmação. Agora ninguém fala mais no terceiro mandato. Portanto, o pesquisador do instituto maior, e o repórter, acertamos.
O ministro da Defesa está garantindo que o dinheiro da Petro-Sal será utilizado para o reaparelhamento das Forças Armadas. Ninguém é contra. Mas ele engana os três comandantes.
Da Aeronáutica, Marinha e Exército. Fala até em submarino nuclear, promete aquilo que não sabe quanto custa. E qual o recurso de que poderá dispor, e em quanto tempo.
Acontece que esse dinheiro do chamado Pré-Sal (que alguns aventureiros já identificam como Petro-Sal, para concorrer até no nome com a Petrobras) ninguém sabe quando estará disponível.
O Brasil é realmente surrealista. Em 7 de Setembro de 1822, deram "o grito de Independência". E ainda acrescentaram: "Ou morte".
Neste fim de semana, outro 7 de Setembro, com Nelson Jobim e Mangabeira Unger "defendendo o Brasil". E dizem: "O Brasil radical".
Quando foi pior para o País? Em 1822, sem nenhuma defesa? Ou agora, 186 anos depois, quando a "independência" é toda circundada (não confundir com circunsizada) por desconfiança?

Para ler a coluna do Helio completa, acesse:

Nenhum comentário:

Postar um comentário