quinta-feira, 15 de maio de 2008

Na Mira do Belmiro

Uma nova consciência sócio-ambiental
Belmiro Vianez Filho (*)
belmirofilho@belmiros.com.br

Dividida entre as pressões das organizações não-governamentais estrangeiras e as demandas internas do crescimento sócio-econômico do país, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, capitulou. E sua saída traz à tona a velha e urgente discussão da relação entre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Como avançar na conquista do progresso e na distribuição de renda sem ameaçar de modo irreversível o equilíbrio dos estoques naturais? A quem interessa manter intacta a maior floresta tropical do planeta e deixar abaixo da linha de pobreza a maior parte de seus 22 milhões de habitantes? Como compatibilizar o crescimento e a prosperidade social através do aproveitamento dos recursos naturais com a manutenção dos parâmetros ambientais e de sustentabilidade? Eis a agenda global de maior relevância e urgência do momento.
Não nos cabe julgar a figura emblemática de Marina Silva, uma empregada doméstica e lavadeira do beiradão amazônico que galgou, com esforço próprio e bravura, o status de ícone do ambientalismo mundial na esteira de Chico Mendes. Seus méritos serão confirmados pela História e sua luta merece uma acurada reflexão. O enfrentamento, porém, das contradições sociais do Brasil, as distorções econômicas e desigualdades regionais exigem tomada de decisão e escolhas. O atraso no licenciamento ambiental das hidrelétricas, por exemplo, tem causado estragos de todas as ordens, a despeito de ser uma alternativa enérgica das mais adequadas e limpas do ponto de vista ambiental. “Entre o bagre e o homem, os técnicos do ministério revelam uma estranha opção”, ironizou o presidente Lula recentemente a propósito dos critérios de trabalho da pasta de Marina Silva. Não faz sentido atrasar tantos anos os estudos e relatórios de impacto ambiental das hidrelétricas do Rio Madeira, fonte de energia limpa e vital para as populações ribeirinhas cuja pobreza a ministra tão bem conhece.
Cercada noite e dia de militantes de organizações não-governamentais, entre os quais está seu marido, a ministra nem sempre soube diferenciar os interesses das corporações estrangeiras representados por essas organizações e as legitimas aspirações da brasilidade em termos de crescimento e distribuição de renda e oportunidades. Os países que eles representam já atenderam as demandas básicas de suas populações, enquanto são deploráveis os Índices de Desenvolvimento Humano da esmagadora maioria dos municípios e comunidades amazônicas. E é muito curioso, pra não dizer imoral, que muitas dessas organizações estejam prosperando justamente às custas governamentais que elas abominam em suas identidades jurídicas. No ministério do Meio Ambiente, elas administram os sacramentos, casam, batizam, confessam e distribuem a extrema-unção dos próprios interesses. Alto lá.
Não concordamos em fundar uma “nova China” na ótica do esgotamento dos recursos naturais, mas é possível com vigilância e prudência na utilização dos nossos recursos retirar mais de 40% da população da linha da miséria em dez anos como fizeram os chineses. O que não é justo, nem ético, é deixar milhões de amazônidas nas condições de pobreza e isolamento em que se encontram em nome da preservação pura e simples da natureza, numa Amazônia transformada em santuário ecológico, criminoso e perverso, para contemplação de ninguém. A melhor forma de proteger um bem é dar-lhe um valor econômico. Ademais, a própria geração da riqueza propicia condições de reposição dos estoques e de qualificações dos recursos humanos na direção de uma nova consciência sócio-ambiental.

Zoom-zoom

· Gotas d’água – Se o presidente já havia resolvido demitir a ministra por conta dos estardalhaços na divulgação dos índices de desmatamento da Amazônia, a ministra não suportou que fosse entregue a Mangabeira Unger, o ministro com sotaque yankee, a coordenação do Plano da Amazônia Sustentável que ela demorou cinco anos para gerar.
· Aníbal Beça – recebi uma carinhosa e honrosa cartinha do poeta amazônico Aníbal Beça, que muito envaidece seus conterrâneos com sua poesia amorosa pelas coisas e pessoas de nossa terra. Ele retrata a simplicidade e o fascínio de nosso cotidiano e mormaço como ninguém.
· Operação Navalha – Depois de um ano, o Ministério Público Federal indiciou 61 pessoas por vários crimes de assalto aos cofres públicos, sob a batuta da construtora Gautama, com ramificação por todo o país, incluindo o Amazonas e a BR 319. Até quando vamos aguardar punições cabíveis e devolução ao erário de tantos desvios?
· Mauro Campbell – Foi confirmada nesta quarta-feira a indicação do amazonense Mauro Campbell para ocupar uma cadeira na Suprema Corte do país. Uma honraria que não ocorria desde o ex-governador Henoch Reis. Trata-se do reconhecimento de uma trajetória de labuta e méritos, respaldada por muita gente de prestígio, incluindo o referendo do presidente Lula.

(*) Belmiro é empresário e ocupa atualmente a presidência do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas.

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