sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Said Barbosa Dib

De como e porque George Soros seduziu ao próprio Demônio
Adaptação do conto O Demônio Tentado do italiano Giovanni Papini

Ontem, depois de mais um dia tenso e histérico na Bolsa de Valores, após horas cansativas ao telefone, instruindo meus empregados no Banco Central do Brasil, sonhei uma estranha aventura, esta manhã a realizei, esta noite a conto. Que me ouçam todos os que têm senso bastante para acreditar na realidade do que não poderia suceder.
O Demônio, que me aparece freqüentemente em sonhos, que acompanha todos os meus passos e meus negócios, ontem à noite me apareceu de uma forma mais contundente. Pensei ser apenas mais uma dica financeira, uma catástrofe anunciada, uma revolução, uma guerra ou coisa parecida que pudesse me favorecer. Desta vez, sonhei com ele de uma forma diferente e foi um caso de tentação. Mas não era ele, vede-o bem, quem me tentava, era eu que tentava ao demônio. O sonho foi tão imprevisto e forte, que despertei sobressaltado e todo o resto da noite não pude deixar de pensar naquela cena insólita, naquelas palavras ouvidas em poucos instantes.
Esta manhã, persuadi-me de que não havia outro meio de livrar-me daquela estranha visão noturna, senão fazê-la real na vigília, e, sem mais refletir, me pus em ação.
Ao fim da rua onde está minha casa, esperava-me o Demônio. Supus, primeiramente, que ele estava ciente do sonho e que ele próprio era quem o havia provocado, para zombar de mim. Estava a ponto de voltar sobre os meus passos, um tanto assustado, quando me recordei que, alguns dias antes, tínhamos combinado um encontro para ir visitar um velho jardim numa mansão de um amigo, que já muitas vezes protegera, com sua sinistra privacidade, os nossos diálogos.
E partimos, silenciosos, sem sequer nos cumprimentarmos. Ao sairmos, fora da cidade, o Demônio continuou sem proferir palavra, mas o sonho me reapareceu mais vivaz e imperioso do que nunca e eu tive de morder os lábios.
Não falei. Como iniciar ante aquele obstinado silêncio?
Chegamos, por fim, ao jardim nos subúrbios de Nova York, onde um velho cipreste balançava lentamente o alto cimo, com um ar de impaciência e de censura. Sentamo-nos com as costas apoiadas ao amplo e maciço tronco e o Demônio continuou calado. Estava ali, com uma expressão compenetrada e com sua costumeira sobriedade. Então, como se no mais profundo de mim se houvesse aberto de repente algum veio interior, senti borbulhar e sair aos borbotões as palavras que deveria dizer. E falei ao Demônio, numa ansiedade excitante de quem acabara de arriscar milhões no mercado de capitais, desta maneira:
"Mestre e amigo: chegou para ti o dia da tentação.
(...)
Leia o conto completo, clicando aqui

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