domingo, 10 de fevereiro de 2008

FELIZ ANIVERSÁRIO PARA O PARTIDO DOS TRABALHADORES


Em 2004 o PT fez 24 anos. Na oportunidade, escrevi o artigo abaixo em homenagem aos meus amigos petistas. Hoje, dia 10 de fevereiro, aniversário de 28 anos do partido, faço questão de publicá-lo novamente. Confiram, critiquem, elogiem, esbravejam, mas, por favor, façam comentários:

De Partido dos Trabalhadores a Partido Tecnocrático: 24 anos de dialética da transformação (confissões de um hipotético petista, realista, pragmático e vitorioso)

O PT está completando 24 anos de luta e de História. Quase um quarto de século para chegar ao Poder. Quando nasceu, acreditávamos que era um partido de esquerda, com forte presença na classe operária organizada do "ABCD paulista" (esta categoria tão "fraquinha e desorganizada"), na Igreja progressista, na militância radicalizada dos que se jogavam nas passeatas anti-Ditadura e anticapitalismo "ianque"; e em tudo que fosse contra o "Sistema". E no que nós, universitários adolescentemente empolgados, acreditávamos ser o "ó do borogodó" da inteligentsia nacional: os "ômi" iluminados da Unicamp e da USP, com pós-graduação na "Zoropa" e nos "Ssstaistes". Tínhamos até um ídolo: um tal de Lula, típico "operário" nordestino, migrado pra São Paulo, que tinha até perdido um dedo no processo capitalista monstruoso da extração da tal "mais-valia". Precisava mais?
Éramos engajados, realmente, no que chamávamos de luta pela transformação "substancial" da sociedade capitalista, sem subterfúgios, sem máscaras, sem os dogmas imperativos da "Esquerda clássica leninista e stalinista". Condenávamos, também, o que acreditávamos ser o" peleguismo" trabalhista dos "corporativistas" seguidores de Getúlio Vargas. Esses "nacionalistas jurássicos e estéreis" que serviam apenas para desviar o proletariado de sua missão redentora, com aqueles seus argumentos "pequeno-burgueses" de patriotismo e harmonia social", pode? Ou seja, era mesmo o não "quanto pior melhor" para viabilizar a Revolução.
Desse amálgama que se achava purista e superior eticamente, surgiu um partido socialmente forte, porém eleitoralmente muito fraco, mas que, nem por isso, jamais deixou de participar do jogo eleitoral. Havia uma diferença: tínhamos uma militância, não "cabos eleitorais pagos". Muitos de nós dizíamos que este não era o caminho. Mas, muitos outros dentro do partido, mais realistas, sabiam que o futuro, mesmo dentro do jogo burguês, era extremamente positivo. Tínhamos que usar as mesmas armas de nossos "inimigos canalhas". O que se discutia não era apenas os problemas brasileiros. Íamos além. Debatíamos mais a briga entre as estratégias de Rosa Luxemburgo e Carl Benstein do que as coisas do Brasil. Sabíamos que aprenderíamos muito mais com o social-democrata Bernstein do que com o "caudilho" Brizola. Na verdade, no nosso caso tupiniquim, queríamos por tudo o Poder, assim mesmo, com letra maiúscula. Tudo por uma boa causa. Era isto que nos distingüia dos demais: a "boa causa". Afinal, "os fins justificam os meios", como dizia o nosso apóstolo italiano Gramsci, o nosso Maquiavel do comunismo.




