sexta-feira, 23 de maio de 2008

"Jornal Opção" entrevista Roberto Jefferson


Pre­si­den­te na­ci­o­nal do PTB afirma que sal­vou o pre­si­den­te Luiz Inácio Lu­la da Silva das gar­ras de Jo­sé Dir­ceu e elo­gia Ca­e­ta­no Ve­lo­so.
Roberto Jefferson perdeu o mandato ao denunciar o mensalão em 2005, mas continua mais ativo que nunca na articulação política. Ele analisa o governo Lula, lembra detalhes de seu embate com José Dirceu, também cassado em conseqüência de suas denúncias, e não esconde a mágoa pela forma como o PT?lidava com os aliados: “Fomos tratados como prostitutas”. Ele é o entrevistado do excelente jornal semanal de Goiânia, “Jornal Opção”.


Confiram a entrevista:

EX­CLU­SI­VO - ROBERTO JEFFERSON

“Nem Iris nem Marconi vão ceder espaço para Meirelles”
Presidente nacional do PTB diz que se o presidente do Banco Central quiser disputar o governo do Estado em 2010 vai ter de aprender a dar cotovelada Roberto Jefferson Monteiro Francisco abalou a República brasileira em 2005, quando denunciou o mensalão, prática pouco ortodoxa de cooptação de parlamentares posta em prática no Congresso. O então deputado federal do PTB, aliado do governo Lula, causou a queda do todo-poderoso ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu (PT), mas também teve o próprio mandato cassado. Presidente do PTB, Jefferson recebeu o jornal Opção na sede do partido, em Brasília, na quarta-feira, 14. Com a verve que lhe é peculiar e tomando um chimarrão — "é bom para baixar o ácido úrico" —, Roberto Jefferson falou sobre política e outros assuntos.
Veja os principais trechos da entrevista exclusiva.
Euler de França Belém — Consta que o goiano Henrique Meirelles já falou ao presidente Lula que vai deixar o Banco Central para disputar o governo de Goiás em 2010. Também há especulação de que ele seja candidato a presidente da República. Qual sua opinião sobre Meirelles?
RJ - Acho que Henrique Meirelles sonha em governar a província dele. E imagina só a qualidade de governo que esse homem pode fazer. Ele é o responsável pelo sucesso da economia do governo Lula. Tem lá o exagero deles, as altas taxas de juro, é muito cauteloso. Mas imagina onde ele vai buscar contratos para Goiás. As conversas dele são com Banco Mundial, BID, sabe tudo, conhece os caras. Puxa, o nível de governo que esse homem pode fazer! Pode ser até chato, um governo muito ortodoxo, muito correto. Ele não é político, é um grande técnico.
Euler de França Belém — O sr. imagina que políticos como Marconi Perillo e Iris Rezende, tidos como candidatos em 2010, vão ceder espaço para Meirelles?
RJ - Não, em política ninguém cede espaço. Ele vai ter de dar cotovelada. Meirelles vai ter de aprender a fazer isso (risos). Mas ele já deve ter alguma noção.

