O forte do filme de José Padilha, “Tropa de Elite”, foi o peso da verdade sobre a questão das drogas e de seu tráfico: ninguém é, definitivamente, inocente. Enquanto a droga for ilegal, enquanto estiver na marginalidade, o maconheiro, mesmo se achando “politicamente correto” e detentor de uma pseudo-preocupação com os destinos dos pobres favelados, é inequivocamente, inexoravelmente, inevitavelmente, culpado por alimentar a bandidagem do tráfico, seja no Brasil ou em qualquer parte do mundo. Ao participar, financiar ou apoiar uma ONG que dá esmolas às crianças da favela, não consegue encobrir uma verdade incontestável e incômoda: o baseadinho, aparentemente inofensivo, que puxa com os amiguinhos nos momentos de relaxamento, alimenta, sim, o poder do traficante, paga sua capacidade operacional, suas armas e, por consegüinte, sua existência deletéria. E aqueles bondosos e nobres yuppis europeus, canadenses ou norte-americanos que, por inspiração divina, despojados e altruístas, financiam a ação pontual dos onguistas nas favelas do Terceiro Mundo, mas que também gostam de cheirar seu pozinho, vez ou outra, são os consumidores mais disputados pelos traficantes sul-americanos. São os que pagam melhor e, portanto, os que financiam mais o tráfico internacional. Os pseudo-esquerdistas lights do Primeiro mundo, sejam cheiradores de pó de Wall Street, intelectualebas “bem” intencionados de Paris ou nobres altruístas britânicos, com suas divagações teóricas inúteis, muito provavelmente não iriam gostar do verdadeiro “tapa na cara” contra a hipocrisia que é o filme de José Padilha. Por isso, não surpreende as reações como a da revista Variety, uma das mais respeitadas publicações sobre cinema, ao filme. A revista publicou segunda-feira uma crítica inconformada ao "Tropa de Elite". A resenha, simplista, óbvia e sem consistência, se fartou em chavões e rótulos indignados contra o que considerou uma "monótona celebração da violência que funciona como um filme de recrutamento para delinqüentes fascistas". Saída fácil, cômoda, politicamente covarde, de quem não tem muito o que falar. Para elaborar esta definição genial, tão criativa, o crítico devia estar dando um bom "tapa" na maria juana que algum refinado amigo traficante sul-americano lhe enviou. Na impossibilidade de pensar, de forma analítica e totalizadora o problema, o "crítico" apelou logo para o rótulo: trata-se de uma produção com um "inescapável ponto de vista direitista". Abstraindo a complexidade do problema, a única qualidade que o nosso "Torquemada" Weissberg admitiu no filme foi “o honesto retrato da violência nas favelas do Rio de Janeiro e da corrupção policial da cidade”. "Tropa de Elite" foi exibido para a crítica na manhã desta segunda-feira em Berlim. À tarde, foi a vez do júri do festival assistir ao longa. O filme é um dos 21 concorrentes ao Urso de Ouro, prêmio máximo do evento. Provavelmente tinha gente no júri de cara limpa.
Leia aqui a crítica da Variety na íntegra (em inglês)
Este artigo também foi publicado no melhor jornal do Brasil, no dia 14 de fevereiro de 2008. Confiram, clicando em:
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