segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Os brincos de SISBOV e o desmatamento da "Amazônia"


31/jan/08 (AER) – Dois temas, aparentemente dissociados, agitaram a imprensa doméstica e internacional na semana passada: o embargo da União Européia à carne bovina brasileira e a recidiva do desmatamento exponencial na ‘Amazônia’. No caso da carne, são conhecidas as ineficiências e ‘jeitinhos’ de instâncias governamentais responsáveis pelo controle sanitário da pecuária – mas também de produtores -, com destaque para o burlesco programa de erradicação da febre aftosa. Houve avanços, mas persistem desleixos inaceitáveis para quem deseja manter a liderança das exportações mundiais de carne bovina.Porém, igualmente inaceitável foi a impostura protecionista da União Européia ao limitar em 300 o número de produtores brasileiros que estariam aptos a satisfazer as exigências sanitárias do bloco. Como afirmou o deputado alemão Friedrich-Wilhelm Graefe zu Baringdorf, vice-presidente do comitê de Agricultura do Parlamento Europeu, "seguramente há razões políticas e econômicas envolvidas na decisão". Quando recebeu o pedido para listar os frigoríficos, em dezembro do ano passado, o Ministério da Agricultura classificou a medida de "arbitrária, desnecessária, desproporcional e injustificada" e repassou uma lista com 2.600 produtores considerados habilitados. Para o diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antonio Jorge Camardelli, o governo brasileiro fez bem em resistir à recomendação da União Européia de limitar o número de frigoríficos credenciados a exportar para o bloco. "O Brasil estabeleceu um confronto em tempo hábil, oportuno e fez certo. Esta crise veio no momento oportuno. Queremos puxar a discussão para a seara técnica, onde achamos que podemos sair vitoriosos", disse Camardelli, acrescentando que "O mercado europeu é muito importante, mas já passou o tempo de a gente se curvar, especialmente diante de coisas que não têm argumentação técnica". [1]Quanto ao estardalhaço feito pela ministra Marina Silva sobre o eventual aumento exponencial no desmatamento que teria ocorrido na ‘Amazônia’, no último trimestre do ano passado, e que já foi abordado na edição anterior deste Alerta, ficou ainda mais claro que se tratou de uma ação temerária e intempestiva da ministra que contrariou, inclusive, a prudente orientação do presidente Lula de não ‘culpar ninguém’ até que se tivesse informações mais completas sobre o imbróglio. `O que está acontecendo é uma rapina. Mais de 70% dos desmatamentos foram para a formação de pastos para a pecuária', esbravejou Marina com ares de ministra plenipotenciária. Ocorre que a ministra encampou as teses da ONG Friends of the Earth (Amigos da Terra, no Brasil, para não ferir suscetibilidades) apresentadas há cerca de 15 dias no ‘estudo’ ‘O Reino do Gado’.
Capa do 'estudo' da Friends of the Earth (Amigos da Terra)Por coerência, transcrevemos o que este Alerta analisou a respeito:Trata-se de uma ofensiva ‘verde’ nada sutil ao desenvolvimento da pecuária brasileira no Cerrado-Amazônia, intencionalmente tratada como ‘Amazônia’. Um dos destaques é o ostensivo patrocínio da União Européia que, como é do conhecimento geral, está levantando as mais criativas barreiras não-tarifárias para restringir a importação de carne brasileira e proteger seus produtores. Por isso mesmo, não foi nenhuma novidade que o ‘estudo’ ganhasse destaque na imprensa britânica, onde o jornal The Independent dedicou-lhe duas páginas em sua edição de domingo 13. [2]
Patrocínio: 'Esta publicação foi produzida com o apoio da União Européia', diz a notaAqui, não se está negando a existência de desmatamento predatório na ‘Amazônia’ para a formação de pastos. O problema é a generalização de ocorrências pontuais e a pérfida inclusão de áreas de Cerrado como se Amazônia (sem aspas) fôra. No exterior, onde a maioria da população ainda acha que Buenos Aires é a capital do Brasil, a carne ‘made in Brazil’ é apresentada de forma sibilina como uma das grandes destruidoras da floresta amazônica que está fadada a desaparecer em 30 anos, desgastado bordão ambientalista repetido há duas décadas . E a central difusora desses mitos amazônicos é a rede de ONGs ambientalistas comandada por Friends of the Earth, WWF, Conservation International etc., que são regiamente financiadas por instituições governamentais, para-governamentais e outras entidades do Establishment de ex-metrópoles, com destaque para o britânico que opera como primus inter pares. Ou, como preferimos contextualizar, o ambientalismo é uma faceta do colonialismo ‘pós-moderno’. Voltando ao parágrafo inicial, vistos esses dois temas a partir de um ponto de observação mais elevado, sua aparente dissociação se desvanece quando se percebe que as engrenagens que os movimenta são acionadas por um único motor: a imposição de interesses econômicos e geoestratégicos europeus (no caso) em detrimento dos nossos. Podemos ser relapsos em colocar brincos do Sisbov em orelhas de bois, mas não devemos ser ingênuos.


Notas:

[1]Exportadores de carne buscam alternativa ao mercado europeu, BBC, 30/01/2008[2]'Mudanças climáticas': novo paradigma ambientalista para conter desenvolvimento da Grande Amazônia, Alerta Científico e Ambiental, 17/01/2008

http://www.alerta.inf.br/news/1255.html

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