Critério para a seleção nas “universidades” particulares: o contra-cheque
Por Patrícia Castello Branco
Sexta-feira, dia 28/03, o programa “Câmara Record”, apresentado por Marcos Hummel, abordou a questão das crianças precoces que conseguem passar no vestibular. Mostrou o conhecido caso do menino de oito anos que foi aprovado na seleção para cursar Direito na UNIP de Goiânia. Mas, ao contrário da abordagem ingênua do programa, que destacou a inteligência e a precocidade do menino, o fato tem outra explicação: o problema não é o de se considerar se o menino é ou não um gênio, mas o fato de que os critérios para a seleção de alunos nas universidades privadas são cada vez mais frouxos. A preocupação não é selecionar os melhores, mas os que podem pagar. Não se analisa o conteúdo e a capacidade intelectual do vestibulando, mas apenas o seu contra-cheque, a sua capacidade de pagar em dia as mensalidades. É esta a grande questão. Diante da proliferação sem critérios do ensino superior privado, depois da gestão desastrosa de Paulo Renato no Ministério da Educação, a aprovação de pessoas despreparadas nos vestibulares vem aumentando. São vestibulandos que fazem a avaliação de qualquer jeito ou que nem comparecerem à prova, mas são aprovados. Foi nisto que deu a mercantilização, pura e simples, da educação superior. Há casos absurdos, como a da estudante de turismo, Maria Fernanda Álvares, 20 anos, que fez inscrição para o vestibular da UPIS de Brasília, pela internet, uma semana antes da prova. "A avaliação era no sábado, mas desde quinta eu estava muito doente. Não consegui nem levantar da cama no dia. Semanas depois recebi em minha casa uma carta dizendo que havia passado em 16º lugar. Fiquei de cara”, comentou. Vitor Braga, 19 anos, estudante de Ciência da Computação, declarou que não estava interessado em fazer um curso na UNIP, mas que acabou sendo selecionado: "Fiz a prova só por fazer. Na hora de marcar as respostas no gabarito eu alternei todas as letras e nem fiz a redação. Mais ou menos um mês depois chegou um telegrama na minha casa falando que eu tinha passado em 5º lugar e que teria 45% de desconto na mensalidade." Atualmente Vitor cursa Ciências da Computação no CEUB. Há o caso, também, do historiador Carlos Heitor, 50 anos: "Fui na faculdade Alvorada fazer a inscrição para o vestibular do curso de Informática e paguei R$ 80,00. Fiquei assustado com a ficha de inscrição. Parecia mais um questionário sócio-econômico do que qualquer outra coisa". Carlos disse ter confundido a data da prova e por isso não compareceu. "A avaliação era num sábado, mas apareci lá no domingo." Quase dois meses depois ele recebeu um telegrama em sua casa o parabenizando. "Não entendi nada. Liguei lá na universidade para perguntar o que havia acontecido. A moça que estava do outro lado da linha me confirmou que eu havia passado. Disse para ela que eu não tinha feito a prova e mesmo assim ela me respondeu: fica tranqüilo, quem te enviou o telegrama sabe o que faz." No dia seguinte, Carlos disse ter comentado o caso com sua amiga Sheila Messerschmidt, repórter do Correio Brasiliense. A matéria logo foi publicada. Dias depois, no mesmo jornal, saiu outra matéria o criticando. "O diretor da Alvorada, Marcelo Casadei, me ofendeu. Ele me chamou de malandro e disse que eu estava me aproveitando da falha de uma funcionária." Carlos declarou que não iria entrar na Justiça pelo fato ocorrido, pois muitos amigos dele estudavam nessa faculdade, mas quando se viu ofendido, acusou o diretor por difamação e injúria.
Por Patrícia Castello Branco
Sexta-feira, dia 28/03, o programa “Câmara Record”, apresentado por Marcos Hummel, abordou a questão das crianças precoces que conseguem passar no vestibular. Mostrou o conhecido caso do menino de oito anos que foi aprovado na seleção para cursar Direito na UNIP de Goiânia. Mas, ao contrário da abordagem ingênua do programa, que destacou a inteligência e a precocidade do menino, o fato tem outra explicação: o problema não é o de se considerar se o menino é ou não um gênio, mas o fato de que os critérios para a seleção de alunos nas universidades privadas são cada vez mais frouxos. A preocupação não é selecionar os melhores, mas os que podem pagar. Não se analisa o conteúdo e a capacidade intelectual do vestibulando, mas apenas o seu contra-cheque, a sua capacidade de pagar em dia as mensalidades. É esta a grande questão. Diante da proliferação sem critérios do ensino superior privado, depois da gestão desastrosa de Paulo Renato no Ministério da Educação, a aprovação de pessoas despreparadas nos vestibulares vem aumentando. São vestibulandos que fazem a avaliação de qualquer jeito ou que nem comparecerem à prova, mas são aprovados. Foi nisto que deu a mercantilização, pura e simples, da educação superior. Há casos absurdos, como a da estudante de turismo, Maria Fernanda Álvares, 20 anos, que fez inscrição para o vestibular da UPIS de Brasília, pela internet, uma semana antes da prova. "A avaliação era no sábado, mas desde quinta eu estava muito doente. Não consegui nem levantar da cama no dia. Semanas depois recebi em minha casa uma carta dizendo que havia passado em 16º lugar. Fiquei de cara”, comentou. Vitor Braga, 19 anos, estudante de Ciência da Computação, declarou que não estava interessado em fazer um curso na UNIP, mas que acabou sendo selecionado: "Fiz a prova só por fazer. Na hora de marcar as respostas no gabarito eu alternei todas as letras e nem fiz a redação. Mais ou menos um mês depois chegou um telegrama na minha casa falando que eu tinha passado em 5º lugar e que teria 45% de desconto na mensalidade." Atualmente Vitor cursa Ciências da Computação no CEUB. Há o caso, também, do historiador Carlos Heitor, 50 anos: "Fui na faculdade Alvorada fazer a inscrição para o vestibular do curso de Informática e paguei R$ 80,00. Fiquei assustado com a ficha de inscrição. Parecia mais um questionário sócio-econômico do que qualquer outra coisa". Carlos disse ter confundido a data da prova e por isso não compareceu. "A avaliação era num sábado, mas apareci lá no domingo." Quase dois meses depois ele recebeu um telegrama em sua casa o parabenizando. "Não entendi nada. Liguei lá na universidade para perguntar o que havia acontecido. A moça que estava do outro lado da linha me confirmou que eu havia passado. Disse para ela que eu não tinha feito a prova e mesmo assim ela me respondeu: fica tranqüilo, quem te enviou o telegrama sabe o que faz." No dia seguinte, Carlos disse ter comentado o caso com sua amiga Sheila Messerschmidt, repórter do Correio Brasiliense. A matéria logo foi publicada. Dias depois, no mesmo jornal, saiu outra matéria o criticando. "O diretor da Alvorada, Marcelo Casadei, me ofendeu. Ele me chamou de malandro e disse que eu estava me aproveitando da falha de uma funcionária." Carlos declarou que não iria entrar na Justiça pelo fato ocorrido, pois muitos amigos dele estudavam nessa faculdade, mas quando se viu ofendido, acusou o diretor por difamação e injúria.
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