Investment grade ou Brasil atrás das grades?
Os adeptos da dependência ao Norte não cabem em si de alegria com o upgrade dado ao Brasil por uma das principais agências internacionais de avaliação de crédito, a Standard and Poors, para “investment grade”, ou seja, baixo risco de inadimplência. Antes de discutir se a posição financeira do Brasil realmente melhorou, ou se está piorando, convém liberar-se da poluição cerebral dominante entre os associados e os satélites do capital estrangeiro. Ela os faz deslumbrar-se diante de avaliações e conselhos provindos de instituições financeiras, bancos, empresas e governos do “Primeiro Mundo”. Para começar, qual é credibilidade das agências de crédito? Deveria ser nenhuma ou abaixo de zero. Que elas sejam reconhecidas e certificadas pelo governo dos EUA em nada altera os fatos: foram essas agências que atribuíram a mais alta nota (AAA) a títulos derivados das hipotecas do mercado imobiliário dos EUA, em valor nominal de dezenas de trilhões de dólares, os quais estão na raiz do colapso financeiro mundial e não passam hoje de junk bonds (lixo financeiro). A Standard & Poors e a Moody’s conferiram a classificação AAA até para as “Monolines”, companhias de seguro que garantiriam aqueles títulos e estão completamente falidas. Em suma, - tal como o Federal Reserve e outros bancos centrais, e como governos do “Primeiro Mundo”, - as agências de crédito destinam-se a servir os grandes bancos e fundos de investimento que comandam a finança mundial, beneficiários também das absurdas taxas de juros praticadas no Brasil. Esses trazem cada vez mais capitais de curto prazo para cá, ao mesmo tempo em que extraem daqui cada vez mais rendas de juros, apreciação de câmbio, ganhos de capital com derivativos e outras manobras no mercado financeiro “brasileiro”. São os mesmos infladores da bolha cujo espocar está abalando os mercados estadunidense e europeu. Vai haver um momento em que, reduzida a entrada no Brasil da quantidade incrível e crescente capitais estrangeiros de curto prazo, as saídas dos ganhos e o retorno de parte dos capitais causarão déficits no movimento de capitais do balanço de pagamentos brasileiro. O financiamento desses déficits implicará a retomada do crescimento em flecha da dívida externa. De resto, esta não teve redução nem mesmo de 2003 a 2007, quando houve grandes saldos comerciais e saldos positivos nas transações correntes com o exterior. De fato, contados os empréstimos intercompanhias (das matrizes às subsidiárias das transnacionais), a dívida externa total fechou 2002 com US$ 227,5 bilhões e 2007 com US$ 237,1 bilhões. As tão trombeteadas reservas atingiram US$ 180,3 bilhões, mas são reféns de aplicações em títulos da dívida pública interna e em títulos privados no Brasil. A dívida mobiliária interna federal está em R$ 1,4 trilhão, equivalentes a US$ 800 bilhões. Mesmo de 2003 a 2007, o superávit acumulado nas transações correntes não passou de US$ 46,4 bilhões, e teria sido de apenas US$ 28,3 bilhões, excluídas as transferências unilaterais (remessas de trabalhadores, com superávit de U$ 18,1 bilhões). A balança comercial teve saldo de US$ 190,2 bilhões. Portanto, o déficit acumulado de serviços e de rendas (juros e lucros oficialmente remetidos) foi de US$ 161,9 bilhões. Desde meados de 2007, sumiram os saldos comerciais significativos. O balanço de transações correntes apresenta déficit acima de US$ 9 bilhões nos últimos 12 meses, com impressionante aceleração em 2008. Basta comparar o déficit de US$ 10,8 bilhões no 1º trimestre deste ano com o minguante superávit do 1º trimestre de 2007 (US$ 241 bilhões). Nesse ritmo o déficit de transações correntes pode passar de US$ 50 bilhões no ano. A conta de serviços e rendas acusou déficit recorde de US$ 5,8 bilhões em março de 2008, e o componente de destaque são as remessas de lucros e dividendos, que atingiram U$ 4,3 bilhões nesse mês e US$ 8,6 bilhões no trimestre. A escalada é vertiginosa: média anual de 1999 a 2005, US$ 4,7 bilhões; 2006: US$ 13,9 bilhões; e 2007: US$ 17,9 bilhões. Diante desse cenário, o Banco Central e os que ditam sua política anunciam mais elevações da taxa de juros, o que tende a manter o valor do real, mas só enquanto a atração dos capitais estrangeiros não for superada pela avalanche das saídas. O resultado certo será sustar o crescimento da produção, mais desemprego e mais matança de empresas nacionais. Tudo conforme o script do subdesenvolvimento programado para o Brasil.
