sexta-feira, 21 de março de 2008

Coluna do Helio Fernandes


Nesta Sexta-Feira da Paixão

Rezemos pela Ressurreição e pelo perdão das "dívidas"
Nesta Sexta-Feira da Paixão precisamos rezar muito. Mesmo, ou principalmente, os ateus devem rezar mais do que os outros. O fato de confessadamente não terem fé, não acreditarem, se julgarem acima de tudo e de todos, não os desobriga da meditação, do silêncio, da introspecção. Rezem, ateus, que Deus os salvará. Isso não é uma contradição ou uma absolvição, e sim a constatação de que "a fé remove montanhas", Deus é misericordioso com todos. E tem até mais carinho, mais preocupação e mais paciência com os que pecaram e continuam pecando, embora se julguem bem aventurados e imunes a qualquer julgamento.
Na véspera da Ressurreição, e repetindo a esplêndida cerimônia do batismo, podem perguntar a esses ateus: "Renuncias a Satanás?" Não importa o que respondam, o importante é a palavra renúncia, que hoje, no Brasil, está na mente de todos, se reflete nas pesquisas, parece um anseio ou uma angústia coletiva. Só que o povo espera que essa interpelação bíblica, "renuncias a Satanás", se transforme numa decisão puramente filológica, se concretize como renúncia a tudo o que é temporal, material e não tem nada de essencial.
Mesmo os ateus conhecem os sacrifícios de Jesus Cristo, seu sofrimento, as perseguições continuadas, sua pregação pela palavra, a autenticidade que transparecia em tudo o que dizia. E que Ele confirmou sempre, acabando por entregar a própria vida, praticando a inesquecível (e hoje mais lembrada do que nunca) decisão da renúncia total.
Hoje, Sexta-Feira da Paixão, véspera da Ressurreição, quem sabe se repete esse milagre da renúncia? Os que não acreditam, aqueles que praticam diariamente o exercício inútil do otimismo vazio; se convertam, passem a acreditar que o milagre da fé pode acabar com todas as dívidas?
Dívidas todos temos, somos imperfeitos, muitos não têm convicção nem autenticidade, falam por falar, dizem por dizer, escrevem por escrever, depois pedem que esqueçam tudo isso. Temos as dívidas da falta de fé, a dívida da não generosidade, a dívida da falta de autenticidade, de credibilidade, de autoridade. Mas como Deus é a Ressurreição e a vida, quem crê Nele não morrerá jamais, tudo isso pode e será perdoado. Basta que no minuto final da existência na terra se pronuncie uma palavra milagrosa de arrependimento, e nada será colocado na longa e não desvendada viagem para um mundo que ninguém conhece.
Mas existem as dívidas impagáveis, que nem Deus, com todo o Seu Poder, pode apagar ou deixar de pagar. Essas estão acima e além de qualquer compreensão, foram contraídas (e contra esse vírus não há imunização, mesmo divina) sem nenhum amor à coletividade. Foram acumuladas sem qualquer amor aos milhões e milhões de seres humanos, que terão que carregá-las como a própria cruz que impuseram a Jesus Cristo. E mesmo que amanhã se renove o milagre da Ressurreição, essas dívidas não estarão incluídas.
Essas dívidas, que não temos a menor idéia de como foram iniciadas, somadas e multiplicadas (sem que a palavra tenha qualquer coisa a ver com a multiplicação dos pães), têm que ser pagas, ou melhor amortizadas eternamente com o sangue de 180 milhões de brasileiros.
São 180 milhões de pessoas que nascem, crescem, se desenvolvem e morrem, sem conseguirem jamais imaginar a razão desse sacrifício coletivo.
São dívidas internas (e não do coração) e dívidas externas (não da mente) que têm que ser carregadas como se fossem maldição. (Perdoai, Senhor a palavra maldição nesta Sexta-Feira da Paixão, mas somos imperfeitos blasfemamos até mesmo na hora da contrição).
Senhor, precisamos da Tua atenção permanente para modificar muita coisa, quase tudo. E nesta Sexta-Feira da Paixão, pedimos Tua proteção para modificar o mundo, mas se for possível, começando pelo Brasil. Somos 180 milhões de brasileiros, Senhor, "devendo" só internamente 1 TRILHÃO e 300 BILHÕES. Isso significa que cada brasileiro já nasce devendo quase 3 mil e quinhentos reais. E que o governo paga aumentando cada vez mais os impostos, mas não para a Saúde, Educação, Segurança, Habitação, Transporte, Saneamento, e sim para enriquecer aqueles que nos escravizam, nos roubam, nos exploram e nos humilham.
Continuamos acreditando cada vez mais, Senhor, continuamos respeitosos e tementes a Deus, mas é "preciso que eles também sejam". Só que para isso é indispensável um milagre. E embora o sábio e Santo Agostinho, no Século V, tenha escrito um livro defendendo a tese que "milagre não existe", a nossa decadência chegou a tal ponto, Senhor, que só um milagre nos salvará. Tens que fazê-lo, Senhor, e sem demora. Neste sábado da Ressurreição, amanhã, aproveitando a "comemoração" dos 508 anos, será (ou seria) a hora mais apropriada.
Não nos abandone, Senhor, complete o milagre da Ressurreição e faça com que esses ateus que se apossaram de tudo tenham pelo menos um rasgo de consciência, de credibilidade, de amor ao próximo, e compreendam finalmente que não estão acima de julgamento. Nem julgamento terreno nem divino. Faça com que se convençam de que traição é um pecado irreversível que não pode ser perdoado, apesar de todos saberem que És magnânimo, humilde e generoso.


PS - Senhor, como hoje é Sexta-Feira da Paixão, véspera da Ressurreição, e como estamos pedindo, vamos pedir logo o máximo: faça com que esses ateus que se julgam donos do nosso destino coletivo completem o compromisso da renúncia. Mas não apenas a renúncia a pecados ou possíveis imperfeições.
Para ler a coluna do mestre Helio na íntegra, acesse:

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