quinta-feira, 13 de março de 2008

Patrícia Castello Branco



Restaurantes “sem saída”

Alimentos desperdiçados são jogados no lixo

O presidente do Sindhobar (Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília), Clayton Faria Machado, afirmou ser vergonhoso o desperdício de alimentos nos restaurantes do DF. "A lei que tramita no Congresso Nacional é um impasse para os proprietários dos estabelecimentos fazerem doações. Em conseqüência, a comida é literalmente jogada no lixo", lamentou. O assessor de imprensa, Cleber Sampaio, explicou: "O que o sindicato faz é conscientizar os consumidores. O menor índice de desperdício que já tivemos aqui na capital foi de 15%." O problema todo está no fato de que a comida, tudo o que se chama de resto, pela legislação atual, tem que ser colocada no lixo. Se as empresas forem doar os alimentos, ou alguém levar para casa e tiver um caso de intoxicação, de qualquer coisa, é o empresário que doou quem responde. É o que diz a lei: quem doa uma refeição pronta assume os riscos caso alguém venha a passar mal. Pode ser processado. Um projeto de lei que tramita no Congresso Nacional desde 1996 tenta mudar isso. Pela proposta, quem recebe a doação fica responsável pela comida a partir do momento em que ela é entregue. O doador só pode ser penalizado se a refeição não tiver sido preparada corretamente. O projeto foi elaborado pelo Sesc, a partir da lei em vigor nos Estados Unidos. Lá, quem doa alimento pronto recebe incentivo fiscal para isso. “O prejuízo maior é que várias empresas, restaurantes, indústrias que poderiam doar não estão doando porque tem medo por conta da responsabilidade civil e criminal que lhes é imputada sobre a doação”, garante Danielle Simas, do Sesc SP. Em Brasília, o Sushi San, localizado na 211 Sul, cobra as peças deixadas no prato. "Cada peça nós cobramos R$0,30", diz o gerente Carlos Amaral. Outro exemplo é o da Pizzaria Pianinno, na 410 Sul. O esquema de lá é rodízio. A pizza vem inteira à mesa com o sabor que o cliente pede. "Antes, as pessoas chegavam aqui, pediam uma pizza inteira de um determinado sabor e só comiam dois pedaços. Em seguida já pediam outra inteira de outro sabor e não comiam quase nada. Nós cobrávamos R$0,20 pela fatia deixada. Hoje não cobramos mais. Acho que a clientela daqui já tomou consciência disso", declarou o garçom Anderson Soares. Fernando La Roque, um dos donos do restaurante Carpe Diem, na 104 Sul, teve uma idéia diferente para reduzir o desperdício de alimentos. "Com tanta comida do bufê no nosso almoço e da feijoada de domingo, doamos uma parte para uma instituição de crianças carentes na Vila Planalto; e a outra parte damos aos nossos funcionários para levarem para casa." O único medo que ele diz ter é o da contaminação. "A comida doada é sempre de qualidade, o que me preocupa é até ela chegar à entidade." Para evitar riscos, são adotados cuidados especiais na entrega dos alimentos. Afinal, a lei prevê pena de dois a cinco anos de detenção para quem "entregar matéria-prima ou mercadoria em condições impróprias para o consumo". La Roque diz que há uma grande diferença entre sobras e restos. A sobra é o que sai da cozinha e, portanto, pode ser doada. O resto é tudo aquilo que, uma vez colocado na mesa, entra em contato com microorganismos da saliva da pessoa e não pode ser doado. Os alimentos que perdem a validade na cozinha dos restaurantes também são muitos. O proprietário do restaurante disse já ter sido multado por causa de um filé congelado. "A validade tinha passado há menos de uma semana e o chefe de cozinha não viu. Carnes congeladas são a maioria das perdas.", lembrou. Fernanda Teixeira, dona do restaurante de sushi Temaky, na 405 Sul, afirma não aproveitar as sobras, pois a maioria dos frutos do mar, quando não congelados, não dura mais que um dia. "Nunca levei uma multa. Infelizmente não tenho como doar a comida que resta. O peixe pode perder a validade em algumas horas.", afirma.

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