sábado, 10 de janeiro de 2009

Euclides da Cunha

O homem que separou barbárie de civilização

2009 marca centenário da morte do autor de Os Sertões. Professores da UnB comentam obra

Maiesse Gramacho
Da Secretaria de Comunicação da UnB


"Escritor por acidente." Assim Euclides da Cunha se definiu no discurso de posse na Academia Brasileira de Letras em 1906. Três anos depois, ele foi assassinado pelo amante da mulher e entrou para a história como um dos mais importantes nomes da literatura nacional. O ano de 2009 marca o centenário da morte do autor do clássico Os Sertões.
Por "acidente" ele se referia às "linhas tortas" do destino que levaram o engenheiro formado pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro a encontrar consagração na literatura. A obra-prima de Euclides – um verdadeiro tratado sobre o sertão e o sertanejo – nasceu de um convite inesperado.
Republicano ferrenho, escreveu para O Estado de S. Paulo, em 1897, uma série de artigos intitulados "A nossa Vendéia", sobre a insurreição em Canudos. Ele acreditava que o movimento de Antônio Conselheiro fazia parte de uma manobra para restaurar a monarquia no Brasil. As opiniões lhe renderam um convite para cobrir os conflitos in loco, como correspondente do jornal.
O escritor aceitou a missão e partiu rumo ao interior da Bahia, onde o místico Conselheiro comandava aquela que foi umas das batalhas mais sangrentas da história brasileira. Lá, pôde observar o modo de vida dos homens e mulheres do sertão. Além de mudar de opinião sobre os motivos da revolta, colocou no papel todas as suas impressões e acabou por organizar um dos mais profundos estudos sobre a região e seu povo.
"No ano do centenário de morte de Euclides da Cunha, cabe avaliar o seu legado para a literatura brasileira", opina Maria Isabel Edom Pires, do Departamento de Teoria Literária e Literaturas da Universidade de Brasília. "Suas preocupações conciliavam a retórica de construção da nação com o empenho em conhecer a terra brasileira e o seus desertos – como ele falava", observa.
Além do talento para a escrita, Euclides usou sua formação de engenheiro e seus conhecimentos de cartografia e História em sua obra. Para a professora Maria Isabel, o currículo amplo do escritor ajudou em sua narrativa. "O narrador forjou teses próximas ao positivismo francês para compreender o sertanejo e sua terra", diz.
A opinião da especialista é compartilhada pelo doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada Hermenegildo Bastos, também professor do TEL. "Euclides deu a tônica do que viria a ser, na literatura brasileira moderna, o confronto entre civilização e barbárie", analisa. "Era um intelectual envolvido nas questões nacionais e empenhado em resolver os problemas do que se tomava então como atraso do país frente às nações desenvolvidas", avalia Bastos.

Canudos
Euclides da Cunha não ficou em Canudos até o fim do conflito, mas permaneceu tempo suficiente para reunir o material que daria origem a Os Sertões, anos mais tarde (1902). Para Maria Isabel, o livro, que é dividido em três partes – A Terra, O Homem e A Luta – é uma obra de interpretação do Brasil. "Ele inscreve o autor no tortuoso dilema do intelectual brasileiro e sua relação com o outro", diz.
Ao conviver com os sertanejos, o escritor percebeu as peculiaridades daquele povo e suas diferenças do que chamava "a sociedade litorânea". Daí sua observação: "O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral." De certa forma, ele descobre um Brasil diferente da percepção que possuía até então, além de romper com as idéias que tinha sobre as razões do levante de Canudos.
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Confira também o site oficial http://www.euclidesdacunha.org.br/

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