sábado, 2 de fevereiro de 2008

O negócio é congelar o Brasil


Diferentemente do que vem ocorrendo no Hemisfério Norte, onde se discutem e implementam grandes projetos de infra-estrutura a partir da ótica socioeconômica e não da ambiental, no Brasil e outros países sul-americanos – os do Extremo Ocidente – até mesmo as poucas iniciativas de integração vêm sendo alvo de virulentos e distorcidos ataques do ambientalismo internacional.
O mais recente deles partiu da Conservation International, ONG criada, dirigida e financiada por representantes de poderosos grupos do Establishment anglo-americano, em relatório intitulado "Implicações da Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana (IIRSA) e projetos correlacionados na política de conservação no Brasil". O alvo são 13 'megaprojetos' integrantes da IIRSA e também do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) por 'afetarem' 137 reservas ambientais, 107 reservas indígenas e 484 áreas 'prioritárias' para a preservação da biodiversidade brasileira.

Sem surpresas, são as seguintes as obras que estão no radar do aparato ambientalista:

TRANSPORTE RODOVIÁRIO


Duplicação do trecho Palhoça-Osório (Rodovia Mercosul) – EixoMercosul-Chile da IIRSA
Ponte sobre o Rio Acre – Eixo Peru-Brasil-Bolívia da IIRSA
Estrada Boa Vista-Bonfim-Lethem-Linden-Georgetown (1ª etapa: estudos)– Eixo do Escudo das Guianas da IIRSA
Ponte sobre o Rio Itacutú (Takutu) – Eixo do Escudo das Guianas daIIRSA
Construção de Trechos Rodoviários na BR-010 no Estado de Tocantins– Ação do PPA
Construção de Trechos Rodoviários na BR-135 no Estado da Bahia –Ação do PPA
Construção de Trechos Rodoviários na BR-163 nos Estados do Pará edo Mato Grosso – Ações do PPA
Construção de Trechos Rodoviários na BR-230 no Estado do Pará –Ações do PPA
TRANSPORTE FERROVIÁRIO
Construção da Ferrovia Norte-Sul – Ação do PPA incluída na carteira doPPI
TRANSPORTE MARÍTIMO E HIDROVIÁRIO
Construção das Eclusas de Tucuruí no Estado do Pará – Ação do PPAAmpliação e Recuperação do Porto do Itaqui – Ação do PPA
ENERGIA

Estudo de viabilidade de Implantação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte– Ação do PPA
Implantação do Gasoduto Urucu-Coari-Manaus – Ações do PPA

O Complexo do Rio Madeira, mesmo não fazendo parte da IIRSA, é listado como um dos mais 'problemáticos', sobre o qual a ONG faz uma ameaça nada velada:
"Muitas obras tidas como prioritárias para setores influentes da sociedade ainda são levadas adiante sem o devido diálogo prévio e sem considerações mais aprofundadas sobre os impactos sociais e ambientais. É o caso do Complexo Hidrelétrico do rio Madeira e da Hidrovia Araguaia-Tocantins... Trata-se de uma peça fundamental no plano mais amplo da IIRSA de criar redes de transporte fluvial e rodoviário conectando a Bacia do Orinoco, na Venezuela, à Bacia do Prata, no Cone Sul, além de criar uma via expressa do centro do continente para o oceano Pacífico e mercados asiáticos", referindo-se, na frase final, à Grande Hidrovia.

O 'recado' é dado também para instituições que ousarem financiar as obras sem o beneplácito do aparato ambientalista: "Um dos primeiros e principais passos para alcançar uma integração nacional e regional mais sustentável é a adoção de rígidas salvaguardas sócio-ambientais por parte de financiadores, entre os quais o BNDES merece especial atenção pelo vulto dos empréstimos e pela ausência de salvaguardas definidas de forma explícita pela instituição."
Fica explícito que o objetivo do relatório é francamente impedir que tais obras sejam implementadas ao se observar que, em suas 42 páginas, sequer uma linha é dedicada aos enormes benefícios socioeconômicos que elas trarão, se concluídas.
E nem poderia ser diferente quando se verifica que a Conservation International está defendendo os interesses geoeconômicos de seus poderosos financiadores, dentre os quais se destacam a Ford Foundation, John D. & Catherine T. MacArthur Foundation, Charles Stewart Mott Foundation e a Gordon and Betty Moore Foundation; esta última, por exemplo, 'doou' 100 milhões de dólares para a ONG em 2002. Em 2005, os ativos da Conservation International somaram US$ 194 milhões e foram arrecadados US$ 92 milhões, com destaque para as fundações 'filantrópicas' (US$ 43,6 milhões), mas também do governo americano (US$ 6,4 milhões) e outros governos (US$ 8,7 milhões).

Talvez algumas dúvidas sobre os objetivos 'conservacionistas' da ONG possam ser dirimidas pela análise de uma das suas diretrizes, claramente enunciada por seu presidente, Russel Mittermeier (ex-vice-presidente do Programa de Conservação do WWF), num seminário realizado em 1990 no Brasil: "Com o alívio das tensões Leste-Oeste, o mundo entrou em uma era na qual as agendas política e econômica serão modeladas pelo alargamento do fosso entre as regiões temperadas e tropicais. Nesta nova era, a conservação de florestas tropicais não é apenas uma prioridade ambiental mas um marco de estabilidade geopolítica."
De fato, a principal questão não é o lobby em si contra as nossas obras de infra-estrutura feito pela Conservation International e outras mega-ONGs do eixo Washington-Londres-Amsterdã, mas até quando aceitaremos passivamente que tal ingerência seja consolidada na nossa legislação pertinente e até mesmo em nossa cultura.

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