Direito de desmatamento legal
Nilder Costa*
Em uma não tão surpreendente entrevista concedida dia 24 ao jornal Folha de São Paulo, o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, defendeu o direito ao desmatamento legal como mecanismo inevitável para enfrentar a atual crise mundial de alimentos. "Com o agravamento da crise de alimentos, chegará a hora em que será inevitável discutir se vamos preservar o ambiente do jeito que está ou se vamos produzir mais comida. E não há como produzir mais comida sem fazer a ocupação de novas áreas e a retirada de árvores”, disse Maggi sem meias palavras, e que "Está próximo o momento em que o volume de produção não será mais suficiente para a demanda. O mundo, então, terá de fazer um enfrentamento e discutir como ocupar mais espaço para fazer agricultura." [1]Para Maggi, a maioria das áreas já abertas -como pastagens degradadas- não é propícia à agricultura em larga escala devido ao clima e ao risco de quebra na produção. "Para que utilizem essas áreas marginais, será preciso que os agricultores tenham políticas de seguro agrícola, para que haja garantia de renda.", disse ele. Interessantes foram suas observações sobre o decantado ‘passivo ambiental’ acumulado desde o início dos projetos de colonização do Cerrado e que, segundo o governador, está sendo analisado sob ótica equivocada pois o processo se deu "de forma correta", de acordo com a legislação vigente à época: "Se há 30 anos houvesse as restrições ambientais que há hoje, com certeza Mato Grosso não seria o maior produtor de soja, de algodão e da pecuária. O que é ilegal hoje, nós somos contra”. Aos críticos desse modelo - constituídos, em sua maioria, pelo aparato ambientalista internacional -, Maggi usou de ironia ao afirmar que "Algumas pessoas acreditam" que a produção agrícola de Mato Grosso "é para alimentar ETs", acrescentando que "Nos últimos 30 anos, o Brasil forneceu comida barata para o mundo. Fez a sua parte. Neste momento de crise, o mundo precisa entender que o país tem espaço para fazer crescer sua produção, mas precisa de garantias para se lançar em uma aventura maior na questão da produção de alimento, quer seja na abertura de novas áreas, quer seja nas áreas mais antigas, abertas e que ofereçam algum risco de rentabilidade." Dissemos ao início que essas declarações do governador não causaram tanta surpresa porque, em março passado, em função do recrudescimento do desmatamento na ‘Amazônia’, quando Mato Grosso foi apontado uma vez mais como grande vilão, Maggi já dera sinais inequívocos que estava abandonando a aliança que fizera com as grandes ONGs ambientalistas internacionais na vã tentativa de obter uma espécie de ‘salvo-conduto verde’ para a soja mato-grossense na Europa. [2] No episódio, tal aliança de nada valeu para Maggi, que parece ter se convencido que não é confiável negociar com ONGs cujas agendas são determinadas por interesses alienígenas e conflitantes, portanto, com os nacionais e os de boa parte dos produtores mato-grossenses que o apoiaram nas eleições governamentais, mas se sentiram traídos. É possível que essa nova postura de Maggi signifique um rompimento do ‘pacto verde’ que fez com as ONGs e um retorno às suas antigas bandeiras desenvolvimentistas que o colocaram no Palácio Paiaguás, mas é preciso esperar para ver.
Nilder Costa*
Em uma não tão surpreendente entrevista concedida dia 24 ao jornal Folha de São Paulo, o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, defendeu o direito ao desmatamento legal como mecanismo inevitável para enfrentar a atual crise mundial de alimentos. "Com o agravamento da crise de alimentos, chegará a hora em que será inevitável discutir se vamos preservar o ambiente do jeito que está ou se vamos produzir mais comida. E não há como produzir mais comida sem fazer a ocupação de novas áreas e a retirada de árvores”, disse Maggi sem meias palavras, e que "Está próximo o momento em que o volume de produção não será mais suficiente para a demanda. O mundo, então, terá de fazer um enfrentamento e discutir como ocupar mais espaço para fazer agricultura." [1]Para Maggi, a maioria das áreas já abertas -como pastagens degradadas- não é propícia à agricultura em larga escala devido ao clima e ao risco de quebra na produção. "Para que utilizem essas áreas marginais, será preciso que os agricultores tenham políticas de seguro agrícola, para que haja garantia de renda.", disse ele. Interessantes foram suas observações sobre o decantado ‘passivo ambiental’ acumulado desde o início dos projetos de colonização do Cerrado e que, segundo o governador, está sendo analisado sob ótica equivocada pois o processo se deu "de forma correta", de acordo com a legislação vigente à época: "Se há 30 anos houvesse as restrições ambientais que há hoje, com certeza Mato Grosso não seria o maior produtor de soja, de algodão e da pecuária. O que é ilegal hoje, nós somos contra”. Aos críticos desse modelo - constituídos, em sua maioria, pelo aparato ambientalista internacional -, Maggi usou de ironia ao afirmar que "Algumas pessoas acreditam" que a produção agrícola de Mato Grosso "é para alimentar ETs", acrescentando que "Nos últimos 30 anos, o Brasil forneceu comida barata para o mundo. Fez a sua parte. Neste momento de crise, o mundo precisa entender que o país tem espaço para fazer crescer sua produção, mas precisa de garantias para se lançar em uma aventura maior na questão da produção de alimento, quer seja na abertura de novas áreas, quer seja nas áreas mais antigas, abertas e que ofereçam algum risco de rentabilidade." Dissemos ao início que essas declarações do governador não causaram tanta surpresa porque, em março passado, em função do recrudescimento do desmatamento na ‘Amazônia’, quando Mato Grosso foi apontado uma vez mais como grande vilão, Maggi já dera sinais inequívocos que estava abandonando a aliança que fizera com as grandes ONGs ambientalistas internacionais na vã tentativa de obter uma espécie de ‘salvo-conduto verde’ para a soja mato-grossense na Europa. [2] No episódio, tal aliança de nada valeu para Maggi, que parece ter se convencido que não é confiável negociar com ONGs cujas agendas são determinadas por interesses alienígenas e conflitantes, portanto, com os nacionais e os de boa parte dos produtores mato-grossenses que o apoiaram nas eleições governamentais, mas se sentiram traídos. É possível que essa nova postura de Maggi signifique um rompimento do ‘pacto verde’ que fez com as ONGs e um retorno às suas antigas bandeiras desenvolvimentistas que o colocaram no Palácio Paiaguás, mas é preciso esperar para ver.
Notas:
[1]Desmatar é remédio para crise da comida, diz Maggi, Folha de São Paulo, 25/04/08
2]Desmatamento: a quem interessa 'criminalização' de produtores ?, Alerta Científico e Ambiental, 06/03/2008
*Nilder Costa
editor@alerta.inf.br
Engenheiro mecânico, formado em 1969 pela escola nacional de engenharia (atual ufrj), com especialização em centrais nucleares. co-autor dos livros "máfia verde: o ambientalismo a serviço do governo mundial" e "máfia verde 2: ambientalismo, novo colonialismo". membro fundador e diretor do movimento de solidariedade ibero-americana.
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