A razão sem rédeas nas ruas
Eles são ignorados pela sociedade, estorvo para as famílias e problema para o poder público. Estes seres quase invisíveis à sensibilidade humana compõem a paisagem de nosso cotidiano, ora como humor, ora como tragédia
EDMAR OLIVEIRA - Especial para o Jornal Opção de Goiânia
Mauro pensa que é maratonista. Corre, de costas, quilômetros todos os dias, na BR-153, da Faculdade Unip até a barreira da Polícia Rodoviária Federal, na saída para Anápolis. Vai e volta. Às vezes, senta às margens da BR. Perambula por ruas próximas, no perímetro urbano de Goiânia. Mauro, que não sabe ao certo o próprio nome, inspira compaixão. Ele é famoso, embora invisível às autoridades de saúde e à sociedade. Maltrapilho, descalço e com os pés feridos pelo asfalto escaldante, segue no abandono. “De onde você é?”, pergunta o repórter. “Sou daqui mesmo... vim lá da Bahia. Não posso conversar. Correr é o meu trabalho e estou atrasado”, balbucia o jovem de aproximadamente 30 anos, de olhos arregalados e perdidos, antes de sair em disparada para mais um risco de morte na movimentada rodovia. O corredor solitário não tem parentes ou amigos. Atendido e medicado várias vezes no Pronto-Socorro Psiquiátrico Wassily Chuc, interrompe o tratamento e volta para a BR. “Eu o atendi algumas vezes, mas é um caso difícil por não ter vínculo familiar”, revela o coordenador da Divisão de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde e ex-diretor do Wassily Chuc, psiquiatra Marcelo Trindade. “Há dezenas de doentes mentais nas ruas da capital. Precisamos de mais CAPS e de um bom atendimento hospitalar. É utopia pensar em assistência psiquiátrica sem leitos”, completa. Enquanto defensores e opositores da reforma psiquiátrica travam uma luta em que não haverá vencedores, o Ministério da Saúde revela que, em cinco anos, cresceu 41 por cento o número de mortes de pessoas com transtornos mentais e comportamentais. Segundo o ministério, foram 9.398 mortes em 2006 contra 6.655 em 2001, o que coincide com o fechamento de um quarto de leitos psiquiátricos no país, no mesmo período, embora não haja base científica para afirmar que há ligação entre os dados. O número de leitos caiu de 52.962 para 39.567. Desse total, 2.400 estão em hospitais gerais e, paradoxalmente, foram criados para tentar contrabalancear a medida anterior. Estudo da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) mostra que, de 1989 a 2006, o governo economizou, em média, cerca R$ 2 bilhões por ano com o atendimento a pacientes em hospitais. O investimento, que era de 5,8 por cento do orçamento do Ministério da Saúde em 1995, por exemplo, caiu para 2,3 por cento nesta década. Em 2006, a saúde mental recebeu R$ 943, 2,04 por cento do orçamento da saúde. (...)
O governo federal destruiu um modelo de assistência em saúde mental, que tinha falhas, e criou outro muito pior, que é o dos CAPS”, critica o presidente da Associação Psiquiátrica de Goiás (APG) e do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), Salomão Rodrigues Filho, que também é membro da Associação Brasileira de Psiquiatria. “É preciso radicalizar a luta antimanicomial e extinguir todos os leitos psiquiátricos. Os manicômios só servem para aprisionar portadores de transtornos e dar lucro a algumas pessoas”, rebate a presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP), Heloiza Helena Mendonça de Almeida Massanaro. A luta antimanicomial ou reforma psiquiátrica começou no Brasil há 20 anos, com um projeto de lei do ex-deputado federal Paulo Delgado (PT-MG), de 1987, que propunha, basicamente, o fechamento dos “manicômios” e a assistência nos Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS), hoje CAPS. O projeto sofreu modificações profundas no Senado, com a aprovação de um substitutivo do ex-senador e médico Lucídio Portela, do ex-PPB (hoje PP) do Piauí. O resultado é a lei 10.216, que prevê a proteção e amplo atendimento ao doente mental, com a manutenção e o aperfeiçoamento dos hospitais psiquiátricos. “É uma boa lei que não é cumprida. O Ministério da Saúde, por meio de portarias, vem pondo em prática o projeto original, de Paulo Delgado”, destaca Salomão Rodrigues. “O fato de uma pessoa precisar de cuidados especiais não significa que tenha de perder sua liberdade”, destaca Heloiza Helena Massanaro. Em Goiás, o marco da reforma foi o fechamento e a demolição do Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho, em 1997. Mas o primeiro CAPS só foi criado em 2000. Em 2006, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) entregou ao Ministério da Saúde um documento intitulado “Diretrizes para um modelo de assistência integral em saúde mental”, que propõe um redirecionamento no atual modelo de atendimento, com assitência aprimorada nas clínicas e o trabalho em conjunto com os demais profissionais da área, como psicólogos e terapeutas-ocupacionais, além da manutenção dos CAPS, com uma simples mas significativa alteração na sigla, que mudaria para CAMPS —Centro de Atenção Médica, Psicológica e Social. Para a ABP, seria a inclusão do médico na equipe que assiste o doente mental.
O governo federal destruiu um modelo de assistência em saúde mental, que tinha falhas, e criou outro muito pior, que é o dos CAPS”, critica o presidente da Associação Psiquiátrica de Goiás (APG) e do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), Salomão Rodrigues Filho, que também é membro da Associação Brasileira de Psiquiatria. “É preciso radicalizar a luta antimanicomial e extinguir todos os leitos psiquiátricos. Os manicômios só servem para aprisionar portadores de transtornos e dar lucro a algumas pessoas”, rebate a presidente do Conselho Regional de Psicologia (CRP), Heloiza Helena Mendonça de Almeida Massanaro. A luta antimanicomial ou reforma psiquiátrica começou no Brasil há 20 anos, com um projeto de lei do ex-deputado federal Paulo Delgado (PT-MG), de 1987, que propunha, basicamente, o fechamento dos “manicômios” e a assistência nos Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS), hoje CAPS. O projeto sofreu modificações profundas no Senado, com a aprovação de um substitutivo do ex-senador e médico Lucídio Portela, do ex-PPB (hoje PP) do Piauí. O resultado é a lei 10.216, que prevê a proteção e amplo atendimento ao doente mental, com a manutenção e o aperfeiçoamento dos hospitais psiquiátricos. “É uma boa lei que não é cumprida. O Ministério da Saúde, por meio de portarias, vem pondo em prática o projeto original, de Paulo Delgado”, destaca Salomão Rodrigues. “O fato de uma pessoa precisar de cuidados especiais não significa que tenha de perder sua liberdade”, destaca Heloiza Helena Massanaro. Em Goiás, o marco da reforma foi o fechamento e a demolição do Hospital Psiquiátrico Adauto Botelho, em 1997. Mas o primeiro CAPS só foi criado em 2000. Em 2006, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) entregou ao Ministério da Saúde um documento intitulado “Diretrizes para um modelo de assistência integral em saúde mental”, que propõe um redirecionamento no atual modelo de atendimento, com assitência aprimorada nas clínicas e o trabalho em conjunto com os demais profissionais da área, como psicólogos e terapeutas-ocupacionais, além da manutenção dos CAPS, com uma simples mas significativa alteração na sigla, que mudaria para CAMPS —Centro de Atenção Médica, Psicológica e Social. Para a ABP, seria a inclusão do médico na equipe que assiste o doente mental.
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