Por Carlos Lopes
Taxa de juro do BC é um guarda-chuva para os bancos sem correr os riscos dos empréstimos
Recentemente, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, interpelou o presidente do Bradesco e da Febraban, depois que este sugeriu que o Comitê de Política Monetária do BC deveria se reunir com mais frequência para que a queda na taxa de juros básica (Selic) fosse acelerada. “Vamos falar seriamente, o problema não é a Selic, é o spread bancário”, disse Meirelles.
O “spread” é a diferença entre a taxa com que um banco capta dinheiro e a taxa com que empresta esse dinheiro. Um dos principais componentes do “spread” é a taxa básica de juros, pela qual são remunerados os títulos públicos comprados pelos bancos. Mas, segundo a percuciente teoria que Meirelles formulou alguns dias depois, “o spread se descolou da Selic”. Ou seja, o “spread” dos bancos nada teria a ver com a taxa de juros do Banco Central.
Se essa tolice fosse verdade, seria um fenômeno econômico tão milagroso que só Nossa Senhora de Fátima poderia explicar. Como Meirelles não tem vocação – nem físico - para a santidade, e como suas tolices, em geral, são muito interessadas, vejamos mais de perto esta questão. Porém, antes, uma preliminar.
CRÉDITO
O volume do crédito no Brasil é atrofiado em relação ao tamanho da economia. No final de 2008, depois da extraordinária expansão do crédito no governo Lula, ele equivalia a 41,3% do PIB. No Japão, equivalia a 180%, na Inglaterra a 160%, na França a 90% do PIB. Aliás, foi o próprio Meirelles quem afirmou que o volume de crédito no Brasil era tão baixo que nem chegava ao das Filipinas, Hungria, Chile, Tailândia, Coréia do Sul ou Malásia (v. sua conferência, de título quase autobiográfico, “Brasil: O desafio do crescimento”).
A razão principal para uma restrição tão grande do crédito são os altíssimos “spreads” bancários. E a base para esses “spreads” é a altíssima taxa básica de juros do Banco Central. Essa taxa, inclusive, impede os bancos públicos de baixar seu “spread”. Voltemos, então, a este.
Segundo dados divulgados pelo BC na última terça-feira, os bancos, em dezembro, estavam pagando uma taxa, em média, de 12,6% ao ano pelo dinheiro que captam. Esse dinheiro estava sendo emprestado a uma taxa - também em média - de 43,2% ao ano. Portanto, a média do “spread” bancário, considerados os empréstimos a pessoas e empresas, estava em 30,6 pontos percentuais.
Se considerados somente os empréstimos a pessoas, esse “spread” estava em 45,1 pontos percentuais, margem verdadeiramente cosmológica, significando que o dinheiro pelo qual os bancos pagavam 12,6% ao ano estava sendo emprestado a uma taxa média de 57,7% ao ano. No caso das empresas, esse dinheiro era emprestado a uma média de 30,9% ao ano. É necessário observar que essas taxas médias são referentes ao que os bancos e seus consultores chamam de “clientes de primeira linha”. Para outros, a maioria, as taxas – e, por consequência, o “spread” - são muito maiores.
Trata-se, provavelmente, do maior “spread” do mundo, inviabilizando que a maior parte das empresas e dos consumidores tomem financiamentos nos bancos.
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