Os grupos (poucos) que teimavam em apostar na subversão armada - nada maquiavélica...- tiveram de se afastar, enquanto os primeiros parlamentares eleitos sofriam o diabo com os companheiros mais radicais, aqueles tolos metidos a puristas, por termos trocado o "movimento de massa" pelo convívio engravatado dos políticos burgueses e os debates acadêmicos. Acreditávamos que havia a necessidade de ouvirmos o antigo companheiro Lênin, que nos ensinava que era necessário dar "um passo atrás, para conquistarmos dois à frente". Era necessário apoiarmos o jogo das eleições, mostrarmos que éramos confiáveis e...depois... a Revolução, a "Redenção".
E assim fizemos. Mas nunca, jamais, deixamos de acreditar que havia a necessidade de darmos força plena à "sociedade civil organizada", de estimularmos a "luta de classes", de criarmos uma "intelectualidade orgânica engajada na transformação da sociedade", enfim, de darmos um caráter substancial àquela democracia tão pálida, a tal "democracia formal burguesa", mesmo que isso representasse o fim das instituições nacionais. Sabíamos que não ganharíamos nada em termos eleitorais se déssemos ao povo - esta entidade tão santa, mas tão alienada (burra) e pouco revolucionária - o poder de decidir o nosso destino revolucionário. Na verdade, eles precisavam de nossa ajuda despojada e filantrópica e do apoio do movimento internacional dos trabalhadores. Não sabiam, mas eram apenas "massa de manobra", coisa perigosa dentro do "jogo burguês" - se não nos ouvisse. Claro!!!
Durante os Anos 80, nosso PT cresceu com o movimento operário e popular. Nossos militantes fundaram a CUT e em seguida o MST, com uma grande ajuda de nossos companheiros internacionalistas do "Primeiro Mundo". Pessoas de "boa fé". Afinal, eles já tinham passado há muito por esta fase arcaica que enfrentávamos e nós, modestos, sabíamos e acreditávamos: éramos apenas iniciantes pouco preparados.
Há 20 anos, deslanchou a campanha pelas "diretas já" que levou às ruas milhões de pessoas. Mesmo que não gostássemos daquela "Frente Ampla", acabamos participando. Afinal, tinha multidão no negócio e isso nos encorajava. Em 1986, elegemos poucos constituintes, mas fizemos muito barulho. Mas não importava, tínhamos consciência que não seria com mudanças "superficiais na superestrutura" que iríamos mudar o Brasil. Por isso, desconfiados da Constituição, nunca confiamos neste "jogo burguês" e apostamos na "organização da sociedade civil".
Nos negamos, também, em apoiar a moratória de Sarney, pois, afinal de contas, mesmo que isto fosse a nossa bandeira histórica contra a plutocracia financeira internacional, ficamos perdidos. Não poderíamos admitir ter vindo não de nós, mas de um político normal, vindo do "jogo político burguês" proveniente do Congresso. Afinal, existíamos exatamente para sermos nós os "sujeitos ativos da transformação". Bem dentro de nossos "critérios", nos recusamos a assinar a Constituição, a apoiar a moratória soberana, a compactuar com tudo que fugisse de nosso projeto messiânico e quase adolescente de poder. Mas persistimos.
Como a coisa foi ficando difícil dentro das regras do jogo, como fomos perdendo uma após outra as eleições presidenciais, como o Lula começou a superar o índice histórico de derrotas para o próprio Rui Barbosa, tivemos que arranjar outros aliados mais eficientes e poderosos. Há muito tínhamos gostado do velho "canto das sereias" internacionalista. Afinal, o próprio Karl Marx, nosso sacrossanto ídolo, já havia conclamado: "Proletários do Mundo, uní-vos!". E foi aí que tudo começou: descobrimos as ONGs. Afinal, o "Muro de Berlim", nosso "Cruzeiro do Sul", nosso referencial maior, teimou em desmoronar. Merda!!! Logo naquele momento onde parecíamos estar no caminho revolucionário certo. Mas, mesmo assim, persistimos. Descobrimos a ecologia, o ambientalismo, a relação Homem/Natureza e esquecemos as relações conflituosas entre Homem/Homem. Estávamos cansados de derrotas, precisávamos de novos "paradigmas" para a luta. Tornamo-nos gerenciadores, profissionais