terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

ANÁLISE ECONÔMICA DE GENTE GRANDE


César Fonseca, da ótima revista semanal "Brasília em Dia" - que tem outros grandes colunistas, como Carlos Chagas e Marcone Formiga - vem sendo uma raridade positiva na compreensão da economia política. O seu último artigo, da edição de 09 a 15 de fevereiro, "Tio Sam no abre alas..." é uma verdadeira aula sobre a crise do dólar e a falência da hegeminia dos EUA. Mistura temas como Keynes, Bretton Woods, Bush, falência de dólar, Gisele Bündchen, as ingenuidades (?) da mídia tupiniquim, etc., numa verdadeira "salada caliginosa" que acaba dando certo, pela análise profunda e totalizadora, mas muito didática e convicente, que imprime ao texto. Não deixem de ler.

Seguem apenas alguns trechos do artigo:

Os editoriais da grande mídia estão receosos em avaliar o que realmente aconteceu com o Tio Sam, fantasiado de papel pintado-dolarizado, falido, soltando fogo pelas narinas, atravessando a bateria, especialmente, quando o governo dos Estados Unidos decide apostar contra a sua própria moeda, seu próprio poder monetário. O que significa isso? Keynes, genial, destaca que o poder monetário impõe jogos cambiais de modo a produzir dependência crescente no comércio internacional para as moedas que são referências internacionais, capazes de impor relações de trocas sempre favoráveis para si e prejudiciais aos outros. Marx garantiu que é no comércio internacional, onde desembocam o excedente de produção global, correspondente aos estoques problemáticos nacionais em geral, que se dá a deterioração nos termos de troca, gerando crises expressas em desequilíbrios monetários. Lenin, depois da Primeira Guerra Mundial, percebeu, claramente, para espanto de Keynes, que as maiores propagandistas do movimento socialista internacional são as crises monetárias. Estas, disse, ao desgastarem violentamente o poder de compra das moedas, predispõem as pessoas a condenarem, radicalmente, os regimes políticos, seja de direita, seja de esquerda. Ou seja, também, de centro.Nas crises monetárias, como a que afeta os Estados Unidos, sob olhar, ainda, indiferente da grande mídia, como se fosse algo trivial, emerge tudo que, aparentemente, se encontra acomodado: capitalismo, socialismo, comunismo, anarquismo, terrorismo, social-democracia, democracia, etc, conforme construídos pela inteligência humana ao longo da história. Zorra geral. Emergência política vulcânica. (...)

Se Tio Sam aposta contra seu próprio poder monetário, que poder lhe sobrará, senão as bombas atômicas, que bancam o Estado Industrial Militar Norte-Americano, assim denominado, em 1960, pelo ex-presidente Eizenhower? Teria fôlego para continuar sustentando autoritariamente o unilateralismo, com o qual se acomodou o mundo midiático, apostando na força atômica, ou terá chegado a hora do multilateralismo?Por que a grande mídia não vai fundo nesse debate? O capitalismo americano passa apenas por uma pequena turbulência, que requer olhar de mera moderação do jornalismo investigativo, ou o negócio é mais feio? Se Tio Sam aposta contra o dólar, fragilizando-o em nome do combate ao aquecimento econômico, mesmo correndo o risco de explodir as pontes, inviabilizando sua volta, é porque, como destaca o economista Eduardo Starosta, da Consultoria Estplan, tem algum jogo por trás de tal manobra. Qual? Ou seria uma tentativa kamikaze? Não se esqueça que nos momentos dramáticos, Tio Sam dá, sempre, uma de artista, e apronta.
(...) Tudo se acomodaria com a eternização neoliberal-burguesa-fukuyaminista.George W. Bush jogou tal eternidade na lata de lixo ao apostar contra si, ou seja, contra o dólar, desvalorizando-o mediante juros baixos, em nome da promoção do consumo, barrado pela crise bancária-monetarista. Tudo contrário aos livros-texto de economia, ditados pelas universidades famosas americanas, consumidos, acriticamente, na periferia capitalista, como princípio único de validade universal, a pontificar, de forma arrogante, nos editoriais midiáticos. Mas, queimar tais pontes significa que tudo está sendo feito irresponsavelmente, ou, como insiste em perguntar Eduardo Starosta, tem uma manobra que está prestes a evidenciar, jogando farinha no ventilador?Martin Wolf, no “Financial Times”, do alto da sua visão capitalista do falido império britânico novecentista, acredita que a capacidade de endividamento americano, para bancar um status quo inflacionário, seria infinita. Sonho ou realidade? Se nem Gisele Bündchen acredita mais nas verdinhas, que dirão os banqueiros, no momento em que Bush segue o exemplo da bela modelo brasileira?Por que a aparente tranqüilidade? A mídia nacional está excessivamente romântica e compassiva diante do vendaval monetário que se alastra do norte para a planície e montanhas globais. Repetem, acriticamente, o que Condoleezza Rice, sugeriu, em Davos, que todos se acalmem e acreditem na potência americana. Ora, se o Tio Sam dá o xeque-mate sobre si mesmo, por que não duvidar? A dúvida é o exercício da aprendizagem. Por que crer que o capitalismo neoliberal seja dado absoluto e não meramente relativo, sujeito a chuvas e trovoadas, sendo movimento histórico social exposto às mudanças dialéticas?Como ficarão os países capitalistas da periferia sul-americana?
(...) O governo americano jogou todas as suas fichas no imponderável keynesianismo, numa situação inversa à que inaugurou a economia de guerra jogando com a moeda estatal, a partir dos anos de 1940, enquanto fica pregando neoliberalismo para a periferia capitalista. Enquanto diz para os outros combaterem a inflação, aposta ele na inflação, que, como disse Keynes, “é a unidade das soluções, o elixir que movimenta o capitalismo”. Como o sistema americano, como destacam os economistas em geral, corre perigo de cair na deflação, a maior inimiga do capitalismo, segundo keynes, a alternativa louca é seu oposto. E seja o que Deus quiser.
Para saborear o artigo completo, clique abaixo:

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