(Alerta em Rede) – Em curta nota de um parágrafo, o jornal O Estado de São Paulo de ontem alertou sobre a campanha recém-lançada pelo WWF na Europa exigindo o boicote da soja produzida no Brasil para reduzir o avanço da lavoura na Amazônia e, assim, impedir o desmatamento de florestas. A peça central da campanha é o relatório “Mais Independência da Soja Importada” (“Plus d’indépendance en soja d’importation”), emitido neste mês pela seção francesa da ONG.
A primeira frase do relatório reproduz a metáfora recorrente feita pelo aparato ambientalista, “Qual é o ponto em comum entre um bife e o desmatamento?”, cuja resposta não poderia ser outra senão que é “a soja importada, principalmente do Brasil. De fato, na América do Sul, as florestas são convertidas em culturas de soja – muitas delas geneticamente modificadas – para o mercado de ração animal”. [2] Em seguida, o documento enfatiza que, ao importar soja do Brasil, a Europa participa do desmatamento na América do Sul e que os modos de produção da oleaginosa na região causam “inúmeros problemas ambientais, muitos irreversíveis”, e desastres sociais como o “desrespeito ao direito trabalhista” (prudentemente, evitaram usar o surrado “trabalho escravo”, mas fica subentendido).
Na verdade, ao ler-se o relatório, fica claro que o principal objetivo dessa campanha do WWF é defender interesses de grupos econômicos europeus, muitos dos quais o financiam. Por isso mesmo, a campanha demanda que a Comissão Européia baixe medidas protecionistas para estimular alternativas domésticas para elevar o que chama de “autonomia em proteínas” que não passaria, atualmente, de 22%.
Mas trata-se de um protecionismo seletivo uma vez que visa conter a importação de soja cultivada apenas na América do Sul e, especificamente, no Brasil. Para justificar tal seletividade, o WWF utiliza com maestria, diga-se de passagem, a carta “socioambientalista” que combina “desmatamento na Amazônia” com “trabalho escravo” e outros chavões do arsenal ambientalista. Isso, contudo, nos dá a oportunidade de analisar, pedagogicamente, como são utilizadas as chamadas “barreiras socioambientais” inventadas pelas ONGs e aplicáveis somente a países do ex-Terceiro Mundo. Soja, como começou
Em agosto de 2003, o WWF realizou, na Malásia, um encontro com 205 participantes (metade deles representando empresas) de 16 países para discutirem sobre a adoção, por parte de produtores e compradores, de uma espécie de “selo verde” para facilitar a entrada de óleo de palma no mercado europeu. O WWF chamou o modelo de discussão e convencimento como “Processo de Mesa Redonda”. Quem apresentou o modelo foi Patrick Cooper, do WWF International, que dirige o programa Forest Conversion Initiative (Iniciativa Conversão de Florestas) cujo objetivo declarado é “Assegurar que florestas, mananciais, habitat de espécies-chave de elevado valor de preservação nas eco-regiões focadas não mais sejam ameaçadas pela expansão do óleo de palma e de soja”.
Em outubro do mesmo ano, o WWF emitiu o relatório “The Impacts of Soybean Cultivation on Brazilian Ecosystems” (Os impactos do cultivo de soja nos ecossistemas brasileiros) onde conclui que a produção de soja no Brasil implica em altos custos associados a desmatamentos de florestas tropicais, poluição atmosférica e negligência com trabalhadores, comunidades locais e direitos indígenas. Para reverter este padrão “insustentável” de produção, o relatório propõe ações por parte dos integrantes da cadeia produtiva de soja no sentido de aumentar os benefícios “sociais e ambientais”. Para desenvolver e fazer cumprir estas ações, o relatório propõe, naturalmente, a atuação de entidades (leia-se ONGs) nacionais e internacionais.
Em paralelo, foi criada a chamada Articulação Soja-Brasil, conglomerado de ONGs capitaneadas pelo WWF para operacionalizar o esquema no Brasil que, posteriormente, foi ampliado e consolidado na Round Table on Responsible Soy – RTRS. Segundo explicado em seu portal, o RTRS é uma iniciativa internacional que ... vem trabalhando para definir o que é soja cultivada e processada de forma responsável e para incentivar as melhores práticas disponíveis com o propósito de mitigar impactos negativos ao longo de toda a cadeia de valor da soja.
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