quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Helio Fernandes

Os golpes não têm vencidos ou vencedores

E O MAJOR PASSARINHO SÓ ERA “PRESIDENCIÁVEL” DELE MESMO
A vaidade do major Passarinho (coronel quando passou para a reserva) é maior do que o bom senso e o poder de análise.
Por isso, insiste há anos que “convidado para presidente da República no regime militar RECUSOU várias vezes”. Agora, em matéria publicada pela revista “Brasília em Dia”, volta ao assunto.
E se “aprofunda” dando até nomes. Textual: “Quando Costa e Silva adoeceu, o general Médici tinha um carinho muito grande por mim. A ponto de falar sempre na possibilidade da sucessão”.
Fazer citação em causa própria é facílimo, precisamente quando não existem testemunhas. A credibilidade teria que ser reforçada por fatos e não apenas por divagações que favorecem o próprio e ambicioso “presidenciável”.
Na falta de testemunhas e de fatos que comprovem e garantem as chances de um major chegar a presidente da República, principalmente num regime militar, basta fazer pesquisas, movimentar a memória e verificar a tradição do Exército.
Lugar-comum que não pode ser desmentido: “O Exército se baseia na hierarquia e na disciplina”. Portanto, como essa confissão “menas” verdadeira de que Médici queria o major Passarinho como presidente?Além do mais, os golpistas de 1964/68 (que foram até 1979, já capengando e assim desapareceram em 1985) fixaram normas para aqueles que poderiam ocupar a “presidência” representando o golpe.
Em 1964, poucos perceberam que houve enormes modificações no funcionamento e operação das ditaduras. Ficando apenas no Brasil, vejamos o que aconteceu na ditadura chefiada por um civil (Vargas) e na ditadura dos militares.
Vargas cumpriu (e exerceu) o modelo clássico: ditadura fixa, com um ditador também fixo. Os militares inovaram: ditadura fixa, mas com um ditador rotativo.
Fixaram 3 condições para os “presidenciáveis”. 1 - Ser general-de-exército. 2 - Da ativa. 3 - Não poderia pretender ou admitir qualquer forma de continuação no Poder.
Portanto, um major (mesmo já coronel reformado) não se enquadrava nessas regras fixadas por aqueles que eram mais importantes do que Passarinho.
Agora a tradição. Em 15 de novembro de 1889 (República), o tenente-coronel Benjamin Constant assumiu o Ministério da Guerra. Deodoro e Floriano ficaram furiosos. E não descansaram enquanto não o tiraram de lá.
Mas como Benjamin Constant tinha prestígio por causa do Positivismo, agiram com cuidado. Criaram o Ministério dos Correios e disseram a Constant: “Você é indispensável”. Constant acreditou, deixou o Ministério da Guerra.
Em 1969, Costa e Silva considerado incapaz, houve a sucessão , a mesma para a qual Passarinho diz que foi convidado. Candidatos: Orlando Geisel e Albuquerque Lima. Ninguém falou em Passarinho. Colocaram urnas em órgãos das três Forças Armadas, Albuquerque Lima ganhava sempre. Mas não foi “presidente” por não ser general-de-exército, era de divisão.
12 de outubro de 1977, Hugo Abreu, general-de-divisão e chefe da Casa Militar de Geisel, esperava ser promovido a exército e indicado sucessor do “presidente”.
Geisel, sempre estapafúrdio, que palavra, promoveu Figueiredo e o indicou para a “presidência”. Abreu, preterido, encerrou a carreira e a esperança.
Para terminar, coloquemos os fatos dentro de uma ótica verdadeira. Passarinho diz que “foi ministro de quatro governos militares”. Collor devia protestar. O quarto ministério de Passarinho foi com Collor, o primeiro presidente sem aspas depois de 1964.
PS – Tentando filosofar, mas muito primário, o major termina dizendo: “O revanchismo é uma deturpação dos vitoriosos. No Brasil, o revanchismo é uma deturpação dos vencidos. Foram vencidos pelas armas, mas estão no Poder”.
PS 2 – Puro saudosismo do major, que não consegue viver longe do Poder. E não houve vencidos ou vencedores. Os que roubaram as armas do povo, atiraram contra esse mesmo povo. E se dizem vitoriosos.

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