quinta-feira, 29 de maio de 2008

Aparato ambientalista/indigenista


As 'nações indígenas' e o aquecimento global
Nilder Costa

No momento em que a questão indígena no País evoluiu para uma situação de crise, desencadeada, em grande medida, pela sucessão de incidentes envolvendo a demarcação da reserva Raposa Serra do Sol e outros correlatos, é relevante analisar-se o 2º Encontro Nacional dos Povos da Floresta, realizado em abril passado em Manaus (AM). O primeiro encontro, em 1987, foi presidido por Chico Mendes.O encontro seria mais um dentre vários outros similares não fôra pela convocatória que vincula reservas indígenas a um esquema financeiro internacional para reduzir emissões de CO2, o vilão do ‘aquecimento global’ antropogênico. Em síntese, a proposição é estabelecer um fluxo regular de dinheiro internacional para abastecer diretamente o que poderia ser o ‘caixa inicial’ de uma futura nação indígena autônoma. Veja-se que os ‘contratos’ de pagamento em discussão duram nada menos que 60 anos! O esquema é o REDD, formalmente conhecido como ‘Reduzindo as Emissões de Desmatamento e Degradação Florestal’ (Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation), e foi lançado durante a Conferência do Clima, da ONU, realizado em novembro passado em Bali, Indonésia. Em Manaus, reuniram-se representantes de ‘povos da floresta’ de 11 países da América Latina e, após deliberações, emitiram uma ‘Carta de Manaus’ e criaram a International Alliance of Forest Peoples para tratar dos seus interesses e negociações diretas com os corretores internacionais do ‘mercado de carbono’. O evento mereceu um artigo no New York Times que comentou sobre a atuação do aparato ambientalista por apontar a América do Sul como ‘alvo preferencial’ para as negociatas com os voláteis créditos de carbono: [1]
‘O governo da Indonésia vem promovendo a idéia da comercialização do carbono em reuniões sobre mudanças climáticas. Contudo, os ambientalistas enxergam a América do Sul, onde as populações nativas (sic) têm grandes pleitos sobre questões territoriais, como local preferencial para a construção do conceito (REDD, ed.)

‘Diferentemente do Sudeste da Ásia, onde a terra é controlada com muito mais rigor pelos governos nacionais, o Brasil separou enormes faixas de terras da Amazônia para as populações nativas que possuem agora direitos permanentes sobre 12% do território do País e 21 % do território da Amazônia. Cerca de 49 milhões de acres (aprox. 20 milhões de hectares, ed.) de ‘reservas extrativistas’ foram destinadas para seringueiros, catadores de castanha e comunidades ribeirinhas que vivem lá’.
Adiante, a matéria revela que a ONG americana Woods Hole Research Center (WHRC) já fez até as estimativas de quanto os ‘grupos nativos’ brasileiros receberiam: cerca de dez dólares por quilômetro quadrado do ‘perímetro defendido’. O Encontro de Manaus foi armado pela WHRC e sua filial brasileira, o IPAM, uma das consorciadas ‘vip’ da USAID para monitorar a floresta amazônica, e outras ONGs socioambientais do pedaço. Uma das estrelas do evento foi o conhecido antropólogo americano Stephan Schwartzman, da ONG Environment Defense Fund (EDF), e que também é membro fundador do Instituto Socioambiental (ISA). ‘Existe um sentimento real que isso (o REDD, ed.) representa uma enorme oportunidade para os povos da floresta influírem nas negociações sobre mudanças climáticas e criar incentivos em larga escala para impedir o desmatamento e, ao mesmo tempo, melhorar as suas condições de vida’, disse Schwartzman. Ressalte-se que a EDF e Schwartzman foram elementos chave para a propulsão mundial do mito Chico Mendes. Para Schwartzman, por exemplo, Roraima não deveria existir como Estado “pois não há atividade econômica que o sustente...Considerando a atitude da classe política de Roraima para com as terras indígenas do Estado, o povo brasileiro está pagando pelo esbulho do seu próprio patrimônio. E, cabe ressaltar, que esta é a estrutura político-econômica da Amazônia como um todo”. [2] O Encontro faz parte da estratégia alienígena de colocar em prática o conceito de soberania relativa para a Amazônia que foi magistralmente enunciado pelo ex-presidente americano Al ‘Guru Climático’ Gore ao declarar que a região não pertencia aos brasileiros, mas à toda a Humanidade. O tal REDD proposto em Manaus é uma combinação perfeita para isso: cria-se o arcabouço de futuras nações indígenas e os ‘guardiões perfeitos’ da floresta ajudam a ‘salvar’ a Humanidade do apocalíptico aquecimento global antropogênico.
Notas:
[1]Amazon’s ‘Forest Peoples’ Seek a Role in Striking Global Climate Agreements, The New York Times, 06/04/2008
[2]Establishment dos EUA não quer a Cuiabá-Santarém asfaltada , Alerta Científico e Ambiental, 05/08/2002

Este artigo está em:
http://www.alerta.inf.br/index.php?news=1323

Nenhum comentário:

Postar um comentário