sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Na Mira do Belmiro

Manaus, as folias do látex e da bola

Há cem anos Manaus era uma das cidades mais importantes do planeta. São Paulo e Rio de Janeiro não ameaçavam o glamour e o prestígio da Paris dos Trópicos, como era conhecida a capital da Amazônia, que era rota diferenciada das companhias de navegação, comércio e espetáculos. A Ópera da floresta, o suntuoso e inacreditável Teatro Amazonas, monumento às artes dramáticas e cênicas e ícone da opulência tropical, construído no coração da floresta, era a referência do esplendor e da luxúria dos aventureiros e empreendedores europeus da virada do século XX. E foi da borracha, um leite vegetal mítico e precioso, que se fez um ciclo de prosperidade, e que agregou 60% de valor à economia inglesa e respondia por 45% do PIB do país. Uma pujança que deixamos escapar pelos dedos da distração e omissão que não souberam construir na região uma estrutura de perenização e diversificação da economia e estrutura de beneficiamento da Hevea brasiliensis.

Estamos falando da lembrança de um descuido crônico que deve ser avivada a cada dia como prova de nossa capacidade de fazer da generosidade de nosso patrimônio natural a prosperidade social definitiva. As bolas de sernambi, uma espécie de látex popular, inventadas pelos povos da floresta, eram usadas pelos indígenas para bater as primeiras pelotas, com direito à magia redonda, mágica e única, que o mundo ainda não conseguiu imitar. Essas bolas, as únicas que a garotada do beiradão conhecia até a chegada da globalização, incluindo os jovens da periferia de Manaus por várias décadas, propiciaram a invenção do esporte bretão, essa relação fascinante entre os pés, a bola e a paixão universal criada pelos ingleses em que o Brasil se transformou nesta penta-referência universal.

O látex ergueu a pujança de um ciclo, cujas bases e benefícios temos plenas condições de regatar, aperfeiçoar e tornar perene... O pólo de bio-indústria já não é a quimera de tantas décadas, para os nossos pesquisadores desde a criação do INPA nos anos 50. Depois de 41 anos de implantação da Zona Franca de Manaus, apenas e tão somente em 2008 o governo federal liberou o Processo Produtivo Básico dos cosméticos, daí aos fármacos talvez o calvário político não venha a ser tão íngreme. Afinal, quem detém o maior banco de germoplasma do planeta não pode ser tolhido em sua vocação natural e econômica de aproveitamento racional e sustentável dessa biodiversidade infinita. Ora, se na pujança do Ciclo da Borracha, as bolas de sernambi, inventada pelas etnias locais, desembarcaram na criação do esporte das multidões, cuja celebração quadri-anual será no Brasil daqui a cinco anos, o que esperar de um ordem econômica baseada na biota amazônica?.

Ufanismos e vaidades históricas à parte, nesta quinta-feira a comissão da FIFA visita Manaus e vistoria as condições urbanas de acolhida para abrigar uma das sedes da Copa de 2014. Condições já tivemos, temos e teremos por uma questão meramente curricular. A energia elétrica e a telefonia, indicadores da modernidade e do profissionalismo, chegaram antes a Manaus da Belle Époque do que em todas as capitais do Império e República brasileira. E a civilização européia aqui se instalou e deixou marcas e heranças indeléveis. Por isso uma das sub sedes da Copa de 2014 tem que ser aqui. E em assim sendo, termos a chance, mais do que isso, a obrigação, de resgatar com a folia da bola o glamour de Manaus, e sua folia do látex, afinal, a receita tributaria do modelo atual há muito superou a pujança econômica daquele ciclo. A lição, pois, sabemos de cor, só nos resta cair na estrada, ou em campo.

Zoom-zoom

A Grande Crise - Obrigatória a leitura da obra de Antonio Loureiro, que a Livraria Valer acaba de editar, A Grande Crise, que retrata um ciclo de nossa história muito falado e pouco estudado. Um trabalho de fôlego e com o rigor e a seriedade de um estudioso apaixonado pelas coisas e pessoas de nossa História. Visitar este período e convidar os jovens para esta fascinante viagem é condição natural de construir um futuro de prosperidade para nossa gente.

Gilberto ressurge - Depois de uma cirurgia para retirar uma hérnia cervical, o glorioso senador e ex-governador Gilberto Mestrinho se recupera rapidamente numa clínica especializada no Rio de Janeiro. E logo estará entre nós para celebrar mais um ano e emprestar sabedoria e alento para nossas lides.
Mauricio e Antônio - Mobilizados e atentos, os presidentes do Cieam e Fieam, Maurício Loureiro e Antônio Silva, estão em reunião permanente com técnicos do governo estadual para criar, propor e implementar medidas de enfrentamento da crise. É preciso um envolvimento mais próximo das demais entidades nessa empreitada cívica e apoio ostensivo a esses guardiães do modelo.

Qmilk - E a palavra de ordem não poderia ser outra: batente e mais batente. Omnia vincit labor, estava escrito na entrada do Colégio Dom Bosco de Manaus. O trabalho vence tudo. Daí votos de sucesso para o companheiro Fred Melo e seu Qmilk, integral e composto lácteo com nutrientes, que acaba de ser lançado em Manaus. E quem trabalha Deus ajuda, dizia seo Belmiro.

Belmiro Vianez Filho é empresário, membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas e colaborador especial deste Blog.
belmirofilho@belmiros.com.br

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