Marcela Buscato e Martha Mendonça. Com Danilo Casaletti
Os avanços da genética e das técnicas para mapear o cérebro ajudam a explicar por que certas paixões duram e outras não
O segredo da paixão eterna é a ativação de um circuito na área tegmentar ventral, uma região do mesencéfalo, no meio da cabeça. Certo, não soa nem um pouco romântico, mas essa descoberta de cientistas de duas universidades americanas, noticiada na semana passada, pode ajudar a entender por que alguns relacionamentos duram tanto e outros tão pouco. A área tegmentar ventral é acionada quando algo nos dá prazer. Os pesquisadores das universidades Rutgers e Stony Brook, nos Estados Unidos, detectaram em imagens computadorizadas um pequeno ponto de luz, indicador desse circuito cerebral em atividade, nas pessoas que têm relacionamentos estáveis há pelo menos duas décadas. Pode ser a prova de que não é uma ilusão a paixão que permanece tão intensa quanto no primeiro dia.
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O Estado deve, não nega e não paga
Como a senhora da foto abaixo, milhares de brasileiros esperam há anos pelo pagamento de indenizações. A agonia deles financia governos, empresas e advogados
Mariana Sanches
A dona de casa Ana Dalva Machado diz que há sete anos vive a contradição de se sentir rica e pobre ao mesmo tempo. No papel, essa senhora de 54 anos é dona de uma soma que cresce anualmente num ritmo mais vantajoso que o de aplicações financeiras convencionais, como fundos de renda fixa. Em tese, ela poderia ser dona de um patrimônio de mais de meio milhão de reais. Na prática, Ana não consegue ver a cor do dinheiro e vive com sérias restrições orçamentárias numa casa simples cercada de favelas em Porto Alegre. Endividada, diz que se sente mal por não ter condições de dar assistência a um irmão doente que não consegue se aposentar.
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O desespero de Ana foi bom para muita gente. Serviu para financiar o governo estadual, que evitou o desembolso da indenização por sete anos. Serviu para enriquecer o advogado que comprou o precatório de R$ 150 mil por R$ 22 mil. Escritórios de advocacia especializados na compra de precatórios depois os revendem para empresas, embolsando, em geral, um lucro de 20%. O desespero de Ana serviu ainda para financiar a empresa compradora. Depois de pagar ao advogado cerca de R$ 30 mil pelo precatório, a empresa pode usá-lo para abater impostos no Rio Grande do Sul pelo valor de face do documento, R$ 150 mil.
Abastecido por pessoas em situação semelhante à de Ana Dalva, o mercado paralelo de precatórios alimentares só cresce no Brasil. Em 2004, de acordo com um levantamento do Supremo Tribunal Federal (STF), União, Estados e municípios deviam R$ 61 bilhões para pessoas físicas. Isso é mais que o dobro do orçamento da cidade de São Paulo para 2009. Não há dados sobre a dívida atual, mas há estimativas de que já tenha superado R$ 90 bilhões – pelo último levantamento, os Estados respondiam por 71% do total das dívidas. Somente no Estado de São Paulo, o campeão em dívidas, cerca de 500 mil pessoas esperam o pagamento de R$ 11,6 bilhões. Para zerar o calote paulista, seria preciso duas vezes o valor obtido na venda do banco estadual Nossa Caixa ao Banco do Brasil, feita em 2008. A dívida cresce porque o valor de cada precatório não pago é corrigido anualmente pelo valor da inflação mais 6%.
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Vai precisar de muito fôlego
A retração da economia no fim de 2008 coloca em xeque o otimismo do governo sobre os efeitos da crise global no Brasil
José Fucs
Diz a sabedoria popular que, no Brasil, o ano só começa depois do Carnaval. Trata-se, evidentemente, de um exagero. Mas, mesmo para os padrões brasileiros, poucas vezes se viu um começo de ano tão devagar quanto em 2009 – e, desta vez, isso não está acontecendo apenas por conta do calendário. A pasmaceira é um sinal claro de que a crise internacional, que até há pouco tempo parecia um fenômeno distante, está chegando com força ao Brasil. Ao contrário do que afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o tsunami externo não se transformou apenas numa “marolinha”. Seu elevado poder de destruição já promove estragos de grandes proporções em todo o Brasil, provocando a queda das vendas das empresas e o aumento do desemprego.
Apesar dos sinais explícitos de que a economia se deteriorou de forma acelerada nos últimos meses e deverá se deteriorar ainda mais no primeiro trimestre de 2009, Lula ainda prefere acreditar num cenário róseo. “Eu estou muito otimista em relação a 2009”, afirmou Lula, na virada do ano. “Se tivesse um concurso para eleger o homem mais otimista do mundo, eu estaria entre eles.”
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O governo estuda diversas medidas para tentar aliviar o impacto da crise. Mantega informou que um pacote de ajuda ao setor de construção civil deverá ser anunciado dentro de 15 dias. O plano prevê, entre outras coisas, um investimento de R$ 350 bilhões em 15 anos para acabar com o déficit habitacional do país, estimado em 8 milhões de moradias. Espera-se também que o governo amplie as concessões de rodovias, a realização de obras em estradas federais, portos e ferrovias, além de iniciar as obras do trem-bala Rio-São Paulo e efetuar investimentos em transportes nas 12 cidades que deverão receber os jogos da Copa do Mundo de 2014. Uma medida anunciada na semana passada pela Receita Federal também promete ter efeito positivo na economia. A Receita reconheceu oficialmente que não deverá incidir Imposto de Renda sobre o dinheiro recebido pelos trabalhadores com a venda de dez dias de férias, algo que a Justiça já vinha determinando no varejo fazia anos.
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