sexta-feira, 16 de maio de 2008

Cultura Brasileira




Na seção "Festança", do excelente site "Jangada Brasil", você pode conferir o que há de melhor de textos sobre festas populares, religiosas e profanas; folguedos; danças; datas comemorativas; instrumentos musicais... Veja:

O cateretê, como é
Miecislau Surek

O cateretê é uma dança difundida muito difundida entre os caipiras de diversos estados centro-sul brasileiros. Principalmente nas zonas litorâneas, desde Angra dos Reis (estado do Rio de Janeiro) até a baía de Paranaguá, em nosso estado ele é dançado com tamancos de madeira dura. Nas zonas pastoris (lá por Barretos, Guaratinguetá e Piraí - este no Paraná) usam-se grandes esporas "chilenas" com a finalidade de retinir. Em outras localidades em vista das dificuldades financeiras por que passam, quase todos os integrantes da dança executam-na descalços. Todo dançarino do cateretê, como diz bem a expressão popular encontrada por estudiosos do folclore nacional, procura sempre "pisar nas cordas das violas". Esta expressão significa ritmar o bater dos pés com o som da viola. Outros estudos dão conta da existência de muitos nomes diferentes ao cateretê, todos com passos idênticos ao cateretê. Em algumas partes chamam-na de xiba, carumbá, etc. Mas cateretê é o mais usado. Aluísio de Almeida, pseudônimo do cônego Luís Castanho de Almeida, em seu livro Danças caipiras, além de confirmar a baralhada que é feita com a denominação de cateretê, afirma que sua área se estende de Sorocaba a Cruz Alta, no estado do Rio Grande do Sul. Diz assim: "O bate-pé, racha-pé, sapateado, cateretê mineiro, fandango considerado como dança especial, são tão semelhantes entre si que não passam de uma variedade da mesma dança. A diferença pode estar na velocidade com que os pés batem no chão, tal como o sapateado tatuiano, que é ligeirinho como que! O ritmo é obtido pelas chilenas, grandes rosetas das esporas dos antigos tropeiros sorocabanos. Ao levantar do chão os dois pés em conjunto, o dançarino une os calcanhares, de sorte que uma chilena se choque com a outra". É preciso lembrar que as esporas eram de prata, donde saía, além do ritmo, um som agradável. A área geográfica desta modalidade do bate-pé ia de Sorocaba a Cruz Alta. Além disso, foi uma dança de um grupo social, dos tropeiros. Documentos abundantes mostram que, desde o Cubatão até o interior mais distante, os tropeiros, de tropa arriada e de animais chucros, transformavam os pousos e ranchos em sede de danças por eles preferidas, quase sempre o bate-pé. Na descrição de Hercules Florence do pouso de Cubatão (1829), se vêem até os assistentes do sapateado batendo com as mãos nos bancos, a fazer o ritmo. Em 1777, Martins Lopes Lobo de Saldanha - capitão general de São Paulo, danava-se porque os corpos de tropas que ele enviou por terra à ilha de Santa Catarina fora, parando ai adentro, nos pousos, ficando em intermináveis festanças. Nas rés de Afonso Boteino nos sertões do Paraná atual, aparece o violeiro. Sabe-se que, nas danças africanas, não havia sempre a viola, instrumento tão lusitano, mas que passou até a ser o apanágio do caboclo ou caipira. E os visitadores eclesiásticos de 1750 em diante, já foram condenando os batuques e outras danças, como a de São Gonçalo, festa caipira paulista, diversa mesmo da congênere de Pernambuco.
No cateretê, xiba, catira, bate-pé, batuque de viola ou função de viola, das regiões acima citadas, somente tomam parte os elementos do sexo masculino. Por observações in loco das danças do cateretê, o folclorista Maynard Araújo comparou-as com as descrições colhidas nas tribos indígenas e conclui que o cateretê é de origem ameríndia. É coreografia índia, sabiamente aproveitada pelo catequista, tal qual se fizera com a dança de cururu, Santa Cruz. No cateretê em geral, tomam parte dois violeiros e cinco ou mais pares de dançarinos. O traje é o comum. Na maioria das vezes todas as suas danças são realizadas à noite, característica que no sul do país as distingue dos bailados ou danças-dramáticas, efetivadas durante o dia. Não é dança de terreiro, mas de salão, de galpão. No centro do salão os dançarinos formam duas colunas, tendo à frente delas um violeiro-cantador. Um dos violeiros é o mestre e outro contramestre. A primeira designação popular é dada ao violeiro que faz a primeira voz e também é o autor da moda que vai ser cantada. O contramestre faz a segunda voz. Entre dançantes e violeiros na coluna em que está o mestre, fica o tirador de palmas ou palmeiro e na outra o tirador do sapateado ou oreia. Não raro um só exerce as duas funções de determinar o movimento das batidas de palmas e do bater de pés, execução do pateio, porque batem com o pé em cheio no solo. Não é o sapateado somente batidas da ponta, meia planta e planta do pé; em nossas danças caipiras o que realmente há é o pateio. Ausência do taconeio batidas do calcanhar, que denunciam origem espanhola. Os violeiros cantam e batem os pés, não batem palmas. Os dançantes não cantam, mas batem palmas e pés.

(Surek, Miecislau. "O cateretê, como é". Diário do Paraná. Curitiba, 17 de janeiro de 1965)






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