quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Coluna do mestre Helio Fernandes



Rio de Janeiro, quarta-feira, 06 de fevereiro de 2008




Dois acontecimentos diferentes mas semelhantes

A SUPERTERÇA ELEITORAL, A SUPERQUARTA DE CARNAVAL

Como a vida é dinâmica e não estática, as mudanças são inesquecíveis, quase obrigatórias. Mas tanto na eleição quanto no carnaval, o grande fator dessa modificação foi a televisão. Nos tempos de antigamente, existiam dois espetáculos imperdíveis. A "Parada de 7 de Setembro", ninguém faltava, primeiro na Avenida Rio Branco, depois na Getulio Vargas, em frente à Central do Brasil.
O outro era o desfile dos "préstitos" das grandes sociedades, na "terça-feira gorda", encerrando o carnaval na Avenida Rio Branco. Fenianos, Tenentes do Diabo, Democratas, Pierrots da Caverna empolgavam o público. As escolas de samba eram praticamente desconhecidas, ninguém saía dos bairros, Mangueira, Portela, Vila Isabel. Os grupos da Baixada não existiam.
Mas as "grandes sociedades" foram desaparecendo, as escolas crescendo e aparecendo. E como acontece no mundo financeiro, houve a fusão dos antigos "préstitos" com as surpreendentes escolas. Agora, como se viu segunda e terça, as escolas, maravilhosas, surgiam com 6, 7 ou 8 "carros alegóricos", a atração de antigamente, com a exuberante dedicação de hoje dessas escolas de samba insuperáveis.
Não é possível fugir do lugar-comum: é o maior espetáculo da Terra. Mercantilizado, comercializado, vendido e comprado, ainda emociona, empolga, arrebata.
Mas essa empolgação tem uma explicação inegável: agora o carnaval é do povo, as escolas têm perfeição quase inacreditável, cada item, cada detalhe, cada alegoria, cada quesito tem a participação direta e inabalável do trabalhador, como a Vila Isabel teve a sabedoria de perceber. Centenas de milhares de trabalhadores, que fizeram o grande carnaval que termina hoje (com a apuração), já começam a se movimentar para a festa de 2009. Da qual são roteiristas, atores, coadjuvantes, diretores e até espectadores.
As "grandes sociedades" de antes, com seus "préstitos" vistosos e caríssimos, representavam a elite dominadora, rica e dona de tudo. Até da alegria do povo. Esse povão só se divertia porque eles permitiam.
Hoje a festa é produzida, trabalhada, montada e apresentada para milhões de pessoas (na televisão, claro) pelos trabalhadores, explorados durante 360 dias, mas que se libertam nessa semana inesquecível. E se libertam pelo trabalho, são eles que fazem tudo, da mais simples escolha do tecido para as fantasias até o último rebite do carro alegórico atingido pela chuva implacável.
O mundo é competitivo, mas a cada escola que vai passando e assombrando pela perfeição vou me convencendo: não devia haver a "decisão" de hoje à tarde. A contagem de votos deveria considerar as 12 escolas igualmente ganhadoras. Havendo ganhador, logicamente terá que haver perdedor, o que rigorosamente não houve. Um ou outro detalhe, mas tudo mostrando a espantosa capacidade desse povo desconsiderado, desprezado, desabandonado, que deveria estar convocado para a grande guerra da salvação nacional.
Mas hoje, Superquarta, haverá o julgamento, da mesma forma que nos EUA "especialistas" eleitorais estarão debruçados na análise dos resultados das prévias que atravessaram a madrugada. Aqui também, em duas madrugadas avaliaram e decidiram 1 ano de trabalho do povo.

PS - Se nos EUA, a peso de dinheiro roubado do Imposto de Renda, decidem quem governará o país (e eles pensam que o mundo), aqui é totalmente diferente.

PS 2 - Nenhum incidente, pode até haver insatisfação, mas o povão decide no exato instante do resultado (contra ou a favor) qual o enredo que apresentarão no próximo ano? Para satisfação deles mesmos e de milhões que esperam ansiosamente o que vai surgir da imaginação do trabalho e da dedicação.

Para ler na íntega a coluna do Helio Fernandes, acesse:


A excelente foto do Helio é uma criação da revista "Brasília em Dia". Não deixem de acessá-la:

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