No Congresso já se comenta que Lula está irritado com o que considera uma insistência injustificada do senador Tião Viana em se manter como candidato à Presidência do Senado. O presidente avalia que o senador do Acre só está pensando no próprio umbigo, conseguindo desagradar a gregos e troianos. O núcleo de poder do PT já se decidiu por Dilma Roussef, que tem grande afinidade e simpatia por Sarney e precisará da ala confiável do PMDB em 2010 . Lula, além de gostar de Sarney - e confiar nele - teme que o PT queira se livrar de seu personalismo político, atrapalhando no Congresso os últimos anos de seu segundo mandato. Tem medo de que os mercadantes e tiões da vida, atrás de holofotes, comecem a se empolgar e queiram aparecer mais que o Rei atrás de uma posição na legenda para 2010. É o medo do fogo “amigo”.
A bancada do PR na Casa, que havia declarado suporte à candidatura de Viana, já anunciou que vai apoiar Sarney. Os quatro senadores da legenda - César Borges (BA), Expedito Júnior (RO), João Ribeiro (TO) e Magno Malta (ES) – fecharam questão. Por outro lado, Garibaldi Alves prevê uma vitória fácil de Sarney. De acordo com ele, a candidatura será oficializada nesta tarde, em almoço da bancada, e o PSDB, que deve garantir a vitória peemedebista, vai anunciar seu apoio até o final do dia. Ontem, o presidente do Senado, respondendo aos repórteres presentes, deu uma lapada que colocou por água o argumento energúmeno de que o PMDB não deveria presidir as duas Casas do Congresso, explicando que “a ascensão está ligada às urnas, que consagrou o partido como o mais votado nas últimas eleições". Disse ainda que a sigla terá o equilíbrio necessário nos mandatos. "Alguns encaram a eleição do PMDB nas duas Casas como o partido adquirindo muito prestigio, mas isso foi conquistado nas urnas", lembrou. "Mas o PMDB saberá se comportar", ironizou. Garibaldi está certíssimo, pois, afinal de contas, o PMDB ganhou mais que o dobro de municípios do que o PT e venceu no Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre, enquanto os petistas amargaram a derrota de Marta Suplicy em São Paulo.
Já o PSDB, a noiva cobiçada, tem casamento já acertado com o “bigode”. Arthur Virgílio já declarou que o partido só apoiará a candidatura Sarney em troca do "boicote" a qualquer iniciativa de governistas em favor de um eventual terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Virgílio não quer na Presidência do Senado e do Congresso alguém que pudesse facilitar uma hipotética emenda constitucional que permitisse que Lula seguisse os caminhos perigosos de Evo Morales e Hugo Chaves. Para os menos desavisados a mensagem é clara em favor do peemedebista. Isto porque Virgílo, com razão, não confia nas posturas demagógicas e indelicadas de Tião Viana; e sabe que o ex-presidente há muito vem escrevendo artigos e fazendo pronunciamentos em favor do critério democrático para o ingresso de países ao Mercosul, chegando a criticar justamente o instituto da reeleição infinita e o fechamento de órgãos de imprensa na Venezuela de Hugo Chaves. A bancada do PSDB está agora se reunindo para fechar a lista de exigências, que será encaminhada ainda hoje a Sarney, o preferido pela bancada de 13 senadores. Só para jogo de cena, a mesma proposta será levada a Tião Viana. "Como temos sérias dúvidas sobre as intenções democráticas de vários setores do governo, queremos saber dos candidatos se tentativas golpistas teriam êxito", antecipou ontem o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). "Queremos um presidente com sinceros compromissos democratas e de respeito às minorias e ao direito à voz da oposição, que não pode ser mutilada no Congresso", insiste Guerra. A exigência do presidente tucano foi elaborada com endereço certo: Sarney. É como se dissesse que o tucanato só iria votar no candidato que usa bigode há mais de 30 anos.
Said Barbosa Dib
Nenhum comentário:
Postar um comentário