quinta-feira, 26 de junho de 2008

Manchete do "Tribuna da Imprensa" de hoje...


União Européia defende "novo conceito" sobre soberania na Amazônia

GENEBRA - A União Européia (UE) apela para um "novo conceito" de soberania ao se tratar de meio ambiente, mudanças climáticas e conservação de florestas tropicais. Ontem, durante o Fórum Global Humanitário que ocorre em Genebra, na Suíça, o comissário de Política Externa do bloco europeu, Javier Solana, defendeu a adoção de uma "soberania responsável" por parte dos governos, inclusive daqueles de economia emergente.
"Esse é um termo que precisamos começar a pensar de forma séria. O que eu queria dizer com isso é que precisamos pensar que o que ocorre num país não afeta só aquele país e aquele povo, mas todo o mundo. Por isso, precisamos agir juntos. Mas isso também exige que todos os líderes sejam responsáveis, não só pelo que ocorre com seu país, mas responsáveis pelas conseqüências de suas ações em outros países", explicou Solana.
Na platéia do evento, organizado pelo ex-seretário-geral da ONU, Kofi Annan, o conceito de "soberania responsável" proposto por Solana foi interpretado como um alerta de que nenhum país pode continuar clamando por sua soberania se não der provas de que é responsável.
Mas ele mesmo esclareceu que não está falando de "nenhum tipo de intervenção na Amazônia". "Não vamos confundir as coisas", alertou. "Por anos, o interesse ambiental foi considerado por algumas vertentes no Brasil como mais uma dimensão da cobiça estrangeira pela Amazônia."
Mas a realidade é que especialistas e políticos de vários países estão em estado de alerta com o que ocorre no Brasil. Rajendra Pachauri, prêmio Nobel da Paz e presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), afirmou que acaba de retornar do Brasil "preocupado" com a situação na Amazônia.
"Tive encontros com Marina Silva e no Senado. Tenho a impressão de que as coisas não vão bem. O ritmo de desmatamento aumentou nos últimos meses. Isso não é um bom sinal e aponta que os esforços não estão dando resultados", afirmou.
Jeffrey Sachs, professor da Universidade de Columbia, nos EUA, é outro que pede "mudanças estruturais no Brasil". "O desmatamento da floresta amazônica se acelerou nos últimos anos, quando nós pensávamos que já estava controlado", alertou.
"Todos queremos que o Brasil se desenvolva, mas só vai conseguir isso mantendo sua floresta. O padrão de desenvolvimento precisa mudar", disse. "O Brasil fornece muitas das matérias-primas que o mundo se deu conta de que precisará cada vez mais nos próximos anos, como minerais, soja, carne e outros. Mas o que o Brasil precisa entender é que se a Amazônia for seriamente afetada, será a própria economia brasileira que sofrerá no futuro próximo", adiantou.
Para Solana, um acordo internacional sobre o clima precisa ser fechado até 2009. Ele defende, porém, que todos os governos aceitem metas de redução de emissões de CO2, inclusive os emergentes. "Todos somos responsáveis, e metas de corte de emissões devem ser válidas para todos, com diferenciação", disse.
Ele admite que os governos das economias emergentes apenas vão aceitar um acordo quando tiverem garantias de acesso às tecnologias dos países ricos. Para Sachs, os países ricos gastam ainda pouco em energia renovável. "Nos Estados Unidos, esse gasto foi de US$ 3 bilhões em 2007, o equivalente a 36 horas do que gasta o Pentágono", concluiu.

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