sexta-feira, 2 de maio de 2008

Instabilidade na América Latina


"Estivemos a ponto de uma guerra"

Entrevista da revista "Caros Amigos" com Nicolas Maduro

Por Claudia Jardim*, de Caracas

Semanas atrás, a ação militar do Exército da Colômbia em território equatoriano, que, com o apoio da inteligência e tecnologia estadunidense e brasileira (Supertucano), resultou na morte de 23 guerrilheiros das Farc, entre eles Raúl Reyes, considerado o número 2 na escala de mando da guerrilha e responsável pelas negociações do acordo humanitário entre a guerrilha e o governo. Nessa entrevista exclusiva com Nicolas Maduro, o ministro de Relações Exteriores da Venezuela e um dos homens de confiança do presidente venezuelano Hugo Chávez. Vamos saber os porquês da contundente afirmação: “Estivemos a ponto de uma guerra”.

trecho 1

Qual a análise de seu governo sobre a crise?

Temos que enquadrar tudo o que está acontecendo na conjuntura política que significa a partida do clã Bush da Casa Branca. Esse é um setor que chegou ao poder rompendo as regras do jogo da própria sociedade norte-americana, fruto de eleições questionadas. Logo impuseram ao mundo uma política muito agressiva de luta contra o “terrorismo” e a doutrina da guerra preventiva. Esse grupo se despede agora da Casa Branca, ainda não sabemos por quanto tempo, e quer impor fatos consumados ao governo que vier: o recrudescimento das ações contra o Irã, a separação do Kosovo, os ataques contra a China, o recrudescimento da guerra contra os palestinos, a montagem de um confl ito de alta intensidade ao redor da guerra na Colômbia. Tínhamos duas razões para reagir. Uma era a necessidade de uma ação rápida para garantir a estabilidade e a paz da Venezuela e a outra era a solidariedade. Tínhamos informações já havia algumas semanas, fornecidas por um governo do continente (Brasil) e por meio de nossas próprias fontes, de que se estava preparando um tipo de provocação parecida para a Venezuela. Essas informações se agudizaram logo depois do ataque ao Equador e por isso tivemos que reagir rápido. Do ponto de vista da solidariedade, tínhamos que apoiar um irmão do continente.

trecho 2

Os presidentes Uribe, Chávez e Correa se encontraram no Grupo do Rio depois de troca de acusações, ruptura de relações diplomáticas e militarização de fronteiras. Ao final, apertaram as mãos. O que aconteceu na reunião do Grupo do Rio, em Santo Domingo (dia 7 de março), demonstrou que a América Latina tem uma liderança muito consciente sobre os mecanismos para a solução de confl itos e que temos uma liderança soberana e autônoma como nunca antes em relação ao poder dos Estados Unidos. Essa liderança, com voz própria, se impôs em um debate criador, e se combinaram de maneira sincronizada para defender o direito internacional, de soberania e de inviolabilidade dos Estados, de respeito entre os Estados e para defender a paz na região.

trecho 3

O governo colombiano afirma ter encontrado no computador de Raúl Reyes provas de que a Venezuela enviou 300 milhões de dólares à guerrilha. Todos sabemos bem a fragilidade de um computador desse tipo, que com qualquer queda se danifica. Agora imagine um computador capaz de resistir a um bombardeio com mísseis teledirigidos, que caíram em um alvo específico, e que esse computador se salve, imagine só. A outra coisa hilária para nós é que afirmem que entregamos 300 milhões de dólares à guerrilha. Em primeiro lugar, devemos imaginar a magnitude do que são 300 milhões de dólares (pouco mais da capacidade máxima de produção diária de petróleo venezuelano) e perguntar de onde tiramos isso, como o transladamos até a guerrilha. Isso é uma loucura.

*Claudia Jardim é jornalista

A íntegra dessa entrevista você encontra na edição que já está na bancas! Não deixe de ler.

O endreço da revista na Internet é http://carosamigos.terra.com.br/

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