de ONGs e descobrimos que o capital financeiro internacional não era tão ruim assim. A grana vinha do PNUD, do Banco Mundial, do FMI, do Consenso de Washington, da Fundação Ford, ou seja, dos antigos hyppes dos Anos 60 que se tornaram Yuppes dos 90. Pensamos que, provavelmente, tivessem mantido alguma lembrança revolucionária dos tempos das "Jornadas de Paris", de Woodstock, etc.. Mas, não importávamos. O que importava era que os "companheiros" de Wall Street estavam dispostos a ajudar na nossa causa. E quando temos necessidades, qualquer ajuda é bem vinda. Assim, nos tornamo "onguistas", um cabide de emprego para nossos "militantes" que não se podia desconsiderar. Passamos, assim, a ser considerados "voluntariados", não mais "revolucionários", esta visão arcaica e superada pelo "rolo compressor da História".
Com nossos amigos estrangeiros reafirmamos o que, até então, era apenas uma intuição dogmática de todos nós: o Estado não prestava, principalmente o nosso. Deveria ser destruído. Afinal, se o Mundo estava se globalizando, por que não a luta dos trabalhadores? Com o apoio de pessoas "bem intencionadas" do "Primeiro Mundo", de intelectuais continuadores de nossos ídolos dos países avançados, descobrimos que seria fácil destruir nosso "Estado burguês patrimonialista e arcaico". Começamos a perceber que os chamávamos "neoliberais" não eram tão descabidos assim. E, por isso, começamos a ter apoio dos jornalistas, dos grupos empresariais "conscientes", dos "bons-oligopólios", dos "Fords" e dos "Rockfellers", dos George Soros, dos acadêmicos mais esclarecidos, dos banqueiros progressistas, dos amigos estrangeiros da Casa de Windsor, todos, totalmente "despojados" e pensando no Brasil. Sim...no Brasil. E aprendemos que nem todo poderoso era mal, contando que não fosse nacionalista. Por isso, não perdoamos qualquer político que fosse brasileiro, pois eram a herança maldita da oligarquia escravista e latifundiária que havíamos aprendido na escola com aquele professor de História com trejeitos revolucionários. Afinal, nacionalismo, como aprendemos nos manuais para o vestibular, era sinônimo de reacionário. Por isso, apoiamos uma "Democracia Universal", planetária, cósmica... se possível, mesmo que não tenhamos controle sobre ela. Afinal, nossos "companheiros" mestres de Harvard, de College de Pari, do MIT, de Oxford, poderiam nos iluminar com suas teorias, que sempre admiramos.
Tínhamos consciência de que tudo que nossos intelectuais faziam não prestava, pois pensavam pequeno, bairristas, sem uma "visão humanista totalizadora e planetária". Por isso tudo, estamos agora "engajados" no controle externo desta coisa monstruosa e "corrupta" do Judiciário brasileiro, no esfacelamento das "terríveis" e "cruentas" Forças Armadas brasileiras, na criação de mecanismos de castração do poder do Executivo "demagógico" brasileiro, na independência e no controle internacional do "tendencioso Banco Central", na privatização anarquista e autogestiva das empresas estatais (que nojo!).
Enfim, por tudo isso, chegamos ao Poder. Como o Socialismo venceu, não há mais o por quê de nos preocuparmos com o reacionário conceito de "Soberania" na Amazônia. Afinal, somos todos seres humanos e, como tal, devemos usufruir universalmente de tudo, não é mesmo?
O que? A luta de classes agora é internacional? Agora o que há é a briga entre multinacionais e Estados-nacionais? O mundo não se divide mais entre patrão e operário? Agora o que conta é a divisão entre Norte e Sul, entre países ricos e pobres? Entre G 7 e o resto?

Mas... espera aí!!! Pirei, Mano!!! Não entendi. Não consigo mais pensar. Espere, vou entrar na Internet e ver o que posso fazer. Tenho um "companheiro" em Madagascar que pode me esclarecer as coisas. Oras bolas!!! Não importa... o que importa é que, com o "Lula lá", agora sou gente e estarei entre os 4 mil novos contratados depois das reformas previdenciária e tributária. Afinal, agora o proletariado chegou ao "Paraíso".
Said Barbosa Dib

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