Cezar Santos — Iris está na frente para a reeleição e uniu-se ao PT em Goiânia, num acordo em que cederia a cadeira para disputar o governo em 2010.
RJ - Conheço gente que é irista há 25 anos, que jamais migrou, tem aquela lealdade ao velho Iris. E como o PT batia nesse homem, e de maneira injusta! Então o PT percebeu que não podia derrubá-lo e se uniu e ele.
Euler de França Belém — A chance que o PT tem de tirar Marconi é grudar em um líder maior, que é Iris.
RJ - Marconi tem um espírito mais petista, uma crítica mais petista. Iris é mais centrado, apanha e não passa recibo. Marconi vai para o embate, é um político jovem, que vai amadurecer ainda, mas já demonstrou gabarito. Deu uma arrancada meteórica, foi duas vezes governador.
Euler de França Belém — O sr. causou a cassação do ex-ministro José Dirceu (PT) ao denunciar o chamado mensalão, mas também foi cassado no processo. Interessante é que vocês dois tem uma identidade. Ambos caíram, mas continuam fortes, articulando. O Dirceu está agora envolvido no episódio do vazamento do dossiê contra o Fernando Henrique, talvez para derrubar a Dilma. Como vê essa manobra?É a cara dele, né?
RJ - O Zé é genial, tem de ser respeitado como adversário. Com um tiro só ele pegaria o Fernando Henrique e a Dilma. Por onde ele pegaria o FHC? Com o Álvaro Dias, senador do PSDB, mas que é inimigo do Fernando Henrique. Quem vazou o dossiê foi o Álvaro. Ora, se alguém me manda um dossiê contra o Collor, eu pego o dossiê, chamo Collor e digo me mandaram isso aqui contra você. Afinal, é um companheiro de partido. Não vou pegar esse dossiê e levar escondido para um jornalista divulgar. Que papel horrível também do Álvaro Dias. Mas aí se vê a inteligência do Zé Dirceu.
Cezar Santos — Mas por que Dirceu quer derrubar a Dilma?
RJ - Ela está muito forte e não passa por ele. Ela o sucedeu, alavancou a Casa Civil, moralizou o governo, corrigiu os vícios do Palácio. Ele deve estar maluco, vendo que naquela posição, com o PAC, seria a alavanca dele hoje, José Dirceu para presidente.
Euler de França Belém — Mas ele continua forte.
RJ - Ele é como Deus, sabe muitos segredos, (risos) conhece virtudes e vícios. Tem informações e tem o PT também.
Euler de França Belém — Por que politicamente Lula melhorou sem José Dirceu?
RJ - José Dirceu devia impor muitas coisas a ele. Aquele trio, como chamavam? Politburo?
Cezar Santos — O núcleo duro do governo?
RJ - O núcleo duro, formado por Luiz Gushiken, Antonio Palocci e principalmente Dirceu. Esse grupo devia constranger muito Lula. Prova é que Lula governava menos, era mais um chefe de Estado que um chefe de governo. Ele viajava mais. Sem Dirceu ele se tornou efetivamente chefe de Estado e de governo. Lula puxou para si a articulação, porque viu que Dirceu estava errando na dose. José Dirceu contaminava a ante-sala de Lula.
Cezar Santos — Com a queda de Dirceu houve uma descontaminação?
RJ - Depois que fui cassado [em setembro de 2005], em entrevista ao programa Roda Viva [TV Cultura, de São Paulo], eu disse a Dilma Roussef vai corrigir, vai salvar Lula. Por que com o Dirceu, qualquer assunto era assunto, qualquer coisa ele fazia naquela ante-sala.
Cezar Santos — Então, ao provocar a queda de Dirceu, o sr. ajudou Lula.
RJ - Lula me deve essa (risos). Quando ele sair do governo, vou cobrar um jantar. Libertei Lula de José Dirceu. Já que estamos na fase de Lei Áurea, posso dizer que assinei a libertação de Lula.
Euler de França Belém — Falando em Dilma, ao contrário do que as pessoas pensam, ela opera bem tecnicamente e politicamente. Ninguém esperava isso. Ela pode se viabilizar como candidata?
RJ - Sim, se amaciar o tom. Ela precisa colocar as notas mais suaves. É muito dura nas colocações. É uma espécie de Marina Silva [que tinha pedido demissão no dia anterior à entrevista], é muito ideológica. Ela tem de ter paciência, mais fair play. Política não é nossa vontade, não é "eu", é "nós"; não se fala na primeira pessoa do singular, mas na primeira do plural. Ela tem de aprender o nós, ser mais humilde. Senão vai errar como a Marina errou, uma mulher correta, mas que bateu de frente e caiu pelo radicalismo das posições.
Euler de França Belém — Ela é muito diferente de Lula. Não é popular e tem de construir uma imagem. O sr. acha que é possível?
RJ - Com o apoio de Lula ela é forte. Lembro o César Maia, no Rio, quando elegeu o Luiz Paulo Conde para prefeito, em 1996. As pessoas chamavam o Conde de "poste".
Cezar Santos — Dilma seria o "poste" de Lula? Já que o sr. faz esse paralelo, eleita ela poderia trair Lula, como Conde traiu César Maia?
RJ - Mulher é mais leal que homem. Se ela assumir com Lula o compromisso de ficar só quatro anos ela cumprirá — ou cinco, se o próximo mandato for de cinco — para que ele possa retornar. Não tenho dúvida. Outro não fará isso por ele; homem não faz.
Euler de França Belém — Lula, lançando Dilma com tanta antecedência, pode alavancá-la, mas pode também queimá-la. Dentro da teoria da conspiração, isso não é muito estranho?
RJ - Lula não tem nomes. Ele está trabalhando a Dilma por gratidão e por inteligência. Ele sabe que ela é uma mulher honrada, correta, não vai dar uma rasteira nele lá na frente.

Esta entrevista é muito maior. Tem ainda muita coisa interessante. O jornalista Euler Belém sabe abordar as coisas certas. Confiram acessando:

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