terça-feira, 24 de junho de 2008

Cel Hiram Reis e Silva

Mapuche e a onda separatista Latino-Americana

“Os cinco vice-reinados e as cinco capitanias do império espanhol se dividem em 25 países. As treze colônias norte-americanas se unem e formam a nação mais poderosa da Terra. DIVIDE E VENCERÁS; UNE E REINARÁS”. (Simón Bolívar)

Mapuche

‘Mapu’ significa terra e ‘che’, pessoa, assim sendo, os mapuche são pessoas da terra numa referência às pessoas que pertencem e integram um território. A coroa de Espanha, após ter enfrentado uma heróica resistência Mapuche de 106 anos, conhecida como Guerra de Arauco, em 6 de janeiro de 1641, assinou o tratado de Killín, através do qual a Espanha reconhecia a autonomia territorial Mapuche. A primeira e única nação indígena do continente, cuja soberania e autonomia foi reconhecida juridicamente, um feito extraordinário na história dos povos indígenas Sul-Americanos. Nos dois séculos que se seguiram, o rio Bio Bio foi considerado como fronteira natural e, os territórios situados ao sul deste como território Mapuche.

No período de 1860 a 1885, os governos argentino e chileno realizaram uma operação militar conjunta denominada, ‘Pacificación de la Araucanía’ pelos chilenos e ‘Conquista del Desierto’ pelos argentinos, que teve como resultado o confisco e ocupação do território dos mapuche por colonos e a deportação das ‘pessoas da terra’ para uma série de ‘reduções’ e ‘reservas’ onde grande parte foi confinada.

Os Mapuche ocupam, atualmente, a região centro-sul do Chile e sudoeste da Argentina com uma população, na sua maioria, urbana, embora mantenham estreitos vínculos com as comunidades de origem.

No Chile, têm presença significativa nas províncias de Bío-Bío, Arauco, Malleco, Cautín, Valdivia, Osorno, Llanquihue e Chiloé. Em conseqüência da ocupação por colonos europeus de suas reservas, a maioria reside nos grandes centros urbanos de Santiago, Concepción, Valparaíso, Temuco e Valdivia. Na Argentina, residem nas províncias de Buenos Aires, La Pampa
, Neuquén, Río Negro e Chubut e, de acordo com os últimos censos, a população mapuche na Argentina gira em torno 250 mil e no Chile por volta de 1 milhão.

‘Nação Originária Mapuche’


"Com a criação das repúblicas do Chile e da Argentina, passamos a ser um povo separado em dois países. Não somos mais considerados uma nação". (Elba Guillermina Soto Veloso)

Os Mapuche consideram que o estado chileno e argentino saquearam a ‘Nação Originária Mapuche’ em 95% de seu território histórico. Esta imensa área é atualmente ocupada por grandes grupos econômicos ou latifundiários descendentes de colonos de origem européia. Apesar de todos os esforços governamentais de políticas integracionistas os Mapuche preservaram seu idioma, sua religião e estrutura político-social que regulam o funcionamento das reservas indígenas onde foram forçados a viver desde o início do século XX.

Políticas agrárias

No início dos anos 70, as reivindicações do movimento mapuche encontraram eco nas diretrizes da Reforma Agrária realizada pelo governo de Salvador Allende (1970-1973), mas, no final dessa década, a ditadura que derrubou esse presidente socialista truncou o processo.
Um decreto, de Pinochet, permitiu a divisão das terras comunitárias para incorporá-las ao mercado e estabeleceu que “uma vez liquidado o conceito de comunidade, deixariam de ser terras indígenas, e indígenas seus habitantes”. Após a ditadura, houve uma aproximação entre o governo de Patricio Aylwin (1990-1994) e o povo mapuche, sendo promulgada, em 1993, a Lei indígena em vigor e criada a ‘Corporação Nacional de Desenvolvimento Indígena’ (CONADI). A lei reconhecia a sociedade mapuche ‘como pluriétnica e multicultural’ e fazia “com que toda sua institucionalidade política, econômica e social em matéria de saúde e educação seja o reflexo da realidade multicultural subjacente na base social”, como afirmou o diretor nacional da CONADI, Aroldo Cayún.

Movimento Mapuche

As terras, para os mapuche, são da comunidade e ela é que decide onde, o que plantar e onde morar. Este conceito foi respeitado na reforma agrária desencadeada pelo presidente Allende, mas Pinochet dividiu a terra entre as pessoas da comunidade e os mais antigos consideraram que essa partilha afetou sobremaneira seus costumes, sua maneira de pensar e de se organizar.

Em resposta à política agrária de Augusto Pinochet, nasceu o movimento mapuche, na década de 80 do século passado, com o objetivo de defender as terras comunitárias. Em 1990, é criado o ‘Conselho de Todas as Terras’ que vem promovendo, desde então, diversas manifestações contra empresas florestais e de energia. O movimento se tornou cada vez mais violento, com ocupações de terrenos, manifestações contra a construção da hidrelétrica de Ralco e provocando incêndios nas plantações de empresas florestais e, talvez, graças a isso, os fundos estatais de compras de terras para as comunidades aumentaram significativamente desde então.
Atualmente, o movimento já não reivindica terras, mas territórios. O que os coloca em confronto direto com as multinacionais da mineração, da energia e do papel. A ‘Coordenação Arauco Malleco’, assegura que “nos encontramos em uma conjuntura histórica de extinção ou continuidade cultural, social e territorial, ou seja, entre a vida ou a morte de nosso mundo mapuche”.

O cacique Mapuche Aucán Huilcamán proclamou no ‘Consejo de todas las Tierras’: “Queremos proclamar e reafirmar o direito à livre determinação indígena em todas suas manifestações: política, jurídica, institucional e econômica”. Os mapuche dizem que sua luta, hoje, não é pela simples demarcação de terras, mas pelo direito de autogestão a elas e que ambicionam governá-las de acordo com suas tradições, à parte das leis dos Estados Nacionais, embora digam que querem continuar pertencendo a eles.

Mapuche não é um chileno


“Mas no país ainda prevalece o discurso da unidade na igualdade: que o indígena é mais um chileno. É importante que o mapuche seja identificado como outro e não como igual. Essa alteridade – uma relação em que mapuche e chilenos reconheçam a diversidade – é fundamental para tornar a interlocução possível”, comenta Elba Soto autora de ‘Sonhos e lutas dos mapuche do Chile’.

Conclusão

Os movimentos separatistas ganham força hoje "quando as diferenças econômicas e sociais mais se aprofundam e as mudanças vêm sendo feitas sem preocupações com o social e o cultural, e as forças centrífugas, em momentos de crise aguda, suplantem as forças centrípetas, e se leve o país à dissolução". (As raízes do Separatismo no Brasil, Manuel Correia de Andrade).

Coronel de Engenharia Hiram Reis e Silva, professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA)
Rua Dona Eugênia, 1227
Petrópolis - Porto Alegre - RS - 90630 150
Telefone:- (51) 3331 6265
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E-mail: hiramrs@terra.com.br

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