Nilder Costa 04 Março, 2007
Sem alarde, o Ministério da Justiça iniciou a demarcação de 4 milhões de hectares de terra para criar a reserva indígena Trombeta Mapuera, na divisa dos Estados de Roraima, Pará e Amazonas. Destinada a abrigar índios wai wai e karafawyana, a nova reserva eleva para 52% a área de Roraima sob controle indígena. O mais preocupante sob o ângulo da segurança nacional é que a nova reserva indígena é contígua às dos índios Waimiri Atroari e Nhamundá Mapuera, formando, juntas, um bloco contínuo de 7,5 milhões de hectares em área de fronteira (fonte: Funai):
O alerta foi dado pelo Jornal do Brasil, em suas edições dos dias 25 e 26 passados e constitui uma continuação da série de reportagens sobre os riscos de internacionalização da Amazônia. [1]
Segundo ainda o JB, a colocação de marcos na reserva está sendo feita por uma empresa contratada pela Funai e deverá ser concluída até fim de março, a tempo do presidente Lula poder comemorar efusivamente o Dia do Índio, em abril.
A reportagem faz uma abordagem interessante sobre o papel da Congregação da Consolata, , uma missão católica italiana que se estabeleceu no Brasil depois da Segunda Guerra. "Seus padres seguiam a Teologia da Libertação - a Igreja já mudou para uma rota light, mas o trabalho deles nos grotões ainda está vivo", diz a matéria do JB, enfatizando que a Consolata conseguiu grande penetração entre as tribos do Norte nos anos 70. Atualmente, a missão italiana está em franca decadência e 'sob pressão dos próprios índios que, já de passe da terra, estão se afastando dos religiosos que tanto os ajudaram'.
Segundo ainda o JB, a colocação de marcos na reserva está sendo feita por uma empresa contratada pela Funai e deverá ser concluída até fim de março, a tempo do presidente Lula poder comemorar efusivamente o Dia do Índio, em abril.
A reportagem faz uma abordagem interessante sobre o papel da Congregação da Consolata, , uma missão católica italiana que se estabeleceu no Brasil depois da Segunda Guerra. "Seus padres seguiam a Teologia da Libertação - a Igreja já mudou para uma rota light, mas o trabalho deles nos grotões ainda está vivo", diz a matéria do JB, enfatizando que a Consolata conseguiu grande penetração entre as tribos do Norte nos anos 70. Atualmente, a missão italiana está em franca decadência e 'sob pressão dos próprios índios que, já de passe da terra, estão se afastando dos religiosos que tanto os ajudaram'.
Outro trecho significativo da matéria:
Os mais antigos contam que foram [os caciques] Orlando e Jacyr que durante a "guerra de libertação" - a campanha pela criação da reserva - bolaram a estratégia cruel de cortar as patas dos bois dos fazendeiros brancos. Sem atacar gente, minaram a força deles. Um coronel da PM de Roraima diz que, "com certeza", os dois caciques "foram treinados em guerrilha". As observações do militar vêm de um entrevero ocorrido há 25 anos lá perto das placas da rodovia: "Eu fui com 20 soldados para buscar umas vacas que os índios tinham roubado, quando apareceram 200 deles em formação militar, com mulheres e crianças na frente. Aquilo só pode ser coisa ensinada por guerrilheiros". Resultado daquele confronto: nada da PM levar as vacas. Outra lenda forte da região é que o instrutor da guerrilha teria sido um pacato padre italiano, Giorgio Dal Bem, o mítico padre Jorge. Ele foi ordenado sacerdote pela Congregação da Consolata em 1969. Sua única missão no reino dos homens foi desenhada em Roma: liderar os macuxis na reconquista de suas terras em Roraima. Padre Jorge desembarcou diretamente nos grotões, aprendeu a língua, tornou-se eminência parda dos caciques e viveu entre eles 35 anos, até 2005. Quando a reserva foi criada pelo presidente Lula, missão cumprida, ele retornou para Roma. Foi embora como veio, quase uma sombra - deixou uma coleção de inimigos, apenas uma foto conhecida e vários processos na Justiça. Jorge está no conforto da Santa Sé, aos 60 anos, cumprindo outra missão da Igreja: escrever para a posteridade a história da luta dos povos indígenas.
Contudo, o JB deixa de mencionar um dos personagens mais importantes para a 'guerra de libertação' dos índios em Roraima: D. Aldo Mongiano, ex-bispo de Roraima por vinte anos cujo trabalho indigenista mereceu menção especial até no jornal The New York Times, que, em reportagem publicada em 21/7/96, relatou a sua atuação para a criação da reserva ianomâmi e na organização de outras tribos, como os macuxis, que costumava reunir em assembléias para distribuir gado, dando suporte às reivindicações territoriais dos indígenas. Como D. Casaldáliga – seu colega de labor indigenista no Brasil – D. Aldo fez uma espécie de 'treinamento' na África (Moçambique) antes de vir para o Brasil.
Os mais antigos contam que foram [os caciques] Orlando e Jacyr que durante a "guerra de libertação" - a campanha pela criação da reserva - bolaram a estratégia cruel de cortar as patas dos bois dos fazendeiros brancos. Sem atacar gente, minaram a força deles. Um coronel da PM de Roraima diz que, "com certeza", os dois caciques "foram treinados em guerrilha". As observações do militar vêm de um entrevero ocorrido há 25 anos lá perto das placas da rodovia: "Eu fui com 20 soldados para buscar umas vacas que os índios tinham roubado, quando apareceram 200 deles em formação militar, com mulheres e crianças na frente. Aquilo só pode ser coisa ensinada por guerrilheiros". Resultado daquele confronto: nada da PM levar as vacas. Outra lenda forte da região é que o instrutor da guerrilha teria sido um pacato padre italiano, Giorgio Dal Bem, o mítico padre Jorge. Ele foi ordenado sacerdote pela Congregação da Consolata em 1969. Sua única missão no reino dos homens foi desenhada em Roma: liderar os macuxis na reconquista de suas terras em Roraima. Padre Jorge desembarcou diretamente nos grotões, aprendeu a língua, tornou-se eminência parda dos caciques e viveu entre eles 35 anos, até 2005. Quando a reserva foi criada pelo presidente Lula, missão cumprida, ele retornou para Roma. Foi embora como veio, quase uma sombra - deixou uma coleção de inimigos, apenas uma foto conhecida e vários processos na Justiça. Jorge está no conforto da Santa Sé, aos 60 anos, cumprindo outra missão da Igreja: escrever para a posteridade a história da luta dos povos indígenas.
Contudo, o JB deixa de mencionar um dos personagens mais importantes para a 'guerra de libertação' dos índios em Roraima: D. Aldo Mongiano, ex-bispo de Roraima por vinte anos cujo trabalho indigenista mereceu menção especial até no jornal The New York Times, que, em reportagem publicada em 21/7/96, relatou a sua atuação para a criação da reserva ianomâmi e na organização de outras tribos, como os macuxis, que costumava reunir em assembléias para distribuir gado, dando suporte às reivindicações territoriais dos indígenas. Como D. Casaldáliga – seu colega de labor indigenista no Brasil – D. Aldo fez uma espécie de 'treinamento' na África (Moçambique) antes de vir para o Brasil.
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