Minha experiência como apresentador de televisão ao longo dos últimos dez anos possibilitou-me ter contato com figuras que dificilmente eu encontraria em outras circunstâncias. Foi através da TV que conheci políticos como Enéias Carneiro, Roberto Freire, Lula, Alckmin, José Sarney e artistas como Cláudio Zolli, Jane Duboc, Sá e Guarabira, Guilherme Arantes, Nico Rezende e Léo Gandelman, com quem tenho contato até hoje. Um dos encontros mais interessantes, entretanto, eu tive com a escritora Rose Marie Muraro. Meu contato com ela rendeu uma polêmica que me persegue até hoje. No final da entrevista que fiz, transmitida pelo SBT no noticiário local, eu atirei à queima-roupa a frase "o melhor movimento feminista é o dos quadris". A entrevista era "ao vivo" e, no ato, Rose Marie disparou: "Você é um canalha". O diretor do programa, já temendo uma reação dela, se encarregou de cortar o áudio. Não adiantou. O público percebeu a reação e, durante meses, recebi cartas, e-mails e até ameaças por conta da frase. A imprensa me atirou vilipêndios e classificou-me de machista, chauvinista e retrógrado. Um ano depois do episódio, que aconteceu em 2000, reencontrei Rose Marie Muraro e comentei a polêmica que ela tinha causado ao me chamar de canalha. Ela riu bastante e disse: "Isso é pra você parar de achar que sou feminista bigoduda e lésbica". Desde então, minha relação de amizade com a escritora se tornou a melhor possível, apesar dela até hoje acreditar que sou, de fato, "chauvinista". Lembrei desse episódio porque há alguns meses, por coincidência, ganhei de presente do jornalista Marcelo Roza o livro "Os seis meses em que fui homem". A obra narra algumas das expe-riências de Rose Marie que, aos 74 anos já foi casada por 23 anos, teve cinco filhos, mais de 10 netos, tomou drogas, tentou suicídio e se considera uma "porra-louca". Ela também esteve ligada à maioria dos movimentos libertários no Brasil. (...)
Recente levantamento realizado no Brasil revelou que a estrutura familiar clássica, formada pelo pai, mãe e filhos, existe em pouco mais da metade dos lares brasileiros. O restante das famílias é formado por pais ou mães solteiros ou pessoas que vivem o segundo, terceiro ou até quarto casamento. A desestruturação da instituição chamada família começou a acontecer justamente quando a mulher abandonou sua condição de mãe para entrar no mercado de trabalho. Que ela quisesse trabalhar, ninguém pode negá-la esse direito. Entretanto, ao "sair de casa", a mulher relegou suas atribuições de mãe e esposa. É sabido que nos primeiros anos de vida, a criança necessita muito mais da mãe do que do pai e a ausência desta causa prejuízo no processo de desenvolvimento daquela. Mesmo que não considerássemos esse fator, já que muitas mulheres podem argumentar que a ausência da mãe pode ser compensada por uma babá ou pela avó (como muitas vezes ocorre), há outro fator relacionado aos movimentos feministas que ainda precisa ser compensado. Dos anos 60 para cá, quais os ícones da feminilidade que legaram descendência ideológica? Tudo bem que nos anos 60 tivemos figuras como Cacilda Becker, Leila Diniz, Patrícia Galvão (morta em 62), Zuzu Angel, dentre outras. Mas, hoje? Que contribuição podem dar para a sociedade, mulheres imbecis como Xuxa, Carla Perez, Luciana Gimenez, Vanessa Camargo, Sandy ou nossas cantoras de brega? A vulgarização da sensualidade feminina é um fato e foi engendrada por obra e graça das próprias mulheres que a criticam. Ser bonita, rica e burra, no Brasil, passou a ser condição desejada por nossas meninas e a grande mídia incentiva esse padrão. Que o digam as novelas globais. Minha intenção, longe de polemizar, é suscitar reflexões que possam referendar mudanças. É preciso resgatar o legado intelectual de mulheres que deixaram grandes contribuições, mas foram relegadas simplesmente a estudos acadêmicos. Sem essas mudanças, me desculpem, mas o melhor movimento feminista continuará sendo mesmo o dos quadris...
Para ler o artigo completo do Renivaldo:
Renivaldo Costa é jornalista, colunista do "Diário do Amapá" e professor
E-mail: tgmafra@gmail.com
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