quinta-feira, 13 de março de 2008

Coluna do Helio Fernandes



Em 8 horas da defesa presumida da Eletrobrás, Eduardo Cunha é acusado, nominalmente, de negociata

A medida provisória sobre a Eletrobrás bateu vários recordes. Começou a ser discutida às 4 da tarde de anteontem, à meia-noite fui dormir, e nada ainda havia sido votado. Não houve acordo entre a base partidária e a oposição, ao contrário, o que sobrou foi discussão. Isso nem é surpreendente, acontece nos Congressos do mundo, parlamentaristas ou presidencialistas.
Mas na verdade, não se podia tratar de assunto tão importante quanto a regulamentação e o fortalecimento do setor energético do Brasil através de medida provisória. E medida provisória encaminhada (e não votada com esclarecimento total) apressadamente, nervosamente, escandalosamente, inconstitucionalmente, constrangidamente, envergonhadamente, audaciosamente, desrespeitosamente, e sem que de um lado ou do outro se apresentasse tranqüilamente.
Foi uma sessão atípica em todos os sentidos. Um senador por Sergipe novamente queria brigar e agredir colegas. Um senador do Ceará, em discurso indignado, mas corretíssimo, acabou quase sendo punido por desacato. Um senador do Amazonas falou 42 vezes, mas como sempre tinha 2, 3 ou 5 minutos, ninguém pôde ouvir um grande discurso (o que nele é habitual), pois quando o tempo começava já estava encerrado.
Um senador de Roraima, infinitamente experimentado em liderar governos, de direita ou de esquerda, mudou seu comportamento afável e cordial (que inclusive no passado ajudou a salvá-lo de cassação por irregularidades provadas e comprovadas) passou a ser discricionário, arbitrário e autoritário, o que logo vários senadores entenderam e identificaram: "O líder do governo está assustado porque o presidente Lula havia dito pela manhã que o Congresso precisava trabalhar".
Foram tantas as palavras de ordem sobre o mesmo assunto de um lado ou do outro, que acabou tudo numa barafunda ou numa brincadeira insensata e destrutiva. Como o senador de Roraima não aceitava que os senadores falassem democraticamente, o "encaminhamento" ficou apenas em 5 minutos. A partir das 11 horas, o presidente da "casa" passou a dar a palavra aos senadores, com as palavras: "O senador tem 5 minutos IMPRORROGÁVEIS". O que acabou em galhofa e gargalhada.
Vários senadores falaram tanto na "vitória de Pirro", que o general passou a ser conhecido por quem jamais leu coisa alguma. Um espetáculo circense, quase na véspera de um novo apagão. Que levou até o senador do Ceará a dizer: "Ainda não houve apagão porque choveu". E olhando para a cabeleira arrumadíssima de um senador do Mato Grosso do Sul, ressalvou: "V. Exa. é o único que conhece a fundo esse assunto energético". Vários outros senadores elogiaram a competência do mesmo senador do Mato Grosso do Sul.
Alguns senadores, tentando justificar o injustificável, diziam, ou melhor, sussurravam medrosamente: "Essa medida provisória veio para fortalecer a Eletrobrás, transformá-la numa nova Petrobras". Ora, a Eletrobrás não precisava desse "reforço", de uma medida provisória, "fecundada" por uma outra. Holding do sistema energético do Brasil, a Eletrobrás precisa apenas de administração. Jamais será "doada".
Se a Eletrobrás precisasse de defesa contra alguma DOAÇÃO-PRIVATIZAÇÃO, eu estaria aqui para defendê-la, como fiz com todas no catastrófico governo de FHC, do retrocesso de 80 anos em 8. Nem nesse período de entrega total do patrimônio brasileiro a Eletrobrás não correu o menor risco, por que iria correr agora? Lula não DESESTATIZOU como devia, mas não PRIVATIZOU, como não devia.
Gastaram horas e horas numa sessão inútil, inócua, inoperante. O presidente, do Rio Grande do Norte, foi o campeão inegável da paciência. Mas infelizmente, deixou que o líder eterno (que não se elegeu governador de Roraima) comandasse os trabalhos.
PS - Apenas um nome e um objetivo foi citado por vários senadores. O nome? Deputado Eduardo Cunha. O objetivo: o artigo segundo da medida provisória, apenas para que pudesse fazer negociatas.

PS 2 - Vários, muitos, diversos, mostraram que Eduardo Cunha fez chantagem com o presidente Lula, e como relator na Câmara preparou tudo para novas ROUBALHEIRAS, nas quais é mestre irrefutável.
PS 3 - Em 8 horas, pelo menos, o senador-presidente, do Rio Grande do Norte, citou 97 vezes um colega do Amazonas. Para lhe dar a palavra, pedir que encerrasse, ou apelasse para que não falasse mais.
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