Os adeptos da dependência ao Norte não cabem em si de alegria com o upgrade dado ao Brasil por uma das principais agências internacionais de avaliação de crédito, a Standard and Poors, para “investment grade”, ou seja, baixo risco de inadimplência. Antes de discutir se a posição financeira do Brasil realmente melhorou, ou se está piorando, convém liberar-se da poluição cerebral dominante entre os associados e os satélites do capital estrangeiro. Ela os faz deslumbrar-se diante de avaliações e conselhos provindos de instituições financeiras, bancos, empresas e governos do “Primeiro Mundo”. Para começar, qual é credibilidade das agências de crédito? Deveria ser nenhuma ou abaixo de zero. Que elas sejam reconhecidas e certificadas pelo governo dos EUA em nada altera os fatos: foram essas agências que atribuíram a mais alta nota (AAA) a títulos derivados das hipotecas do mercado imobiliário dos EUA, em valor nominal de dezenas de trilhões de dólares, os quais estão na raiz do colapso financeiro mundial e não passam hoje de junk bonds (lixo financeiro). A Standard & Poors e a Moody’s conferiram a classificação AAA até para as “Monolines”, companhias de seguro que garantiriam aqueles títulos e estão completamente falidas. Em suma, - tal como o Federal Reserve e outros bancos centrais, e como governos do “Primeiro Mundo”, - as agências de crédito destinam-se a servir os grandes bancos e fundos de investimento que comandam a finança mundial, beneficiários também das absurdas taxas de juros praticadas no Brasil. Esses trazem cada vez mais capitais de curto prazo para cá, ao mesmo tempo em que extraem daqui cada vez mais rendas de juros, apreciação de câmbio, ganhos de capital com derivativos e outras manobras no mercado financeiro “brasileiro”. São os mesmos infladores da bolha cujo espocar está abalando os mercados estadunidense e europeu. Vai haver um momento em que, reduzida a entrada no Brasil da quantidade incrível e crescente capitais estrangeiros de curto prazo, as saídas dos ganhos e o retorno de parte dos capitais causarão déficits no movimento de capitais do balanço de pagamentos brasileiro. O financiamento desses déficits implicará a retomada do crescimento em flecha da dívida externa. De resto, esta não teve redução nem mesmo de 2003 a 2007, quando houve grandes saldos comerciais e saldos positivos nas transações correntes com o exterior. De fato, contados os empréstimos intercompanhias (das matrizes às subsidiárias das transnacionais), a dívida externa total fechou 2002 com US$ 227,5 bilhões e 2007 com US$ 237,1 bilhões. As tão trombeteadas reservas atingiram US$ 180,3 bilhões, mas são reféns de aplicações em títulos da dívida pública interna e em títulos privados no Brasil. A dívida mobiliária interna federal está em R$ 1,4 trilhão, equivalentes a US$ 800 bilhões. Mesmo de 2003 a 2007, o superávit acumulado nas transações correntes não passou de US$ 46,4 bilhões, e teria sido de apenas US$ 28,3 bilhões, excluídas as transferências unilaterais (remessas de trabalhadores, com superávit de U$ 18,1 bilhões). A balança comercial teve saldo de US$ 190,2 bilhões. Portanto, o déficit acumulado de serviços e de rendas (juros e lucros oficialmente remetidos) foi de US$ 161,9 bilhões. Desde meados de 2007, sumiram os saldos comerciais significativos. O balanço de transações correntes apresenta déficit acima de US$ 9 bilhões nos últimos 12 meses, com impressionante aceleração em 2008. Basta comparar o déficit de US$ 10,8 bilhões no 1º trimestre deste ano com o minguante superávit do 1º trimestre de 2007 (US$ 241 bilhões). Nesse ritmo o déficit de transações correntes pode passar de US$ 50 bilhões no ano. A conta de serviços e rendas acusou déficit recorde de US$ 5,8 bilhões em março de 2008, e o componente de destaque são as remessas de lucros e dividendos, que atingiram U$ 4,3 bilhões nesse mês e US$ 8,6 bilhões no trimestre. A escalada é vertiginosa: média anual de 1999 a 2005, US$ 4,7 bilhões; 2006: US$ 13,9 bilhões; e 2007: US$ 17,9 bilhões. Diante desse cenário, o Banco Central e os que ditam sua política anunciam mais elevações da taxa de juros, o que tende a manter o valor do real, mas só enquanto a atração dos capitais estrangeiros não for superada pela avalanche das saídas. O resultado certo será sustar o crescimento da produção, mais desemprego e mais matança de empresas nacionais. Tudo conforme o script do subdesenvolvimento programado para o Brasil.
*Adriano Benayon é diplomata de carreira, Consultor Legislativo da Câmara dos Deputados e, depois, do Senado Federal, na Área de Economia, aprovado em 1º lugar em ambos concursos. Doutor em Economia pela Universidade de Hamburgo e Advogado, OAB-DF nº 10.613, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi Professor da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco, do Ministério das Relações Exteriores. Autor de “Globalização versus Desenvolvimento”.
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